Um novo estudo científico indica que os testes à Covid-19 através da saliva têm uma eficácia comparável à dos testes convencionais, que exigem a extração de uma amostra através da introdução de uma zaragatoa nas vias respiratórias — uma conclusão que poderá contribuir para consolidar o recurso a estes testes, mais confortáveis e fáceis de realizar.

O estudo foi publicado esta semana na revista científica Microbiology Spectrum, da Sociedade Americana de Microbiologia, e baseia-se na recolha de amostras, tanto de saliva como através do método convencional, em 385 indivíduos.

De acordo com o estudo, o resultado do teste foi igual entre as duas amostras em 93% dos casos.

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Os autores do estudo explicam ainda que os poucos casos em que o resultado do teste à saliva não foi o mesmo que o do teste convencional diziam respeito a pessoas com pouca carga viral — e que, portanto, representariam um risco menor de transmissão do vírus.

O estudo destaca que, entre os casos em que os resultados foram discordantes, houve um equilíbrio entre aqueles que foram positivos na saliva e negativos no PCR e vice-versa — ou seja, não há uma tendência particular para que haja uma prevalência maior dos falsos positivos ou dos falsos negativos.

Além disso, o estudo contou com a inovação de não exigir qualquer restrição comportamental aos participantes — nomeadamente, a necessidade de jejum total e o impedimento de fumar ou de lavar os dentes —, o que significa que os testes à saliva poderão ser uma solução para dar continuidade a uma estratégia de testagem em massa sem o desconforto associado aos testes convencionais.

“As vantagens da auto-colheita da saliva, sem restrições comportamentais, vão provavelmente suplantar uma potencial pequena redução da sensibilidade clínica em indivíduos que têm menor probabilidade de representar um risco de infeção para os outros em muitos cenários reais, especialmente para a testagem inicial”, escrevem os autores do estudo.

Sublinhando que, habitualmente, os testes mais precisos são “desconfortáveis, exigem profissionais e uma recolha na nasofaringe que ‘faz comichão no cérebro'”, os autores sublinham que recolher saliva é “muito mais fácil em ambas as frentes”.

Por um lado, “os pacientes podem recolhê-la por si próprios“; por outro, “no fim de contas é apenas cuspo”.

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Todavia, os autores lembram que até aqui a maioria dos estudos feitos aos testes com saliva tinham sido realizados em contextos clínicos controlados. “Aqui, comparamos a saliva com a recolha na nasofaringe em contextos reais, sem restrições”, dizem os autores, que concluem que “a saliva é, na essência, tão eficaz como a recolha na nasofaringe“.

Em maio deste ano, o Centro Europeu de Controlo de Doenças admitiu o uso de testes com saliva em alternativa à zaragatoa, mas advertiu que este tipo de teste deve ser um último recurso, quando não é possível realizar um teste convencional — uma vez que, naquela altura, a informação científica não era suficientemente sólida para considerar a amostra biológica recolhida da saliva tão eficaz como a recolhida pela zaragatoa na nasofaringe.

De facto, este novo estudo vai ao encontro dessa preocupação. Segundo os resultados da investigação, as amostras recolhidas com a zaragatoa tinham uma carga viral em média 16 vezes maior do que as amostras de saliva. Contudo, esta diferença na carga viral não afetou a eficácia dos testes.