Benjamin Netanyahu está a subir o tom das críticas contra a coligação que se formou em Israel para o afastar do poder. Para o primeiro-ministro israelita, esta coligação – “um perigoso [projeto de] governo de esquerda” – é o resultado “da maior fraude eleitoral” na história da democracia.

A acusação surge numa altura em que os serviços de segurança israelitas alertam para uma escalada do discurso político violento em Israel, noticiou este domingo o britânico Guardian.

No poder há 12 anos consecutivos e envolvido num processo judicial por corrupção – que até lhe pode valer prisão – Netanyahu arrisca-se agora a ser afastado por uma coligação liderada pelo nacionalista Naftali Bennett (Yamina, direita nacionalista). Para tal, o parlamento israelita terá de votar nesse sentido.

A aliança contra Netanyahu foi anunciada na quarta-feira e inclui três partidos de direita, dois do centro e dois de esquerda, bem como um partido conservador islâmico árabe. O acordo estipula que nos primeiros dois anos após a saída de Netanyahu, Bennett – do Yamina – seria primeiro-ministro, sendo depois substituído por Yair Lapid (Yesh Atid, centro) em 2023.

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“Estamos a assistir à maior fraude eleitoral na história do país, e, na minha opinião, da história de qualquer democracia”, declarou Netanyahu aos deputados do Likud, o seu partido (direita).

“É por isso que as pessoas se sentem, e justificadamente, enganadas. E estão a responder que não podem ser ignoradas”, completou Netanyahu, num tipo de discurso a fazer lembrar as acusações do seu antigo aliado, Donald Trump, sobre as eleições americanas. As declarações de Netanyahu foram transmitidas ao vivo e continham referências veladas à promessa de Bennett de não se aliar com a esquerda, com os centristas e com os partidos árabes.

No sábado, o máximo responsável do Shin Bet, a agência de segurança interna em Israel, tinha alertado – sem referir nomes – para “uma escalada severa no discurso violento” nas redes sociais. “Este discurso pode ser interpretado por certos grupos ou indivíduos como permitindo uma violência ilegal que pode vir a custar vidas”, disse Nadav Argaman.

Este domingo, Netanyahu pareceu responder a isto mesmo, mas aproveitando para fazer um ataque à esquerda. “Há uma linha muito ténue entre a crítica política e o incitamento à violência”, disse.

“Não podemos dizer que é incitamento à violência quando as críticas vêm da direita, e que é um uso justificado da liberdade de expressão quando vem da esquerda”, disse o primeiro-ministro numa reunião com deputados do Likud. E salientou: “Eu condeno todo o tipo de incitamento à violência”.

Entretanto, Netanyahu e os seus apoiantes continuam a tentar minar os esforços da coligação, tentando aliciar deputados do partido de Bennett, os nacionalistas de direita do Yamina, desconfortáveis com a possibilidade de se aliarem aos deputados árabes e de esquerda.

A votação da moção de confiança ao governo de Netanyahu poderá decorrer na quarta-feira ou segunda-feira da próxima semana, de acordo com a imprensa israelita.