Os associados da Associação Mutualista Montepio Geral deliberam esta quinta-feira sobre as contas consolidadas de 2020, quando teve um prejuízo de 86 milhões de euros, num momento em que já há listas às eleições de dezembro próximo.

A Associação Mutualista Montepio Geral teve um prejuízo consolidado de 86 milhões de euros em 2020, após um lucro de nove milhões de euros em 2019.

No relatório e contas divulgado apenas em 15 de setembro, o presidente da mutualista, Virgílio Lima, atribuiu o prejuízo sobretudo aos resultados do Banco Montepio, devido “aos efeitos extraordinários do contexto pandémico” que levaram a “montantes extraordinários de imparidades de crédito constituídas, entre outros efeitos adversos”.

Novamente, as contas da mutualista voltaram a levantar reservas da auditora PwC, que considera que os ativos por impostos diferidos, os capitais próprios e o resultado líquido estão “sobreavaliados por um montante materialmente relevante”.

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Segundo se lê no anexo ao relatório e contas de 2020, “tendo por base as projeções apresentadas pela Administração e as condições previstas” na norma internacional de contabilidade IAS12, “o Montepio Geral — Associação Mutualista não demonstra capacidade para gerar resultados tributáveis suficientes que permitam recuperar parte substancial dos ativos por impostos diferidos registados nas suas demonstrações financeiras individuais”.

A Associação Mutualista Montepio Geral vai a votos em 17 de dezembro, devendo participar nas eleições para o quadriénio 2022-2025 quatro listas concorrentes, uma das quais liderada pelo atual presidente Virgílio Lima (que em 2019 substituiu Tomás Correia, que saiu da mutualista na sequência de processos de contraordenação) e três de oposição.

A autodesignada ‘lista de quadros’ tem Pedro Gouveia Alves como candidato a presidente do Conselho de Administração. Quando Tomás Correia era presidente da mutualista, Pedro Gouveia Alves (atual presidente do Montepio Crédito) era muito próximo do gestor.

Outra das listas tem o economista Eugénio Rosa (ligado ao PCP e que nos últimos anos fez oposição à administração) como candidato a presidente do Conselho de Administração. Como vogais executivos da administração são candidatos Tiago Mota Saraiva, Joaquim Dionísio, Inácia Moisés e António Couto Lopes, segundo disse à Lusa fonte da lista. A ex-deputada do BE Ana Drago integra esta lista, mas concorrendo para a Assembleia de Representantes.

Por fim, a outra lista será liderada pelo professor universitário Pedro Corte Real. Esta lista conta com o apoio de nomes como Fernando Ribeiro Mendes e Miguel Coelho.

Estas últimas duas listas tentaram uma lista unitária, mas as conversações terminaram sem sucesso.

Esta terça-feira, em comunicado, a autodesignada ‘lista de quadros’ disse que as contas consolidadas da Associação Mutualista Montepio “espelham a reiterada incapacidade da administração vigente para procurar vias de valorização dos ativos da Associação”.

Segundo esta lista, “os capitais próprios do Grupo Associação Mutualista, atribuíveis aos associados, caíram praticamente 100 milhões de euros (de 182 para 84 milhões de euros)”, devido a resultados da associação, do bando e da ‘holding’ dos seguros.

A lista diz ainda que, “desde 2018, ano em que Virgílio Lima e Tomás Correia foram reconduzidos em novo mandato, os capitais próprios da Associação Mutualista Montepio caíram praticamente 160 milhões de euros (de 243 para os agora apresentados 84 milhões de euros)”, referindo esta lista que “é possível inverter esta situação” de desvalorização dos ativos e valorizar o património dos associados.

Para isso, disse, é preciso rever a estratégia das principais empresas do Grupo (banco e seguradoras), separar a atividade bancária central corrente do legado problemático, incrementar a atividade de venda cruzada de produtos e serviços do grupo Montepio e ter uma política de valorização de imóveis da associação.

Já a lista liderada por Eugénio Rosa considerou, em comunicado, que os prejuízos de 86 milhões de euros são “um rombo sério no equilíbrio financeiro e que vem agravar a delapidação das poupanças dos associados por esta administração e pelas suas antecessoras”.

A lista recordou ainda que a integram várias pessoas que, ao longo dos anos, “têm vindo a denunciar os abusos e os aproveitamentos que alguns fazem do património de todos”.

Considera ainda esta lista liderada por Eugénio Rosa que há “a necessidade de rever o universo das empresas do Montepio”, pois isso “condiciona o presente e futuro do Montepio Geral e, consequentemente, o interesse dos associados”.

A Associação Mutualista Montepio Geral tem quase 600 mil associados e é o topo do grupo Montepio, em que se inclui o Banco Montepio.