Enviado especial do Observador, em Tóquio

A vitória do japonês Yuto Horigome, a medalha de prata do brasileiro Kelvin Hoefler, o bronze do americano Jagger Eaton e até a sétima posição de Nyjah Huston funcionaram como uma espécie de conjugação cósmica de como ter mais procura do que oferta na zona mista do skate. Não, não eram apenas mais um par de jornalistas a querer aceder ao espaço. Não, também não era o dobro. Nem o triplo. Contas feitas, era bem mais do que isso e com prioridade para quem tinha ao pódio. Ou seja, os 0% de possibilidades de entrar passaram para -10%. Mas português que é português encontra sempre uma solução e, com metade da conversa em andamento a caminho do espaço de Portugal no Ariake Urban Sports Park, Gustavo Ribeiro explicou o que falhou na final.

“Sempre sonhei trazer uma medalha mas infelizmente não foi o meu dia. Melhores dias virão nos próximos campeonatos. Há dois meses numa das provas de qualificação para os Jogos Olímpicos desloquei o meu ombro, voltei a andar apenas de skate duas semanas antes de vir para aqui, ainda assim sentia-me confiante, na segunda tentativa das finais dei um esticão ao meu ombro que me começou a doer bastante e é a vida…”, começou por dizer ainda a transpirar em bica com o calor que se fazia sentir, mesmo tendo um colete com o intuito único de refrescar após ter tirado a camisola e a proteção no ombro esquerdo ainda na zona de competição.

“Se valia mais do que o oitavo lugar? Óbvio que sim, todos viemos para aqui com a sensação de que conseguimos trazer pelo menos uma medalha. Infelizmente não foi o meu dia, não estou feliz como é óbvio mas também não posso estar triste porque na primeira vez em que o skate está nos Jogos Olímpicos consegui fazer história e entrar numa final. Não era o lugar em que queria ficar mas daqui a três anos temos Paris e a ver se conseguimos trazer essa esperada medalha”, apontou o jovem de 20 anos, antes de assumir também o peso das quedas iniciais nos tricks quando já estava em visível dificuldade em várias ocasiões agarrado ao ombro.

“Já estava a pensar que não havia muita coisa a fazer, que já não conseguia chegar ao pódio e isso desmotivou-me um bocado. Já tinha falhado três manobras seguidas e não consegui controlar a minha cabeça, o que também acontece. O skate não é como começa, não é como acaba. O real momento foi a segunda tentativa quando dou o esticão no ombro. O plano da qualificação foi um plano de salvação, de jogar pelo seguro para ir à final e aí decidi arriscar. Infelizmente não correu bem, o ombro não facilitou e não deu”, salientou.

Ainda assim, nem tudo foi mau e confirmou-se o sucesso que a introdução do skate como modalidade olímpica conseguiu reunir em Tóquio. “Nunca pensei que o skate ia tão rapidamente entrar nos Jogos. Estou feliz, espero que cresça cada vez mais, que exista mais dinheiro, mais marcas a investir, mais crianças a aprender, mais meninas também. Que comecem a dar mais importância ao skate. Ausência de público? Sim, o público ajuda bastante, puxa pelas pessoas, houve apenas os apoiantes locais de cada pessoa mas era igual para mim e para todos. Pódio? Fico feliz porque o primeiro lugar foi para um skater local que nasceu aqui, segundo e terceiro foram para dois teammates do meu patrocínio e não mudava nada no pódio. Agora? Meter o ombro on point e andar de skate…”, apontou, de novo virando as atenções para a próxima edição de 2024 mas com uma outra necessidade mais a breve prazo que seria contada depois pelo pai e treinador, Paulo: vai ser operado ao ombro.

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