Nos últimos dias, a região da Andaluzia, no sul de Espanha, tem sido abalada por centenas de sismos, com a maioria deles a serem sentidos perto da cidade de Granada. Só na noite de terça-feira foram registados mais de dez tremores de terra com epicentro nas localidades de Santa Fé, Atarfe e Cúllar Vega, a cerca de 10 quilómetros da cidade espanhola, um deles com a magnitude de 4,3 na escala de Richter.

Segundo os especialistas espanhóis, refere o jornal El País, a zona sul de Espanha é particularmente propensa à atividade sísmica porque está assente em falhas tectónicas abertas dentro da placa euroasiática à conta das pressões exercidas nesta pela placa africana.

Os mesmos especialistas apontam que a cada ano que passa a Europa e a África ficam mais próximas quatro a cinco milímetros, por culpa dos movimentos da placa africana contra a placa euroasiática. Apesar desses movimentos contínuos não terem efeitos sísmicos de imediato na superfície, a energia resultante dos mesmos é acumulada em profundidade que, periodicamente, é libertada para a superfície por meio de terramotos.

Além disso, quando uma placa se move, as outras que estão ao redor também se movem, causando uma sequência de terramotos consecutivos. É esta a explicação para o que se passa atualmente na cidade de Granada. Um movimento gera outro, até, neste caso, uma sucessão de centenas de sismos em poucos dias.

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Mas para entendermos como é que este fenómeno pode influenciar a atividade sísmica em Portugal Continental, devemos concentrar-nos na placa euroasiática e na placa africana. O território continental português, tal como Espanha, está assente nestas duas placas que roçam uma na outra num limite a que os geólogos chamam transformante, isto porque não destrói nem cria nova crosta terrestre.

Este movimento influencia sobretudo a microplaca ibérica onde Portugal se insere e cujo limite abrange exatamente a cidade de Granada. Esta microplaca movimenta-se para leste, soldando-se à placa asiática, mas é também influenciada pela placa africana, que exerce pressão para noroeste.

À medida que a placa africana se movimenta, ela comprime a microplaca ibérica e cria as chamadas falhas intraplaca. É esta compressão que está na origem da Cordilheira Bética, um conjunto de sistemas montanhosos com 600 quilómetros que rasga o sul da Península Ibérica desde o estreito de Gibraltar até Cabo da Nau (Alicante).

Em 2018, Pedro Proença Cunha, geólogo da Universidade de Coimbra, explicou ao Observador que as pressões da placa africana sobre a microplaca ibérica, colocam Portugal Continental à mercê de cada vez mais falhas tectónicas, uma vez que a microplaca sofre um levantamento da camada litosférica, originando falhas onde se acumula energia. E mais energia traduz-se não só num maior número de sismos como também na existência de sismos com maior magnitude.

Na altura, o geólogo indicou que nos últimos milhares de anos, essa compressão vinha a aumentar cada vez mais, resultando no aparecimento de mais falhas no país.

A placa africana está a rachar o país e mais uma dúzia de dúvidas sobre sismos

Esta foi a grande causa do sismo de magnitude 4,9 na escala de Richter sentido em Arraiolos há três anos. Foi o maior sismo com epicentro em terra nos últimos anos em Portugal Continental. Até aí a falha na origem desse tremor de terra não era conhecida dos geólogos.

Apesar de não ser possível antecipar qualquer sismo, os mais recentes acontecimentos em Granada podem dar pistas para fenómenos que possam atingir o território português no futuro.