O movimento nos aeroportos de Cabo Verde deverá ficar abaixo de 500 mil passageiros em 2021, agravando a perda de quase dois milhões de passageiros no ano passado, segundo as estimativas da empresa estatal Aeroportos e Segurança Aérea (ASA).

As previsões constam do relatório e contas de 2020 da empresa que gere os quatro aeroportos internacionais e três aeródromos do país, fortemente afetada pela pandemia de Covid-19, que levou a um prejuízo de 1.771 milhões de escudos (-16 milhões de euros) no ano passado.

A atividade da ASA encontra-se “fortemente condicionada, sendo que apresenta diferentes perspetivas entre segmentos de negócio para 2021”, reconhece a empresa, admitindo que no caso do segmento de Gestão Aeroportuária, o cenário para este ano é “conservador, sendo fortemente dependente do setor do turismo, que se encontra perante um desafio sem precedentes”.

“Neste contexto, em 2021, o movimento de aeronaves deverá apresentar uma nova redução, prevendo-se uma quebra em torno dos 18%, face a 2020, refletindo-se num movimento de passageiros cerca de 38% abaixo de 2020. Para estas perspetivas contribui, igualmente, a questão do primeiro trimestre de 2020 (…), na qual se continuava a observar um crescimento do tráfego apenas interrompido no decorrer de março de 2020 [devido às restrições provocadas pela pandemia]”, lê-se no relatório.

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Esta previsão agrava o cenário de 2020, em que segundo o relatório e contas da empresa, que contabilizou no ano passado um movimento de 775.998 passageiros (embarques, desembarques e em trânsito), menos 72% (perda de quase dois milhões de passageiros) face a 2019, enquanto o movimento de aeronaves caiu 63% (menos 22.000), para 13.162.

A concretizarem-se essas previsões, os aeroportos de Cabo Verde deverão receber este ano (desembarques, embarques e trânsito) cerca de 481 mil passageiros (2.771.931 em 2019, antes da pandemia) e quase 10.800 movimentos de aeronaves (35.202 em 2019).

No primeiro semestre de 2021, segundo dados anteriores da ASA, os aeroportos de Cabo Verde contabilizaram apenas 213.838 passageiros e 5.152 movimentos de aeronaves.

Devido à pandemia de Covid-19, o Governo cabo-verdiano suspendeu os voos internacionais em meados de março, interdição que se prolongou até outubro de 2020, enquanto os voos domésticos estiveram suspensos desde o final de março até meados de julho.

No caso dos serviços de navegação aérea, nomeadamente a FIR Oceânica do Sal, a ASA espera que a retoma apresente em 2021 “um ritmo lento e gradual”, tendo em conta que já em 2020 foi registado “um ligeiro aumento da retoma de ligações regulares entre a Europa e a América do Sul, centradas entre Portugal, Espanha e França com o Brasil e Argentina”, mas ainda 60% inferior à atividade de 2019.

“Neste sentido, as perspetivas para 2021 passam por uma redução de cerca de 4% de sobrevoos face a 2020, sendo importante ter presente que 2020, apesar de ter sido um ano de forte redução da atividade, ainda contempla um primeiro trimestre em que o tráfego se mantinha num ritmo de crescimento robusto face a 2019, interrompido apenas no decorrer de março”, refere o relatório.

A gestão da FIR é uma das principais fontes de receitas do setor aeronáutico de Cabo Verde, cerca de 40% do total. A FIR (região de informação de voo) corresponde a um espaço aéreo delimitado verticalmente a partir do nível médio do mar, sendo a do Sal — que existe desde 1980 – limitada lateralmente pelas de Dakar (Senegal), Canárias (Espanha) e Santa Maria (Açores, Portugal).

“Perante o quadro restritivo esperado para 2021, impõe-se que se mantenham bem claras as prioridades, nomeadamente no conjunto de recursos que a empresa necessita mobilizar para garantir a continuidade da oferta de serviços tanto aeroportuários como de navegação aérea, sempre com os parâmetros de qualidade e segurança exigidos. Adicionalmente, deverão igualmente ser encetados todos os esforços na preparação das condições necessárias para dotar os serviços e infraestruturas para a retoma futura”, escreve a administração, no relatório e contas.

Cabo Verde registou em 2019 um recorde de 819 mil turistas, setor que garante 25% do Produto Interno Bruto, mas que está parado desde março de 2020, devido às restrições impostas pela pandemia de Covid-19, afetando igualmente o setor aeronáutico e de navegação aérea.

“A manutenção dos baixos níveis de atividade, irá pressionar negativamente os rendimentos da empresa, sejam eles aeronáuticos, não aeronáuticos ou de navegação aérea, e consequentemente a tesouraria, que será o fator crítico a monitorizar e controlar com particular critério e rigor, durante 2021”, acrescenta o relatório.