Em quatro jogos na Liga dos Campeões, marcou seis golos. Em 16 jogos na Bundesliga, marcou 15 golos. No total da Champions, realizou 12 jogos e marcou 16 golos. No total das competições europeias, fez 18 jogos e marcou 20 golos. Erling Haaland tem apenas 20 anos mas números que nem Ronaldo nem Messi conseguiram. Aliás, um dos poucos termos de comparação é mesmo Kylian Mbappé, que na véspera teve a melhor exibição na principal prova europeia com um hat-trick em Camp Nou frente ao Barcelona. Em Sevilha, todos os holofotes estariam apontados ao norueguês, até por forma a perceber até que ponto conseguiria continuar a destacar-se na Liga milionária. É que, não jogando no PSG nem sendo campeão mundial, tem os mesmos olheiros a segui-lo.

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Durante a pandemia, Florentino Pérez aplicou no Real Madrid o mesmo plano que gizara para a sua empresa, a gigante ACS: vendeu alguns ativos, reduziu dívida, aumentou a liquidez de tesouraria e não fez contratações para a presente temporada. Provavelmente pensaria que a equipa iria estar melhor nesta fase na Liga (e na Taça do Rei, onde foi eliminado pelo modesto Alcoyano) mas “jogou” com a última fase do projeto que leva há 20 anos para o clube com uma interrupção pelo meio – a remodelação do Santiago Bernabéu, uma obra que na sua totalidade já passou os 500 milhões de euros mais os juros que terão de ser liquidados pelo empréstimo contraído no Merrill Lynch e no JP Morgan. Em 2022, a revolução estará completa mas a rentabilidade daquele que será o estádio mais moderno do mundo depende da parte desportiva. Aqui entram Mbappé e Haaland.

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Mbappé é há muito uma espécie de sonho proibido em Madrid, até como sucessor do ídolo Ronaldo. No entanto, o contexto para uma chegada do francês já foi mais propício, tendo em conta os projetos do PSG em apresentar uma proposta milionária de renovação apoiada com um plantel cada vez mais competitivo para ganhar a Champions. Não é uma batalha perdida mas complicou-se. Quem é o outro jovem na lista das grandes promessas da próxima década? Haaland. Nos programas televisivos dedicados ao futebol como o El Chiringuito ninguém tem dúvidas que haverá pelo menos uma grande contratação; na imprensa escrita, desportiva ou generalista, já se fazem as contas à operação, como o ABC que aponta para os 90 milhões pelo norueguês ainda com possibilidade de fazer entrar no negócio os passes de Jovic e/ou Mariano. Também por isso a prova europeia ganhava outro “peso”.

“O meu sonho foi sempre jogar na Liga dos Campeões e, quando fui para o Salzburgo, sabia que se ganhássemos a liga teríamos entrada direta na fase de grupos. Quando aconteceu, pensei ‘Ok, este vai ser o meu ano’. Começou da melhor forma e foi algo especial, tudo o que aconteceu. Foi aí que a estrela começou a brilhar, se podemos dizer. Na estreia marquei logo três golos… Recorde do mais novo a marcar em cinco jogos seguidos e oito golos nos cinco jogos iniciais na Champions? Honestamente, não tinha ideia desses recordes… Só tentei fazer o meu trabalho e o meu trabalho é marcar”, contou numa entrevista à UEFA, no mesmo dia em que também a CNN, depois de muitos outros meios, quis fazer um trabalho sobre as origens e os objetivos do dianteiro norueguês.

Em Sevilha, bastou uma parte para Haaland mostrar que tem números que não são humanos com apenas 20 anos: depois de se ter tornado o mais novo a marcar em cinco jogos, o norueguês somou o quinto jogo esta temporada na Champions a marcar, tornou-se o mais rápido de sempre a chegar aos dez golos na competição pelo mesmo clube (sete jogos), manteve a senda de marcar a todos os adversários que encontrou na prova e chegou aos 41 golos pelo B. Dortmund… com apenas 42 jogos realizados. Três registos em mais uma noite de sonho que, se dúvidas ainda existissem, terá convencido Florentino Pérez a passar o cheque para garantir o jogador já para a próxima época. Se o presente tem Ronaldo e Messi, o futuro tem, com outras características, Mbappé e Haaland.

O Sevilha, que chegava a este encontro como a melhor equipa espanhola em 2021 (11 vitórias, um empate e uma derrota com o Atl. Madrid, sendo que levava uma série de nove vitórias consecutivas e as últimas sete sem sofrer golos), teve dez minutos quase perfeitos onde mostrou que tem chip para mais do que Liga Europa – competição que ganhou seis vezes noutras tantas finais nos últimos 15 anos – e chegou mesmo à vantagem por Suso, após um remate de fora da área que bateu ainda em Hummels e enganou Marwin Hitz (7′). No entanto, e mesmo estando numa fase inversa ao adversário com vários pontos cedidos na Bundesliga, o B. Dortmund mostrou fibra europeia muito assente na qualidade de Haalad, Sancho e Reus, verdadeiros quebra-cabeças para os andaluzes.

Já depois de uma grande iniciativa individual de Jadon Sancho, outro jovem talento que não ficará na equipa alemã por muito mais tempo, Haaland começou a abrir o livro mostrando a sua versatilidade de recursos na sequência de um lançamento lateral, recebendo mais descaído na esquerda para se desembaraçar de dois adversários com uma grande finta e assistir no corredor central Dahoud, que empatou com um remate de fora da área sem hipóteses para Bono (19′). Mas não ficaria aí: pouco depois, o norueguês teve mais uma arrancada pelo corredor central, fez uma tabelinha simples com Sancho e não falhou na cara do guarda-redes do Sevilha (27′). A reviravolta estava feita mas o show de Haaland ainda ia a meio, bisando ainda antes do intervalo após uma recuperação a meio-campo com assistência de Reus já depois de Bono ter desviado para canto outro remate com perigo (43′).

No segundo tempo, apesar de ter continuado a tentar esboçar o jogo de transições que tanta mossa criou durante a primeira parte, o B. Dortmund acabou por baixar linhas e gerir a preciosa vantagem para a segunda mão, com o Sevilha a melhorar com o passar dos minutos (e com a entrada de Óliver Torres) mas sem resultados práticos dessa maior pressão apesar de uma bola no poste de livre direto de Óscar Rodríguez sem hipóteses para Hitz e do 3-2 marcado por De Jong a cinco minutos do final na sequência de um livre lateral, num jogo que ficou definido em menos de meia hora, o tempo que Erling Haaland demorou para vestir o fato de herói, resolver o que havia para resolver na partida e deixar um cartão de visita aos grandes clubes da Europa.