Há lugares em que os dérbis são meras expressões do regionalismo, em que a decisão desportiva não está dependente do resultado entre dois rivais, sendo que, por vezes, um até é manifestamente superior ao outro. Não é o caso de Benfica e Sporting, onde um jogo tem repercussões no curso de uma época e não apenas no orgulho. Se o confronto entre os dois for numa Liga dos Campeões tudo fica ainda mais inflamado.

Foi nesse cenário limite que se jogou no Pavilhão João Rocha na primeira volta e era nesse cenário limite que se ia jogar no Pavilhão da Luz na segunda. Neste caso, existia ainda mais uma agravante. Com o grupo B da mais importante competição europeia de hóquei em patins a entrar na fase decisiva, a equipa que vencesse garantia desde já o apuramento para os quartos de final, sendo que, no final da jornada, se o resultado do dérbi se conjugasse com o do duelo entre o Calafell e o Reus, as duas equipas da Segunda Circular podiam seguir em frente.

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O Benfica chegava na liderança do grupo com nove pontos. Depois dos encarnados terem perdido o primeiro lugar após a derrota no João Rocha (7-6), os comandados de Nuno Resende regressaram ao topo por beneficiarem do empate entre o Calafell e o Sporting (2-2). “Um resultado [vitória] dá-nos o apuramento automático e um outro resultado [empate ou derrota] pode dar-nos o apuramento automático, mas não a liderança do grupo”, perspetivou o treinador do emblema da Luz aos meios do clube. “O adversário é de muito respeito, com o qual temos tido jogos de enorme qualidade, e diante do qual já vencemos uma competição neste ano desportivo [Elite Cup]”.

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Ainda assim, não dá para ignorar o facto de que o Benfica estava magoado pelo tombo que sofreu no Dragão Arena, contra o FC Porto (7-1). Aliás, ao nível da campanha interna, o Sporting tem sido mais consistente, liderando o campeonato em conjunto com a Oliveirense. “A equipa está muito bem. Nós estamos sempre a pensar no processo, na forma de evoluir a equipa taticamente e que os jogadores tenham a cabeça no trabalho diário e na evolução individual. Quando estamos focados dessa forma, como agora, tudo se torna mais fácil”, lançou o treinador argentino do Sporting, Alejandro Domínguez, ao canais do emblema de Alvalade. “Na Luz é um ambiente hostil, é uma rivalidade eterna, jogar fora de casa é sempre mais duro do que jogar no Pavilhão João Rocha. Estarei sempre agradecido, nem que seja por um pequeno grito de apoio nesta pista”.

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Depois de um primeiro jogo com 13 golos, na Luz, estava difícil encontrar o caminho para o primeiro. Os guarda-redes, Pedro Henriques, do Benfica, e Ângelo Girão, do Sporting, iam tendo alguma responsabilidade no nulo, mas o volume de finalizações não estava a ser extraordinário. De qualquer modo, perante a ausência de destaques individuais, estes eram os possíveis. A agitação estava a ser tão moderada que até o número de faltas era contido.

Só que Carlos Nicolía joga a morder a língua e tem sempre os nervos a borbulhar. Saltou a tampa ao argentino na parte final da primeira parte e viu cartão azul. João Souto, pleno de eficácia, conseguiu bater Pedro Henriques no livre direto. O Benfica, sem Diogo Rafael, não tardou a reagir. Lucas Ordóñez experimentou a meia distância e Pablo Álvarez, num ato impulsivo, quase que para se proteger da stickada do colega, empatou.

A partida continuou equilibrada. Lances mais intensos como o que Roberto di Benedetto e Toni Pérez disputaram faziam, de quando em vez, os sticks saltarem das mãos e a contestação subir. O francês respondeu à jogada que o deixou caído em pista com o golo da reviravolta. Di Benedetto bateu Girão e deu a vantagem ao Benfica que fazia por a merecer. Num jogo cinzento para muitos dos elementos mais criativos, Pol Manrubia apimentava a exibição e trazia o jogo do clube da Luz para uma dimensão superior.

Com o relógio a ser o sexto jogador do Benfica, a equipa de Nuno Resende acumulava hipóteses para alargar a vantagem. Os encarnados dispuseram de duas grandes penalidades praticamente consecutivas. Lucas Ordóñez falhou a primeira, mas Nicolía corrigiu à segunda, deixando o marcador numa diferença de dois golos (3-1). O Benfica, agora com 12 pontos, segura o apuramento para os quartos de final e garante também o primeiro lugar do grupo B, ao contrário do Sporting que tem que esperar pelos próximos acontecimentos para saber se também segue em frente.