Era apenas mais um treino mas foi tudo menos um treino: na fase inicial da sessão de trabalho do Vasco da Gama esta manhã, um grupo de adeptos da claque Ira Jovem invadiu o centro de treinos em protesto com os recentes resultados da equipa. Os jogadores que estavam no relvado foram os primeiros visados, sendo que pouco depois também Sá Pinto surgiu no relvado. Após um curto bate-boca com um dos presentes por um aparente mal entendido (foi-lhe dito que tinha referido que estava tudo bem no Vasco da Gama, algo que o próprio desmentiu de imediato), o técnico português ouviu as opiniões partilhadas e saiu depois em defesa do plantel vascaíno.

Vasco de Gama de Sá Pinto volta a perder em casa. Desta vez foi eliminado da Taça sul-americana

“Não vejo ninguém a não ser profissional, a não dar tudo em campo, a não dar aquilo que sabe”, começou por garantir Sá Pinto, enquanto um dos elementos do grupo continuava a criticar a política do clube, uma expressão várias vezes utilizada desde a entrada no centro de treinos. “Pela minha felicidade, não vejo esta gente facilitar em nada. Durante a semana, no trabalho, na alimentação, no descanso, na vida privada, tenho um grupo fantástico! Eu sou o máximo responsável, também sou o primeiro quando não tiver condições a ir embora… Mas calma, calma, nós temos condições”, continuou o treinador português, explicando o porquê dos resultados.

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“Há aqui um conjunto de fatores que também se tem de perceber e que não têm sido favoráveis. Muitos jogos que não ganhámos também porque tivemos muito azar, foi em detalhes”, prosseguiu, sendo depois interrompido por um dos adeptos que justificou os insucessos também com a falta de determinação, compromisso e entrega. “Ouve o que estou a dizer, tem outras coisas…”, disse ainda, antes de ouvir os pedidos para que a equipa consiga ganhar o próximo jogo, um dos dérbis do Rio de Janeiro frente ao Fluminense.

“Mais uma vez, Ricardo, nada contra a sua contratação. Antes da sua contratação foi passado um vídeo do senhor cobrando dos jogadores, cobrando das arbitragens, não era chutando o balde. É isso que nós queremos ver em campo. Não é fazer uma substituição porque ele está a jogar ruim, não teve produtividade no campo e depois dar uma tapinha nas costas”, tinha dito antes um dos líderes do grupo que se deslocou ao centro de treinos.

“Apoiamos, avisamos e cobramos. Vocês não nos deram ouvidos e fugiram do maior património, que somos nós, a torcida. Hoje fizemos uma visita surpresa no CT [Centro de Treinos]. Galinha de casa não se corre atrás. A diretoria da Torcida Organizada Ira Jovem Vasco vem mostrar total comprometimento com a instituição Club De Regatas Vasco Da Gama e externa todo seu descontentamento com a atual fase vivida e com o péssimo rendimento e comprometimento de jogadores e comissão técnica com a instituição. Não aceitaremos outro resultado do que a vitória contra o Fluminense. Exigimos uma recuperação imediata no Campeonato e não aceitaremos mais esta zona. A IRA da torcida se dá pela DISPOSIÇÃO dos seus componentes. Pelo Vasco, para o Vasco e com o Vasco!”, escreveu depois a claque Ira Jovem, justificando a ida ao local onde a equipa se preparava para o treino.

“Nesta quinta-feira, integrantes de uma torcida organizada invadiram o CT do Almirante durante o treinamento do time profissional. O Club de Regatas Vasco da Gama compreende a insatisfação de seus torcedores e entende que os resultados em campo estão aquém do esperado mas é absolutamente injustificável que jogadores e comissão técnica sejam ameaçados e intimidados em seu local de trabalho. O futebol brasileiro já deu inequívocas provas de que este tipo de ação, além de ilegal, não surte qualquer efeito prático positivo. Providências já foram tomadas para que episódios como o desta quinta não voltem a se repetir. O Vasco reafirma que atletas, comissão técnica e diretoria estão comprometidos e empenhados em reverter a situação no Campeonato Brasileiro”, respondeu também em comunicado a Direção do Vasco da Gama.

Desde que assumiu o comando do Vasco da Gama, Ricardo Sá Pinto tem apenas duas vitórias e cinco empates em 12 jogos. Na última semana, a equipa perdeu em casa na segunda mão dos oitavos da Taça Sul-Americana frente ao Defensa y Justicia, sendo eliminado da competição, e foi goleada em Porto Alegre pelo Grémio – o que levou mesmo os dirigentes a pedirem um reforço de segurança no Aeroporto Internacional Tom Jobim, apesar de não ter havido qualquer tipo de concentração ou problema no local. No domingo, o conjunto do Rio de Janeiro, que está no 17.º lugar do Campeonato em zona de descida, recebe o Fluminense, atual quinto classificado. Um dos problemas que o técnico português tem enfrentado são os vários casos de Covid-19 que têm assolado o plantel vascaíno, sendo que o próprio treinador falhou dois encontros por estar também infetado.