No seu espaço de comentário semanal, Luís Marques Mendes afirmou que a decisão do Presidente da República de promulgar os três decretos que implementam uma série de medidas urgentes de apoio social “não é uma derrota do Governo, mas é um aviso” de que é preciso “mais humildade” para dialogar com a oposição. 

Marques Mendes diz que “o Governo não terá gostado da decisão” de Marcelo mas ela era previsível — “o Presidente não é muito de enviar leis ao Tribunal Constitucional por motivos políticos. Um veto também não faria, por isso restava a promulgação”. Na sua opinião, um “Governo que é minoritário mas comporta-se, a maior parte das vezes, como se fosse de maioria absoluta, dialogando pouco”, deve ter “um pouco mais de humildade”.

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Sendo ano de eleições autárquicas e isso, historicamente, dar origem a uma oposição mais musculada — “em anos de eleições todos os partidos querem fazer prova de vida, fazer uma oposição mais musculada do que o habitual” — Costa terá de dialogar mais para evitar problemas maiores. “São estas arrogâncias, que há um pouco por todo o Governo, que não ajudam a situação de quem é minoritário”, rematou.

O reforço da vacinação

Outro tema que costuma ser analisado pelo ex-líder do PSD é a evolução da situação pandémica e este domingo não foi diferente. Marques Mendes considera que o “desconfinamento está a correr bem e a situação, ao fim de duas semanas, aparenta estar controlada”, tanto é que “já fomos os piores em casos por 100 mil habitantes na União Europeia e agora somos os melhores”, por exemplo. Ainda assim, fica o aviso sobre as condições que podem vir a minar essa evolução: ” o facilitismo, sobretudo no período da Páscoa”, o impacto das variantes britânica, brasileira e sul africana e a própria situação tanto na Europa como fora dela — “O regresso dos voos da TAP para o Brasil pode abrir a porta à entrada da variante brasileira.” A vacinação, porém, pode ser um trunfo ou um contratempo.

“Enquanto tivermos pouca gente vacinada corremos um risco grande”, aponta logo de início antes de reforçar que apesar do plano poder estar a correr melhor, “há dados positivos”. A falta de vacinas, que Marques Mendes diz ser culpa da União Europeia —“do Concelho Europeu, sobre vacinas, houve retórica, algumas ameaças e decisões, nada” –, foi um entrave. Contudo, esse atraso pode vir a ser revertido já durante o próximo trimestre, isto porque é previsto que Portugal receba “quase 4 vezes mais do que no 1 trimestre (8 864 494 vacinas)” e seguro que já em abril cheguem 1 764 980 vacinas. Ou seja, “num só mês vamos receber praticamente o mesmo que recebemos num trimestre [através da seguinte distribuição: Pfizer – 1.076.400; AstraZeneca – 468.980; Moderna – 133.200; Janssen – 86.400]”.

Apesar dos pontos de vista positivos — os próprios dados em relação à população já vacinada foram destacados –, ficam alguns aspetos por melhorar: explicar o porquê de na vacinação dos professores, os que já tiveram Covid-19 ficarem para segundo plano (algo que Marques Mendes explica, citando Graça Freitas: “pessoas que já tiveram Covid-19 vão ser vacinadas mas mais tarde, porque já têm uma imunidade durante algum tempo”); ter mais calma na alteração das prioridades de vacinação e “uniformizar os lares” em termos de política de visitas.

A “pandemia social”

Foi também abordado por Marques Mendes o impacto não sanitário da pandemia na população portuguesa, nomeadamente os problemas económicos e sociais que, para o social-democrata, poderão acentuar-se nos próximos tempos, principalmente depois do fim das moratórias. Indicadores como o aumento do desemprego e dos beneficiários do RSI (mais três mil num mês); o “surgimento de novos bairros clandestinos” nos arredores de Lisboa, Porto e Setúbal; e a fragilidade crescente de trabalhadores imigrantes ilegais foram enumerados por Marques Mendes como sendo preocupantes.

A situação do fim das moratórias divide-se em duas partes, sendo a primeira mais referente aos créditos à habitação: “Como não vão ser prorrogadas, as pessoas que tenham dificuldades devem contactar o “seu” banco e tentar renegociar as respetivas condições de pagamento”, aconselha. No outro panorama, o das moratórias das empresas, a situação é ainda mais grave. “Elas vão acabar definitivamente em setembro”, reforça Marques Mendes citando Mário Centeno, e esse fim pode vir a ser decisivo para o aumento das falências e do desemprego, especialmente nas áreas “do turismo, hotelaria, restauração e afins”.

É precisamente para tentar evitar esse desfecho mais trágico que o comentador enumerou uma novidade. “O Banco de Fomento, por indicação do Governo, está neste momento a estudar soluções para mitigar o efeito do fim destas moratórias”, explicou. Esse esforço, coordenado pelos ministros das Finanças e da Economia, pode passar por uma de duas soluções: “ou o apoio à recapitalização das empresas ou o apoio através de novas linhas de crédito”.