João Almeida estava na liderança da Volta à Catalunha e tinha por perto Fausto Masnada, nono na geral depois do contrarrelógio da segunda etapa, e James Knox, também ele da Deceuninck Quick-Step e também ele no top 20 da classificação. A partir daí, muitos protagonistas, muitas equipas, muitas opções de ataque ao primeiro lugar: Brandon McNulty, americano da Team UAE Emirates que tinha o mesmo tempo do português; Luis León Sánchez e Stefan de Bod, dois corredores da Astana que estavam no top 10 da geral; Steven Kuijswijk, holandês que contava com uma Jumbo-Visma sempre pronta para dar o máximo pelo chefe de fila; Lennard Kämna e Wilco Kelderman, os melhores posicionados da Bora. Até a Movistar e a EF Education tinham corredores capazes de mexer na corrida como Soler, Valverde, Enric Mas ou Rigoberto Urán. Depois, havia a Ineos. E era a Ineos e os outros.

O sonho continua: João Almeida faz terceiro melhor tempo do contrarrelógio e lidera Volta à Catalunha

O contrarrelógio acabou por deixar Richard Carapaz já a uma distância de 52 segundos da liderança mas até o equatoriano poderia mexer na corrida, estando atrás de nomes como Richie Porte, Adam Yates (ambos no top 6 da classificação, a seis e sete segundos de João Almeida), Geraint Thomas (oitavo, a 19 segundos) e Castroviejo (12.º, a 27 segundos). No limite, e depois da jornada fabulosa que teve no ano passado no Stelvio que valeria mais tarde a camisola rosa a Tao Geoghegan Hart no último dia do Giro, até Rohan Dennis podia colocar-se na frente da corrida para “levar” algum dos seus companheiros. A equipa de sonho da Ineos apresentava-se em força para os mais de 200 quilómetros (203,4km) que ligavam na terceira etapa o Canal Olímpico da Catalunha, que recebeu as provas de canoagem nos Jogos de 1992, e Vallter 2000, uma estância de esqui localizada já perto de Girona.

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“Senti-me bastante bem no contrarrelógio, as sensações foram boas. Agora os próximos dias têm muita montanha e vou dar o meu melhor para manter a camisola de líder, sabendo que não vai ser fácil. Veremos como estão os adversários mas tenho uma boa equipa a meu lado e vamos dar tudo o que temos”, comentou o português após tornar-se o segundo corredor nacional a estar na frente da Volta à Catalunha depois de José Freitas Martins, que conseguiu ser o melhor do prólogo da corrida de 1974 antes de fazer terceiro da geral no ano seguinte. E as contas eram fáceis de perceber olhando para o traçado de 2021: se João Almeida conseguisse aguentar o primeiro lugar ou uma posição entre os três primeiros nas etapas de quarta e quinta-feira, dificilmente perderia depois a oportunidade de garantir aquele que seria o segundo pódio da carreira no World Tour, depois do terceiro lugar na Volta aos Emirados, a que se seguiu uma mais do que meritória sexta posição no Tirreno-Adriático.

E se já se pensava numa tirada dura, a realidade foi ainda pior. Com Valverde a fintar outra vez a idade num ataque fortíssimo, com Nairo Quintana a ter uma saída fantástica do grupo dos primeiros, com Masnada a tentar tudo para aguentar João Almeida, com Carapaz a tentar três vezes o ataque, com o grupo a ficar cada vez mais pequeno sem que se percebesse bem quem tinha quebrado. Era nos últimos quilómetros que se iria decidir tudo, com Adam Yates a conseguir ganhar vantagem com uma saída que deixou os restantes rivais diretos pregados à estrada e com João Almeida a sair apenas com McNulty tentou também ir para a frente aproveitando um ataque de Kelderman. O ritmo podia levar a quebras no último quilómetro mas não havia outra hipótese no contexto que estava criado na subida de Vallter 2000 e a pouco menos de dois quilómetros Adam Yates chamou a si de vez os holofotes e foi embora para a vitória na etapa e liderança da prova enquanto lá atrás seguia tudo na roda de João Almeida, que na primeira etapa a subir mostrou que com outra equipa terá outras condições para lutar.

O português desceu assim à terceira posição, com a distância de 50 segundos para o britânico da Ineos e a cinco segundos de Richie Porte, outro corredor da Ineos que subiu ao segundo lugar da classificação geral. E como não há dois sem três, o quarto classificado é Geraint Thomas, a três segundos do português. Wilco Kelderman, holandês que trocou a Team Sunweb pela Bora esta temporada depois do episódio no Giro e da preferência por Jai Hindley que custou a vitória à equipa em detrimento da Ineos, subiu à quinta posição a 1.03 minuos de Adam Yates, seguindo-se Valverde (Movistar, 1.04), Hugh Carthy (EF Education, 1.16), Simon Yates (Team BikeExchange, 1.21) e Esteban Chaves (Team BikeExchange, 1.21).

Ainda assim, e apesar de ter perdido a liderança da Volta à Catalunha (mesmo sem sair do pódio), este foi mais um dia para João Almeida se mostrar ao pelotão internacional, numa altura em que são cada vez mais insistentes as notícias que o colocam a ser cobiçado por praticamente todas as maiores equipas além da Deceuninck Quick-Step, sendo que a Bora e a Team UAE Emirates levarão vantagem sobre outras formações como a Ineos, a Movistar, a AG2R-Citroen ou a Team BikeExchange. E a época ainda agora começou para o jovem português de A-dos-Francos que terá como ponto alto o regresso ao Giro entre 8 e 30 de maio, numa inversão ao que estava planeado pela equipa (ir à Volta a Espanha) mas que colocará de novo João Almeida entre os melhores.

Em atualização