Sétimo jogo da temporada (com possibilidade de haver ainda um oitavo), 15.º jogo nas últimas três temporadas mesmo com pandemia e consequente suspensão de todas as provas pelo meio. Os encontros entre FC Porto e Sporting podem ter mais ou menos golos, mais ou menos trocas de marcadores, maior ou menos emoção mas há algo que há muito deixou de existir nestes clássicos: segredos. E o jogo 4 da final do Campeonato não era por isso uma exceção, com essa nuance de poder haver campeão no Dragão Arena em caso de vitória dos leões.

“Estamos numa situação muito difícil mas não queremos que o Sporting vença aqui o Campeonato e vamos fazer tudo para irmos a quinto jogo e tentarmos ganhar no Pavilhão João Rocha. É difícil mas temos noção do que é necessário fazermos para vencer. Temos o melhor Campeonato do mundo de hóquei em patins. É importante ver que, em Portugal, se está a trabalhar muito bem para termos aqui os melhores jogadores. Vamos tentar trabalhar os pormenores que possam resultar contra o Sporting e melhorá-los. Temos que fazer com que eles não tenham tantas chances como no último jogo para podermos vencer. Antes tivemos sete jogos em 20 dias e foi difícil preparar os jogos, foi mais com base em vídeos e no trabalho fora do campo. Esta semana é mais importante, dá para recuperar as pernas e também psicologicamente”, lançara Gonçalo Alves aos canais dos dragões.

“Desde o início que assumimos que éramos candidatos ao título. Começámos esta fase do playoff com o número oito na cabeça, pois eram oito as vitórias que nos faltavam para sermos campeões. Neste momento, estamos a um triunfo e queremos que seja agora mas vamos defrontar uma grande equipa em sua casa e que está com o orgulho ferido. Deixaremos tudo dentro da pista para resolver já as contas do título. A minha equipa percebe que é possível vencer em qualquer sítio, mas claro que as sensações mais recentes ainda reforçam mais esta nossa forma de pensar. Será um jogo que se decidirá muito nos detalhes, é importante ganhar os duelos, controlar as faltas e perceber que estarão em pista duas grandes equipas”, comentara Paulo Freitas aos órgãos dos leões.

Depois de ter quebrado um longo jejum sem ganhar ao FC Porto na Invicta para o Campeonato que perdurava desde 1977, o Sporting tinha passado para a frente da final com duas vitórias contra uma, podendo assim fechar as contas do título enquanto os dragões queriam levar a decisão para a “negra” em Lisboa. Também por isso, o contexto deste clássico era diferente, além de ser o primeiro com os azuis e brancos a terem uma semana inteira de descanso. E os dois conjuntos tiveram o mérito de não se deixaram “acorrentar” com a importância do jogo, protagonizando mais um grande espectáculo com muitos golos e emoção à mistura em mais um encontro que merecia público para presenciar aquele que se consolida como melhor Campeonato mundial da modalidade.

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Os dragões tiveram uma entrada mais forte no clássico, atirando mesmo uma bola ao poste num lance entre Di Benedetto e Gonçalo Alves (2′) antes da primeira ação disciplinar após nova oportunidade de Gonçalo Alves com cartão azul a Matías Platero e Di Benedetto na sequência de uma pequena confusão (5′). O encontro estava bom, estava vivo e até os golos não demoraram a aparecer: Gonçalo Alves inaugurou o marcador com um remate de meia distância (5′), Romero empatou logo a seguir num contra-ataque iniciado e concluído depois de um passe de Toni Pérez (6′), Xavi Barroso recolocou os azuis e brancos na frente em mais uma “bomba” de longe (8′).

O FC Porto não tinha margem de erro mas entrou a lidar bem com esse “peso”, embora tivesse falhado a seguir ao golo do espanhol uma oportunidade flagrante para colocar a vantagem em dois golos: Ferrant Font fez falta sobre Cocco, viu cartão azul (10′), Gonçalo Alves falhou o livre direto e os dragões não conseguiram aproveitar a situação de power play para marcarem, acabando por sofrer minutos depois com um grande golo de Font (16′). Voltava tudo à estaca inicial até ao melhor momento dos leões em campo, com Toni Pérez a fazer o 3-2 em power play depois de novo cartão azul a Di Benedetto com livre direto de Romero à barra (19′) e João Souto a acertar na barra num remate enrolado que não daria hipóteses a Xavi Malián, que não viu partir a bola.

O Sporting estava na frente e tentava controlar a vantagem até ao intervalo. Até 30 segundos do final, teve êxito nessa tentativa; depois, o FC Porto conseguiu o que parecia impossível. E o 3-2 para os leões transformou-se num 4-3 para os dragões: Rafa fez o empate à boca da baliza após grande passe de Mena e Gonçalo Alves marcou de livre direto após a décima falta verde e branca quando faltavam apenas três segundos por jogar.

Se o número de golos nos jogo 2 e 3 da final tinham sido atípicos, os sete na primeira parte do jogo 4 não fugiam a esse diapasão. Talvez por isso, o segundo tempo começou com um ritmo menos intenso ainda que com boas oportunidades para os dois lados, em especial para o FC Porto que foi encontrando um Girão de betão na baliza contrária. Ainda assim, seria de novo o Sporting a marcar, em mais uma saída com tanto de simples como de eficaz e bem jogada, com Romero e Platero a combinarem até à assistência para o 4-4 de Toni Pérez (30′), que veria cartão azul tal como Gonçalo Alves no minuto seguinte quando o encontro estava parado antes de um livre direto de Romero pela décima falta portista que foi travado de forma superior por Xavi Malián (31′).

Tudo seria decidido nos últimos minutos, mais uma vez numa toada de ataque lá-ataque cá e com as duas balizas em constante ameaça: Gonçalo Alves marcou de grande penalidade a Zé Diogo Macedo, que entrou para o lugar de Girão só nesse lance (38′); Telmo Pinto desviou de forma oportuna ao segundo poste mais uma assistência de grande qualidade por Ferran Font (41′); o mesmo Font aproveitou uma grande penalidade por corte com o patim de Rafa muito criticada pelos dragões – não pela existência desse corte mas por não ter sido voluntário – para fazer o 6-5 (46′). Com os leões “tapados” com 14 faltas, Girão a brilhar na baliza e Malián a tirar a Pedro Gil o 7-5, o final teria ainda mais emoção, com o FC Porto a forçar, a ter um penálti mal assinalado a Romero falhado por Gonçalo Alves a oito segundos do final mas o Sporting a segurar a vantagem que valeu o nono Campeonato da história e a segunda temporada a ser campeão nacional e europeu depois de 1977.