Gaël Monfils é um dos tenistas mais experientes do atual circuito, um dos nomes da modalidade mais reconhecidos nos últimos 15 anos e um dos atletas mais respeitados no universo do ténis — mesmo sem nunca ter chegado a uma final de um Grand Slam. Atingiu o pico da carreira em 2016, quando chegou a ser sexto no ranking ATP, e aos 34 anos faz parte de uma geração que está agora a servir de ligação entre o passado, o presente e o futuro do ténis. À parte tudo isso, porém, Monfils é conhecido pelo sorriso. É conhecido, garantidamente, por ser sempre um dos tenistas mais sorridentes de todos os torneios.

E é por esse fator, por ter quase sempre um sorriso na cara, que a última conferência de imprensa do tenista francês foi tão impactante. Depois de ser eliminado na primeira ronda do Open da Austrália, ao fim de cinco sets e pelo finlandês Emil Ruusuvuori, Monfils surgiu na sala de conferências de imprensa e não conseguiu conter as lágrimas. O francês, número 11 do mundo, tinha acabado de perder com o número 86 — para além de ter sofrido a sétima derrota consecutiva desde a retoma do ténis, no ano passado, estando sem vencer qualquer partida desde fevereiro de 2020.

“Gostava de sair deste pesadelo. Vou dizer aquilo que a minha mãe diz sempre: ‘Tens de continuar a treinar, as coisas vão melhorar'”, disse Monfils, que baixou a guarda quando respondeu às perguntas da comunicação social francesa, deixando o inglês para falar na língua materna. “Não tenho confiança, sinto-me mal. Jogo mal, não consigo servir, não consigo bater uma direita. Falho, estou seis metros atrás da linha e mando a bola à rede. Porquê? Não sei. Por muitas coisas, tenho as minhas razões. Sou honesto, digo que não tenho confiança, isto vai levar o seu tempo”, explicou o tenista, que em seguida pediu paciência.

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“Sinto-me julgado e peço um pouco de clemência. Sim, perdi muito. Tento, trabalho, mas não consigo. Gostava de me levantar e de dizer que este pesadelo terminou, mas estou aqui. Se acontecer outra vez para a semana, começarei de novo. Não sei quando isto vai terminar. Quando uma pessoa cai, não atirem sobre ela”, completou Monfils, que em 2020 até começou muito bem o ano, ao ganhar os torneios de Marselha e Roterdão, mas não conseguiu prolongar o momento de forma até à retoma depois da paragem motivada pela pandemia.

Dominic Thiem, o rapaz que era demasiado educado para ser tenista e agora é o “príncipe da terra batida”

Tudo isto, de forma algo estranha, surge poucos dias depois de o novo treinador do francês garantir publicamente que este tinha capacidade para ganhar um Grand Slam a breve prazo. “Pode ganhar um Grand Slam, não tenho dúvidas. É um super atleta e tem muitíssimo talento. Tem magia nas suas pancadas e a cada ano que passa protagoniza uns quantos vídeos no YouTube. O seu êxito tem sido modesto para o potencial que tem, mas já chegou às meias-finais em Roland Garros e no Open da Austrália. É um tipo diferente, não é um David Ferrer, que luta continuamente. Ele também desfruta a ser criativo”, disse Günter Bresnik, o austríaco que treinou Boris Becker e Patrick McEnroe e que, mais recentemente, foi um dos grandes responsáveis pelo sucesso de Dominic Thiem. Bresnik foi treinador de Thiem desde que este tinha oito anos mas a parceria dissolveu-se em 2019 e sob termos pouco amigáveis.