Os sinais de alarme começaram a surgir na semana de 4 a 10 de janeiro e passaram a soar bem mais alto logo a seguir, entre 11 e 17. A soar, em muitos parâmetros, como nunca tinha acontecido ao longo de dez meses de pandemia. De tal forma que os habituais registos nacionais quase passaram para segundo plano perante a subida a pique do país nos rankings globais: de acordo com o Our World in Data, Portugal tornou-se o segundo país do mundo (apenas atrás de Israel) com a maior média de novos casos de Covid-19 por milhão de habitantes, bem como o quarto país do mundo com mais mortes por milhão de habitantes, atrás de Rep. Checa, Reino Unido e Eslováquia.

Covid-19. Portugal é o país europeu com mais casos por dia. Em termos mundiais, somos o 2.º pior país

O que motivou essa subida? Os números registados na última semana explicam grande parte das razões, tendo em conta que se bateram vários registos máximos desde o início da pandemia. Mas existem outros dados que se podem alargar aos 18 primeiros dias de 2021 e, de forma comparativa, a toda a pandemia. Exemplo prático: o Alentejo chegou aos 9.173 casos registados em 276 dias, duplicando depois esses números apenas em… 28 dias.

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A realidade do ano de 2021 em Portugal: 5,5 infetados por cada minuto

A semana de 16 a 22 de novembro tinha sido a que registara mais casos em sete dias desde o início da pandemia, num total de 43.457 novas infeções, uma média de 6.208 a cada 24 horas. A partir daí, houve cinco semanas consecutivas em que o número total de novos casos desceu, antes de uma ligeira subida entre 28 de dezembro e 3 de janeiro. Depois, num ápice, o registo semanal passou de 32.681 para 56.436 contágios. E disparou agora na semana que terminou, com um total de 66.112 infeções (um registo máximo e com larga margem em relação a tudo o que se passara antes). Em apenas 18 dias de 2021, juntando já os 6.702 casos do boletim desta segunda-feira, Portugal teve em média 7.934 casos por dia, valor que nunca tivera em nove meses de pandemia, num total de cerca de 330 novos casos por hora e, mantendo a mesma lógica, mais 5,5 novas infeções por minuto.

Portugal tem mais 5,4 internamentos por hora desde o início do ano

Na última semana do ano, dando prolongamento a uma descida constante ao longo de três semanas na pressão hospitalar que fez baixar o número de internamentos em quase 400 pessoas, Portugal voltou a baixar a fasquia dos 3.000 internados, algo que já não acontecia desde meio de novembro. De seguida, no final da primeira semana de 2021, registou-se um ligeiro acréscimo de 174 casos, equivalente a uma subida de 5,7% (inferior ao que se passou em setembro ou outubro, por exemplo). Mas agora, o cenário agravou-se a uma velocidade nunca antes vista ao longo da pandemia com os dois maiores crescimentos semanais de sempre: 726 de 4 a 10 de janeiro, 1.119 de 11 a 17 de janeiro. Ou seja, e só em 15 dias, houve um acréscimo de internamentos de 37,7%. Mais: juntando os 276 novos internamentos do boletim desta segunda-feira, Portugal teve de forma contínua nos primeiros 18 dias de 2021 um acréscimo de 5,4 internamentos por hora, passando pela primeira vez a barreira dos 5.000 (5.165).

A barreira dos 100 mortos foi ultrapassada. Na última semana, a média foi de 151 por dia

Na primeira vaga da pandemia, Portugal teve o máximo de óbitos por semana a meio de abril: 30 por dia. Entre junho e outubro, os números caíram a pique para sete nas piores semanas, estabilizando durante várias semanas nas três vítimas diárias por Covid-19 e havendo mesmo no início de agosto o primeiro dia sem óbitos a registar. Sobretudo a partir de novembro, os números voltaram a crescer bastante, com a semana entre 7 e 13 de dezembro a ser a mais negra até aí na pandemia, com uma média de 85 mortes diárias. Houve de seguida uma ligeira descida, antes de um período de nova subida sem precedentes, com o pico máximo a ser registado entre 11 e 17 de janeiro, com uma média de 151 mortes por dia, mais 53 do que na semana anterior (que também tinha sido recorde). A barreira dos 100 mortos em 24 horas foi superada, na última semana bateram-se todos os recordes e esta segunda-feira houve o número máximo de óbitos, 167. Em 18 dias de 2021, a Covid-19 fez 2.122 vítimas. Cinco por hora.

