Quando Danny Makkelie apitou para o fim da meia-final entre Inglaterra e Dinamarca e carimbou a presença dos ingleses na final do Euro 2020 e a eliminação dos dinamarqueses, milhões de adeptos viveram algo que nunca tinham visto desde que nasceram: a seleção inglesa a uma vitória de conquistar um troféu. Para quase todos, será uma memória coletiva importante. Para Nina Farooqi, será uma memória agridoce.

De um momento para o outro, a inglesa de 37 anos é a protagonista de uma das histórias mais surreais do Campeonato da Europa. Tudo começou quando uma amiga, na véspera da meia-final, lhe ofereceu um bilhete de última hora para assistir ao jogo em Wembley. Nina quis aceitar de imediato mas, de forma natural, achou que não conseguiria pedir o dia seguinte, uma quarta-feira, ao chefe. Por isso, encontrou uma solução alternativa: disse que estava doente e que não poderia ir trabalhar.

Ingleses querem que seja feriado nacional na segunda-feira se forem campeões europeus. E Boris Johnson não diz que não

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

O plano tinha tudo para correr bem. Já na quarta-feira e sem obrigações laborais, Nina apanhou o comboio de Leeds, onde vive, para Londres e para apoiar a seleção nas bancadas de Wembley. Até que, ao minuto 39 da primeira parte, um autogolo de Kjaer empatou a partida que até aí tinha vantagem da Dinamarca, graças a um golo de livre direto de Damsgaard. Nesse momento, quando o estádio explodiu de alegria e entre as restantes 60 mil pessoas, as câmaras da transmissão televisiva decidiram focar-se na eufórica celebração de Nina e da amiga.

Ao intervalo, a surpresa rebentou: quando pegou no telemóvel, Nina percebeu que já tinha recebido mensagens de amigos nos Estados Unidos e na Austrália, que a tinham visto na televisão. Ou seja, que seria muito improvável que o chefe não a tivesse visto. Nina viu o jogo até ao fim, celebrou a vitória de Inglaterra e a passagem à final e regressou a Leeds ainda durante a noite. Até que, às seis da manhã do dia seguinte, recebeu uma chamada.

Os ingleses querem que o futebol volte para casa mas a casa do futebol continua de portas fechadas

O chefe ligou-lhe, confirmou que a tinha visto na televisão e que tinha percebido que tinha mentido e disse-lhe que não precisava de voltar ao escritório — estava despedida. “Há um pouco de arrependimento, ninguém quer ser despedido. Mas também teria odiado o arrependimento de ter perdido alguma coisa. Faria tudo outra vez”, explicou a inglesa, uma fotógrafa que costuma acompanhar os jogos da liga de futebol feminino de Inglaterra, ao Daily Telegraph.

“Eles disseram-me que me tinham visto no jogo e eu acabei por ser honesta. Mas não obtive nenhuma simpatia e disseram que estava tudo conversado. Foi a consequência do que fiz”, acrescentou, sublinhando depois a importância do momento que acabou por testemunhar. “Isto não acontecia desde 1996. Lembro-me de chorar no sofá da minha mãe quando o Gareth Southgate falhou o penálti. São emoções contrárias. Chegámos à final, ainda estou a viver essa alegria, mas também perdi o meu trabalho”, atirou Nina, recordando a meia-final do Euro 96 e a decisão por grandes penalidades que acabou por sorrir à Alemanha e não aos ingleses.