De repente, tudo ficou virado do avesso. Numa altura em que já se jogavam os últimos instantes da partida contra a Sérvia, já no período de descontos, Cristiano Ronaldo antecipou-se ao guarda-redes depois de um cruzamento de Nuno Mendes e atirou para a baliza deserta. A bola, segundo as repetições, pareceu entrar na totalidade antes do corte do defesa sérvio; a equipa de arbitragem, que na qualificação para o Mundial 2022 não inclui o VAR, considerou que o golo não era válido. O capitão da Seleção Nacional ficou incrédulo, viu amarelo por protestos e saiu de campo ainda antes do apito final, atirando a braçadeira para o chão e sinalizando desde logo que, assim, não jogava mais.

Uma equipa que vai dos 100 aos 0 no espaço de um intervalo (a crónica do Sérvia-Portugal)

Fernando Santos, que compareceu na conferência de imprensa mais de meia-hora depois do final do jogo, acabou por revelar que o árbitro holandês Danny Makkelie lhe pediu desculpa. “Não tenho dúvidas nenhumas sobre o lance. O árbitro acabou de me pedir desculpa. Pediu desculpa dentro do campo, disse que eu tinha razão, depois de ver as imagens. É a segunda vez, num apuramento, que me pedem desculpa depois de um jogo. Disse-lhe que não é possível. Não é possível que, numa competição deste calibre, não exista VAR nem tecnologia de linha de golo. Foi o que ele me disse lá no campo, que era importante que houvesse. A bola estava meio metro dentro da baliza, não há nenhum obstáculo entre o fiscal e a linha de golo e ele devia ter visto, claramente. Acabou por me pedir desculpa mas isso não resolve o problema. Há que pensar, há que repensar um pouco. Os árbitros são humanos e erram mas é por isso que há o VAR”, disse o selecionador nacional, que garantiu não ter visto a reação de Cristiano Ronaldo e ainda acrescentou que o árbitro disse estar “envergonhado”.

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“Não vi. Estava tão ‘coiso’ com o golo que não vi o que aconteceu. Já me disseram que terá reagido menos bem. É a frustração total mas não vi o que fez”, completou Fernando Santos. Sobre o jogo em si, ainda na flash interview, o selecionador nacional garantiu não encontrar “explicação” para a quebra portuguesa na segunda parte. “Não tenho explicação, não consigo encontrar uma explicação. Tínhamos estudado a Sérvia, sabíamos que podiam jogar como fizeram na primeira parte mas que também podiam alterar, tinha alertado os jogadores, eles estavam precavidos para isso. A Sérvia entrou bem na segunda parte, fez um golo, depois empatou e a seguir ao empate Portugal reagiu bem, controlou bem a partida e voltou a criar oportunidades para marcar. No fim fizemos um golo, a bola estava meio metro dentro da baliza e devia ter sido validado. O resultado justo teria de contar esse golo. Claro que isto não elimina o que de menos bom fizemos, mas ter uma bola que entra mais de meio metro dentro da baliza e não é validada não é possível”, atirou.

Já Diogo Jota, que bisou pela segunda vez pela Seleção Nacional, disse na flash que “a primeira parte foi muito boa, a fazer dois golos na Sérvia”. “Estava feito o mais difícil. Na segunda parte eles também tiveram o seu mérito. Mudaram o sistema, marcaram logo nos primeiros minutos. Não os conseguimos conter. O que aconteceu não pode acontecer a este nível. Tentámos… Tivemos uma bola agora ao fim que nos podia ter dado a vitória. É o que é. Saímos daqui com um ponto”, explicou o avançado do Liverpool, que acrescentou que “isto não pode acontecer”. “Na segunda parte, estar 2-2, não pode acontecer. Temos de ser mais pragmáticos, matar o jogo e não permitir o contra-ataque. Temos de fazer algo diferente e que não volte a acontecer no futuro”, concluiu.

No meio de tudo isto, Portugal empatou na Sérvia — contra a equipa que, em teoria, vai discutir o apuramento direto com a Seleção — e desde a qualificação para o Mundial 2014 que não consegue duas vitórias consecutivas em apuramentos para fases finais de grandes competições. Além disso, esta foi já a quinta vez que Portugal desperdiçou uma vantagem de dois golos, sendo que a última ocasião tinha sido em 2018, num particular contra a Tunísia.