O dobro dos casos ativos nas duas semanas em que houve mais recuperados e mortos

A evolução do número de casos ativos é talvez o espelho mais fiel para a realidade de novas infeções em Portugal, onde existe um caso positivo por cada cinco testes feitos e um aumento exponencial na procura dos laboratórios que se explica pela subida das pessoas que estiveram em contacto com casos suspeitos e/ou de risco. Nas últimas seis semanas de 2020, e depois de ser chegado à barreira dos 90.000 casos ativos, esse valor foi sempre descendo até 72.496 no último dia do ano (e chegou a estar abaixo dos 70.000). A 3 de janeiro, um domingo, subira para 77.601. Duas semanas depois, chegou aos 134.011, tendo passado a barreira dos 135.000 esta segunda-feira. Ou seja, e contas feitas, mesmo no período em que houve em média mais mortos e mais recuperados, Portugal tem nesta altura quase o dobro dos casos ativos (mais 46,7%) que tinha no final de 2020.

O exemplo do Alentejo: tantos casos em 276 dias como nos últimos… 28

Apesar de ser a segunda região com mais casos na última semana, atrás de Lisboa e Vale do Tejo, o Norte acaba por ser uma exceção dentro de uma regra bem percetível nos últimos sete dias: a média de 3.044 novos casos por dia representa a quarta pior semana desde o início da pandemia, atrás das três primeiras semanas de novembro, onde a região chegou a ter uma média superior a 3.600 casos/dia. Em todas as restantes regiões, incluindo Açores e Madeira, a última semana trouxe valores máximos de casos, em alguns casos quase o dobro do que se registava no primeiro domingo de janeiro, dia 3 (Lisboa e Vale do Tejo ou Centro). No entanto, é no Alentejo que se concentra a maior subida entre todas as regiões: passou de 1.438 na semana que acabou no dia 3 de janeiro, para 3.094 novos casos entre 4 e 10 de janeiro e para 3.423 novos casos entre 11 e 17 de janeiro. Esta segunda-feira, o Alentejo tem 18.458 casos registados de Covid-19, a 21 de dezembro tinha 9.173 – ou seja, a última região a ter casos positivos (18 de março) demorou 276 dias para chegar aos 9.173 casos mas apenas 28 dias para atingir o dobro (18.458).

Número de mortos por dia quadruplicou no Algarve e triplicou no Centro

O aumento de número de óbitos por dia pelo novo coronavírus teve especial impacto em algumas regiões, sendo que, também aqui, o Norte foi a única exceção: tem vindo a aumentar nas últimas três semanas, mas esse crescimento é inferior ao que se passou entre meio de novembro e o início de dezembro. Em todas as outras, excetuando os Açores que registaram um óbito em 2021 por Covid-19, a última semana voltou a ter registos máximos desde o início da pandemia, em particular no Algarve e no Centro: no Algarve, que na última semana de dezembro teve apenas um óbito, houve um aumento de oito a 3 de janeiro para 31 a 17 de janeiro, quatro vezes mais apenas em duas semanas; no Centro, que teve 84 óbitos entre 28 de dezembro e 3 de janeiro, registaram-se agora 233 entre 11 e 17 de janeiro, quase três vezes mais apenas em duas semanas. Em Lisboa e Vale do Tejo, houve também uma subida de mais do dobro no mesmo lapso nas mesmas duas semanas, passando de 180 para 446 por semana.

Contactos em vigilância quase duplicaram apenas em 18 dias

A evolução dos contactos em vigilância por semana não acompanhou a linha de crescimento de novos casos das duas últimas semanas de dezembro. Ou seja, enquanto o número de novos casos registados sofria um decréscimo ligeiro, o número de contactos em vigilância ia subindo na ordem dos 8.500 a 9.500 casos por semana após cerca de um mês a cair. Agora, acompanhando a subida a pique no número de novas infeções, as duas últimas semanas tiveram acréscimos recorde, em especial entre 11 a 17 de janeiro, em que houve mais 43.910 contactos em vigilância, o dobro da semana entre 4 a 10 de janeiro (mais 22.816). Somando a subida de 5.115 desta segunda-feira, Portugal passou de 88.534 para 166.235 contactos em vigilância em 18 dias, um aumento de 46,7%.