Não foi, mais uma vez, a noite de Ronaldo. Que começou a ter de receber assistência com o jogo a decorrer por estar a sangrar do nariz após uma disputa de bola pelo ar com Chanot. Que tocou apenas três vezes na bola nos 20 minutos iniciais perdendo-a em duas ocasiões. Que teve um cabeceamento por cima após cruzamento de Nuno Mendes por um ligeiro desvio do defesa contrário. Que falhou completamente isolado em frente ao guarda-redes após um passe errado de Christopher Martins transformado quase em assistência involuntária. Que cabeceou para o lado na área depois de um centro de Rafa numa bola que costuma dar golo. No entanto, e pelo meio, voltou a marcar, conseguindo a reviravolta no início da segunda parte. E Portugal conseguiu ganhar ao Luxemburgo.

Olá, sou o Palhinha e gosto pouco de surpresas (a crónica do Luxemburgo-Portugal)

Nas últimas 14 oportunidades flagrantes que teve, Ronaldo marcou três vezes mas apenas duas contaram – aquele último minuto dos descontos na Sérvia ainda hoje é recordado. No que conta, sobra uma percentagem de apenas 14% de eficácia nesses lances. No entanto, e mesmo sendo notório o desgaste do avançado português após mais três encontros com menos de 72 horas de descanso, o capitão da Seleção chegou aos 103 golos, ficando a seis dos 109 de Ali Daei, iraniano que é ainda hoje o melhor marcador de seleções. Em paralelo, e ao conseguiu quebrar aquele que era o maior jejum por Portugal desde 2012, o número 7 marcou pelo 18.º ano consecutivo pela equipa principal do país, numa “epopeia” que começou em 2004 com a final perdida do Campeonato da Europa e que teve pelo meio vários momentos altos entre os quais o Europeu de 2016 e a Liga das Nações de 2019.

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“Marcou, agora vai sossegar, descansar e depois vamos pensar no Euro”, começou por comentar Fernando Santos ainda na zona de entrevistas rápidas da RTP, antes de pormenorizar a análise na conferência de imprensa.

“Em relação ao Cristiano é notório. É um jogador de uma qualidade extra mas todos os melhores jogadores do mundo têm momentos em que as coisas não querem sair e a estes jogadores se calhar ainda complica mais no sentido em que se interioriza mais, ele quer fazer bem mas não sai. Aquele lance por exemplo em 100 ele faz 99 mas pronto… Vai ser tempo de repouso para ele também, vai ajudar seguramente. O futebol também é isto, num jogo em que as coisas não correm bem aos 90+3′, marcava, Portugal ganhava 3-2 e os jornais diriam todos que o Cristiano voltou, que o Cristiano é o salvador, que o Cristiano é o herói. Aconteceu o que aconteceu, foi uma frustração total, saiu tudo ao contrário. Estas coisas mesmo num jogador com o traquejo que ele tem, em alguns momentos normais nota-se alguma ansiedade”, destacou, recordando o golo falhado em frente ao guarda-redes.

Em paralelo, Fernando Santos abordou também o que falhou na primeira meia hora de jogo e deixou um apelo aos responsáveis para que repensem o calendário pelo desgaste que o mesmo criou e que se foi de novo notório.

“A ansiedade não tem nada a ver com andar a passo, andámos a jogar para o lado e para trás. Fomos uma equipa amorfa, sem intensidade. A qualidade técnica não chega, tinha dito isso aos jogadores e eles sabem isso. Temos de equilibrar sempre na intensidade, na dinâmica, nas bolas divididas e apertar o adversário. Quando fazemos isso, a qualidade técnica faz a diferença. Depois do golo sofrido acordámos, reagimos, fomos para cima e fizemos o golo. Foi importante naquele momento. Ao intervalo disse que tínhamos de mudar a atitude, manter a qualidade técnica que temos de expressar em campo. Não estou a dizer que os jogadores não quiseram, é mais pela paixão, pela intensidade. Na segunda parte ganhámos as bolas todas, divididas e não divididas, contra uma equipa que sabe estar em campo, que trabalha bem. Podíamos ter feito um resultado mais volumoso”, salientou.

“Há que repensar esta questão do calendário, os responsáveis pelo futebol a nível mundial e europeu têm de repensar esta questão, de testes e mais testes. Três jogos realizados oficialmente é impossível, é impróprio para os jogadores e para os treinadores de seleção. Se já é difícil para os treinadores de clubes, tirando os que estão apenas numa competição, para nós é pior. Há quatro meses que não via os jogadores. É muito forte para os jogadores. Para bem do futebol, é muito importante que se repense as marcações, os jogadores não são máquinas. As dificuldades são criadas para serem arranjadas soluções, tem de se ir buscar forças onde houver. Nós que temos obrigações claras, temos de encontrar soluções, mas há que ponderar esta situação”, acrescentou.