Cinco dias depois de ter sido promovido pelo secretário geral da ONU António Guterres, Fabrizio Hochschild Drummond foi mandado para casa em licença administrativa (remunerada). É que, naqueles dias de janeiro, tinham caído no seio da organização pelo menos três queixas contra ele por abuso de poder e assédio que tinham que ser investigadas. Agora o jornal Político vem dizer que essas queixas eram já do conhecimento do gabinete de Guterres e que terão sido ignoradas aquando a nomeação.

Fabrizio Hochschild Drummond foi promovido a Enviado de Tecnologia pelo secretário geral da ONU, António Guterres, como dava conta a própria organização no seu site. Dias depois a Reuters noticiava o seu afastamento por causa de três queixas contra ele por abuso de poder e assédio. As denúncias foram feitas por três mulheres ao Escritório de Serviços de Supervisão Interna (OIOS) nos dois meses anteriores, reportando-se ao seu comportamento em 2019 e 2020. Acusavam-no de criar um ambiente de trabalho tóxico por meio de bullying, explosões agressivas, comentários inadequados, telefonemas e mensagens a qualquer hora, disseram as três fontes à Reuters.

Hochschild assumiu à data ter sido foi informado das queixa se prometeu cooperar com a investigação. “Fui informado da existência deles, mas ainda não fui informado de forma alguma sobre o que estão alicerçados ou qualquer outra coisa específica. Estou a saber disso pela imprensa” respondeu à data à Reuters “Cooperarei totalmente com qualquer consulta da OIOS assim que for contactado”, garantiu.

Agora uma investigação recente do Politico veio demonstrar que essas queixas foram dadas a conhecer ao gabinete de Guterres antes da nomeação e que esta podia ter sido evitada. O Político concluíu que pelo menos um membro da equipa sénior de Guterres estava ciente de que estas queixas formais estavam prestes a ser apresentadas contra Hochschild por uma de suas ex-subordinadas mais de um mês antes da promoção.

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Isso mesmo consta de um e-mail em que um ex-membro da equipa de Hochschild procurou aconselhar-se junto de um membro próximo do chefe de gabinete de Guterres sobre como devia fazer para reclamar. Mas Guterres sempre afirmou que só o soube após a nomeação.

Estas mulheres queixam-se de terem sido intimidadas através de linguagem abusiva, exigindo telefonemas tarde da noite e fins de semana, e comentários de Hochschild dizendo que seu escritório não queria que funcionárias engravidassem.

Em 2019, um em cada três funcionários e contratados das Nações Unidas disseram que foram assediados sexualmente nos últimos dois anos, de acordo com uma ONU.  Através de um porta-voz, Guterres já disse que leva a questão a sério e que agiu imediatamente para colocar Hochschild de licença até tudo estar resolvido.