O Movimento Juntos Pelo Sudoeste (JPS) congratulou-se esta terça-feira com a campanha lançada por ativistas alemães contra as culturas intensivas no Alentejo e Algarve e voltou a apelar a uma intervenção de Bruxelas. Já os produtores lamentam a iniciativa e receiam impacto negativo.

“Esta campanha vem na sequência de vários esforços” que o movimento JPS tem efetuado “nos últimos anos” para que “outros ativistas no centro da Europa ergam a sua voz” e “chamem a atenção” para o problema “da exploração da agricultura intensiva no Baixo Alentejo”, avançou à agência Lusa Fátima Teixeira. Para a porta-voz do movimento de cidadãos de Odemira (Beja) e Aljezur (Faro), é importante que outras organizações internacionais alertem para “a exploração humana” e para “a exaustão de recursos, como a água”, devido à agricultura intensiva neste território.

Estamos muito preocupados porque temos a grave ameaça de ter água para um ano em Odemira e esperamos que esta ação, que está a decorrer na Alemanha, dê mais frutos e se espalhe pela Europa Central e Norte da Europa”, apontou.

A representante do JPS falava à Lusa a propósito da campanha que está em marcha na Alemanha, noticiada pela SIC Notícias, contra as culturas superintensivas no Alentejo e no Algarve, sobretudo as estufas de frutos vermelhos e de abacate, respetivamente. Os promotores da campanha, cuja rosto é a ativista alemã Friederike Heuer, exortam os consumidores alemães a boicotarem os produtos com origem nestas culturas superintensivas. O manifesto que circula nas redes sociais alemãs diz que as culturas consomem a pouca água existente, degradam os solos e exploram os “escravos modernos da Ásia, de África e da Europa de leste”.

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Fátima Teixeira argumento que o aumento das estufas e de novas explorações agrícolas “está a esvaziar o território das suas possibilidades de resiliência e de sobrevivência” e defendeu que o Governo português deve ser “chamado à atenção por Bruxelas”.

Apesar dos alertas sucessivos do movimento, “todas as semanas surgem novas estufas e novas explorações”, como a plantação de abacateiros, “que estão a invadir esta zona”, denunciou a responsável, apelando à intervenção internacional.

“Se isto chegar a Bruxelas, será uma boa oportunidade para fazer alguma coisa e parar esta destruição”, concluiu.

O manifesto da campanha alemã, que circula nas redes sociais daquele país, aponta para a existência de 40 mil trabalhadores imigrantes no Alentejo a viverem “em condições desumanas, em espaços coletivos exíguos pelos quais pagam elevadas rendas”.

Produtores temem impacto de campanha alemã contra agricultura intensiva do Alentejo e Algarve

A associação de fruticultores de Odemira e Aljezur lamentou esta terça-feira a campanha alemã contra culturas intensivas de frutos vermelhos e abacate naqueles concelhos, temendo um impacto momentâneo, mas sem “expressão significativa” nas vendas.

“Posso fazer um primeiro comentário, que é, naturalmente, o de lamentar esse tipo de campanha”, disse à agência Lusa o presidente da Associação dos Horticultores, Fruticultores e Floricultores dos Concelhos de Odemira e Aljezur (AHSA), Luís Mesquita Dias.

O responsável lamentou também que, embora a campanha decorra na Alemanha, tenha sido “muito alimentada” por outras “relativamente idênticas” em Portugal, por “pessoas que, sabendo que a exceção não é regra, fazem passar do país e da região e do setor uma imagem que não corresponde efetivamente à realidade”.

Questionado pela Lusa sobre se teme que a campanha possa prejudicar as vendas de frutos produzidos nos concelhos de Odemira e Aljezur, nomeadamente as exportações para a Alemanha, Luís Mesquita Dias respondeu que “mentiria” se não temesse “alguma implicação”.

O responsável disse que a AHSA sabe que “a generalidade dos consumidores está já muito familiarizada com este tipo de campanhas de demonização de alguns produtos e de algumas práticas” e, por isso, admite que, “um pouco como acontece com estas situações”, a campanha alemã “pode ter um impacto momentâneo” em “alguns consumidores”.

Contudo, o responsável duvidou “que tenha expressão significativa de maneira que os associados [da AHSA] cheguem a ressentir-se do ponto de vista das suas vendas”, admitiu, sem precisar números relativos às exportações dos produtores locais para a Alemanha.

Já do “ponto de vista reputacional”, Luís Mesquita Dias vincou que “revolta profundamente” à AHSA ver os nomes de Portugal, da região, da associação e dos seus associados “maltratados na praça pública”.

Mas, se a AHSA, “com a ajuda” da Portugal Fresh – Associação para a Promoção das Frutas, Legumes e Flores de Portugal e da AICEP – Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal, “continuar a dar informação sobre aquilo que se faz no país, as pessoas vão perceber que aquilo que está a ser descrito não corresponde à realidade, pelo menos de uma maneira geral e na maioria dos casos”.