A Câmara de Évora aprovou um voto de pesar pela morte do agente da PSP António Doce, ocorrida no passado fim de semana, na cidade, vítima de atropelamento quando intervinha num caso de violência doméstica.

Em comunicado enviado esta quinta-feira à agência Lusa, o município alentejano indicou que a proposta de voto de pesar foi apresentada na mais recente reunião de câmara pelo presidente da autarquia, Carlos Pinto de Sá, e aprovada por unanimidade.

No documento, os eleitos na Câmara de Évora “expressam a sua dor e sentidas condolências à família enlutada pela perda irreparável, estendendo ainda este voto de pesar à Polícia de Segurança Pública, colegas, amigos e aos profissionais de saúde que lutaram com ele até ao fim”.

A moção realça que “não foram só a defesa do Estado de Direito, o espírito de missão e a deontologia profissional que lançaram o agente da Polícia de Segurança Pública António Doce na tentativa de travar mais um episódio deste triste e condenável flagelo”.

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Nos momentos dramáticos em que António Doce se viu confrontado com uma situação de violência gratuita na via pública, desavergonhadamente despojada do pudor que conserva a ignomínia dentro de portas, foram também os valores humanistas, a profunda indignação e a solidariedade que o precipitaram no resgate daquela mulher humilhada, despojada de dignidade e indefesa”, lê-se no documento.

Para os eleitos, o agente da PSP falecido “pagou um preço elevado com a própria vida pelos valores que jurou defender. Pagou com a própria vida por não se ter conformado com a opressão movida pelo agressor a outro ser humano. Pagou, enfim, com a própria vida pela revolta de também ele ser filho, marido e pai”.

A moção destaca ainda que “nesses instantes trágicos, António Doce defendeu de forma abnegada o Estado de Direito e a Constituição na condenação da violência doméstica, engrossando a voz daqueles que são diariamente silenciados”.

O agente da PSP, de 45 anos, morreu na madrugada de domingo, às 00h54, no Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE), horas depois de ser atropelado por uma viatura alegadamente conduzida por um homem suspeito de agressões contra a companheira.

De acordo com a PSP, o agente do Comando Distrital de Évora da Polícia não estava de serviço, no sábado, mas, às 21h45, no Rossio de São Brás, interveio numa situação de violência doméstica, acabando por ser atropelado pelo alegado agressor.

O suspeito é um guarda prisional, de 52 anos, que terá fugido e foi intercetado mais tarde pela GNR, já no concelho de Sintra (Lisboa), segundo disse o Comando Nacional da PSP, em comunicado divulgado no domingo.

Presente pela Polícia Judiciária a um juiz de Instrução Criminal, na segunda-feira, em Évora, foi-lhe aplicada a medida de coação mais gravosa, a prisão preventiva.

O suspeito “está indiciado da prática de três crimes”, mais precisamente “homicídio qualificado, violência doméstica e ofensas à integridade física”, estando a aguardar o desenrolar do processo judicial no Estabelecimento Prisional de Évora.

Um comunicado publicado na página de Internet do Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Évora indica que o juiz de Instrução Criminal aplicou a prisão preventiva ao suspeito por entender verificar-se perigo de fuga, de continuação da atividade criminosa e de perturbação do inquérito e para a aquisição da prova”.

Segundo o comunicado, o arguido, na sequência de ofensas físicas e verbais em que se envolveu com mulher que o acompanhava, “desferido um murro atingindo outro indivíduo” que tentou defende a companheira.

Posteriormente, acrescenta, conduziu o seu veículo, “imprimindo velocidade” e direcionando-o “intencionalmente contra um outro indivíduo”, que acorrera também em defesa da mulher, “atingindo-o frontalmente e arrastando-o por 41 metros, provocando-lhe lesões que determinaram a sua morte”.