A Costa do Marfim confirmou, no sábado, o primeiro caso de ébola no país, numa viajante que foi hospitalizada em Abidjan, depois de regressar da Guiné, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Este é o primeiro caso de ébola no país desde 1994, há mais de 25 anos.

As vacinas contra o vírus ébola que não foram usadas no surto da Guiné vão agora servir para vacinar as pessoas que estão em maior risco de serem infetados em Abidjan: profissionais de saúde, pessoal das respostas de emergência e pessoas com quem os casos confirmados contactaram. A Guiné vai enviar ainda medicamentos baseados em anticorpos monoclonais que, dados numa fase precoce da doença, aumentam a probabilidade de sobrevivência.

A vacinação teve início esta segunda-feira, com as vacinas rVSV-ZEBOV fabricadas pela Merck (cerca de 2.000 em Abidjan), para o pessoal prioritário numa estratégia “em anel”. As cerca de 3.000 vacinas da Johnson & Johnson serão dadas como reforço de vacinação em zonas onde não exista um surto ativo.

A velocidade com que a Costa do Marfim acelerou a vacinação é notável e mostra que, com solidariedade sub-regional efetiva, podemos tomar medidas rapidamente para extinguir infeções letais que podem potencialmente transformar-se em grandes surtos”, disse o MatshidisoMoeti, diretora regional da OMS para África, em comunicado de imprensa.

O caso de Abidjan corresponde a uma jovem guineense de 18 anos que viajou desde a Guiné por estrada e chegou à cidade costa-marfinense no dia 12 de agosto. Depois de ter febre, foi hospitalizada e a infeção confirmada publicamente no dia 14 de agosto pelo ministro da Saúde da Costa do Marfim. Adicionalmente, há um caso suspeito de infeção (ainda não confirmado) e nove contactos da jovem que estão a ser monitorizados.

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A Guiné enfrentou um surto de ébola ao longo de quatro meses, mas foi declarado extinto a 19 de junho de 2021. A OMS diz que não se encontraram sinais de que este caso possa estar ligado ao surto na Guiné, mas serão feitas investigações para o confirmar.

Além da Guiné, a República Democrática do Congo também teve um surto de ébola este ano, mas em nenhum destes dois países foram registados casos em grandes cidades, como é o caso de Abidjan, a capital comercial do país, onde vivem mais de quatro milhões de pessoas.

A OMS defende que, embora os países estejam concentrados em combater a pandemia de Covid-19, devem reforçar as competências para um potencial surto de ébola — uma doença que tem uma letalidade variável, entre 25 e 90%, consoante os surtos.

Uma equipa da OMS vai ajudar a identificar a origem da infeção, a implementar medidas de prevenção, controlo, diagnóstico, rastreio de contactos e tratamento. Como em outros surtos de ébola, o mais importante será conseguir que as populações adiram às medidas de prevenção e contenção do vírus.

Primeira morte por marburgo na Guiné depois do surto de ébola

A Guiné, com o surto de ébola resolvido, pode enfrentar agora um novo desafio: o vírus marburgo, da mesma família do ébola, que também causa febre hemorrágica e que nunca antes tinha sido detetado no país. Aliás, o vírus nunca tinha sido detetado na África Ocidental (região entre o deserto do Saara e o golfo da Guiné).

O caso foi confirmado no dia 9 de agosto. O doente deu entrada numa clínica local, em Koundou, na zona de Gueckedou, mas acabou por morrer. Até à passada sexta-feira, não tinha sido confirmado mais nenhum caso, mas os cerca de 150 contactos da vítima continuavam em vigilância, duas vezes por dia, porque o período de incubação do vírus vai de dois a 21 dias.

Estamos a trabalhar com as autoridades de saúde para implementar uma resposta rápida, que se baseia na experiência anterior e conhecimentos adquiridos pela Guiné na gestão [dos surtos] de ébola, que é transmitido de forma semelhante”, disse a diretora regional da OMS África.

A região de Gueckedou, na Guiné, foi também onde o surto de ébola deste ano e de 2014-2016 teve início. A forma de transmissão do vírus é semelhante à do ébola: por contacto com fluídos corporais, incluindo o sangue e urina dos doentes, superfícies e materiais.

Geralmente, a doença começa de forma abrupta, com febres altas e dores de cabeça. Tal como com o ébola, a taxa de fatalidade varia com os surtos e variou de 24 a 88%. Mas ao contrário do ébola, não existe nenhuma vacina contra o marburgo.