A Liga estava na mão fechada, a Liga passou a estar numa mão aberta. Entre o deslize na Taça frente ao modesto Cornellà, o Atl. Madrid conseguiu nove vitórias, entre as quais oito a contar para o Campeonato na reação ao único desaire até então diante do rival Real. No final de janeiro, a história da Liga era não ter história, sendo que, com os jogos em atraso, os colchoneros poderiam chegar aos dois dígitos de vantagem sobre os adversários diretos. A pior fase, essa, estava a chegar. Ainda agora se mantinha. Em 12 pontos possíveis, o conjunto de Diego Simeone somou apenas cinco. E como acrescentava o Sport, a isso juntou-se uma viagem até à Roménia de quase quatro horas, a ausência de todos os laterais direitos, a necessidade de chamar três elementos da equipa B. “Não sendo sintomas graves, são sintomas que pedem uma cura”, escrevia a publicação. E esse era o desafio desta noite.

De regresso a Bucareste, onde o técnico argentino conquistou em 2012 o primeiro título no comando da equipa da cidade de Madrid com a Liga Europa, tudo poderia acontecer. Literalmente: olhando para as últimas cinco edições da Champions, os colchoneros chegaram à final em 2016, às meias em 2017, caíram para a Liga Europa (que depois viriam a ganhar) em 2018, ficaram nos oitavos em 2019 e atingiram os quartos em 2020. Na receção ao Chelsea, numa das eliminatórias teoricamente mais equilibradas dos oitavos presente temporada, a vitória na primeira mão era mais do que uma simples vantagem para a decisão mas sim um início de retoma numa fase mais complicada não apenas nos resultados mas também nas exibições com muitas ausências e à mistura. Para isso, todas as atenções estavam centradas em Luis Suárez, antigo avançado do Barcelona e grande reforço do Atl. Madrid.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“O Barcelona atirou-me fora, disseram que já não contavam comigo. Por norma, se tens um contrato com um clube, é normal que tentem vender mas não, indicaram apenas que não me queriam. Merecia mais respeito. Se não tivesse mostrado nada no Barça durante três ou quatro anos até podiam entender mas marquei mais de 20 golos todas as épocas, sempre tive boas estatísticas só atrás do Messi, cumpri o que esperavam de mim. Depois de tudo o que vivi e pela forma como saí, queria mudar. Foi complicado explicar aos meus filhos que tínhamos de mudar mas agora a minha família e eu já nos sentimos felizes e isso é o principal”, revelou à France Football.

“O mais importante é sempre a mente. É muito importante sermos fortes de cabeça, sentirmos que temos meios para reverter situações difíceis. Essa sempre foi uma das minhas características: nunca me rendi, nem nas fases mais difíceis. É uma questão de autoestima. Depois de todos estes anos em Barcelona, queria mostrar que ainda podia ser útil ao mais alto nível, dentro da elite espanhola”, acrescentou, justificando também a opção pela equipa de Madrid na semana em que Thomas Tuchel, antigo treinador do PSG que está agora no comando do Chelsea, admitiu que os franceses estiveram interessados após saber-se que estaria de saída dos blaugrana.

O alemão teve uma entrada positiva em Stamford Bridge como sucessor de Frank Lampard, com cinco vitórias e dois empates com dois golos sofridos em sete partidas. Um pouco à semelhança do ADN implementado por Diego Simeone no Atl. Madrid, esta versão 2.0 do Chelsea na presente temporada começou por estabilizar a equipa numa nova ideia tática e coletiva com três defesas, dois elementos a fazer os corredores laterais, dois médios box to box e dois jogadores de características ofensivas atrás do avançado, tentando explorar da melhor forma nomes com grande potencial e menor rendimento, casos de Timo Werner, Pulisic, Mount, Havertz ou Ziyech. E foi dessa forma que agudizou a crise do Atl. Madrid, com um grande golo de Giroud e um grande jogo de Mount perante um Luis Suárez perdido na frente de ataque de uma equipa em quebra acentuada a todos os níveis.

Num encontro que não teve muitas oportunidades e onde João Félix voltou a ter uma exibição esforçada no plano defensivo mas sem desequilíbrios no ataque, o único golo do encontro surgiu numa bicicleta de Giroud a meio da segunda parte, lance que começou por ser invalidado por posição irregular mas que, através do VAR, teve essa decisão revertida por ter sido Hermoso a tocar a bola antes do remate artístico do internacional francês (68′). E se os números nem sempre explicam um jogo, aquilo funcionam de forma paradigmática: os espanhóis correram até um pouco mais do que os ingleses mas os blues tiveram muito mais bola, muito mais remates e, sobretudo, muito mais passes, com Jorginho e Kovacic a dominarem por completo o meio-campo ao longo do jogo.