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Em campo, Farkhunda foi uma delas: como o plantel do Benfica recebeu a capitã do Afeganistão, um símbolo da "necessidade de mudança"

Este artigo tem mais de 2 anos

Farkhunda Muhtaj foi convidada pelo Benfica para participar num treino da equipa de futebol feminino. Os bastidores da receção na Luz, o treino e um clube que quer passar um "sinal para o exterior".

A capitã da seleção afegã treinou esta sexta-feira com a equipa de futebol feminino do Benfica a convite do clube encarnado
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A capitã da seleção afegã treinou esta sexta-feira com a equipa de futebol feminino do Benfica a convite do clube encarnado

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

A capitã da seleção afegã treinou esta sexta-feira com a equipa de futebol feminino do Benfica a convite do clube encarnado

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Desta vez, o equipamento que vestiu foi outro. As cores são iguais (vermelho), mas Farkhunda Muhtaj não se equipou com a t-shirt da seleção nacional de futebol do Afeganistão, como habitual, mas sim do Benfica. É no Estádio da Luz que se encontra com as companheiras de um dia. É no Estádio da Luz que se prepara para treinar com a equipa profissional feminina. “É irreal… O estádio é bonito, a cidade é fantástica. Estou muito honrada por estar num clube de categoria mundial e por poder treinar nestas fantásticas instalações”, confessa Farkhunda Muhtaj, em conversa com o Observador.

Já equipada de cima a baixo, e de águia do Benfica ao peito, a capitã da seleção nacional afegã vai cumprimentando as atletas que vão chegando. Passa pouco das oito horas da manhã e é aqui que começa o dia para as jogadoras encarnadas. “Nice to meet you”, vai-se ouvindo nos corredores que vão dar ao balneário. Farkhunda Muhtaj, de 23 anos, vive no Canadá mas nasceu no Afeganistão. Diz que o futebol é a sua vida. Foi ela uma das responsáveis pela mais recente missão de resgate da equipa de futebol afegã das camadas jovens. 26 raparigas chegaram a Portugal no dia 19 de setembro, onde receberam asilo, e aquela que é para as jovens meninas “uma estrela” está por estes dias em Portugal, numa viagem que também serviu para ajudar a acolher e a integrar as meninas afegãs que sonham um dia ser jogadoras de futebol.

[Ouça aqui a reportagem da Rádio Observador]

Capitã da seleção afegã “honrada” por treinar no clube onde passaram “lendas como Di María e David Luiz”

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Voltando ao Estádio da Luz, Farkhunda Muhtaj parece ser rapidamente integrada. No balneário da equipa feminina, duas grandes palavras saltam à vista – “vencedoras” e “campeãs” – e são rapidamente traduzidas para o inglês. A capitã da seleção nacional afegã sorri e mostra-se pronta para ir treinar. Antes, é servido o pequeno-almoço, numa outra zona do Estádio. Farkhunda conversa com as jogadoras da formação encarnada, enquanto come o que escolheu: fruta, um pão e uma garrafa de água. Já com as energias repostas, é tempo de ir para dentro das quatro linhas. Mas antes, há ainda uns minutos para conversa.

Ao Observador, a jovem afegã conta que já conhecia o Benfica. “É um clube de categoria mundial. Muitas lendas do futebol vieram do Benfica. Muitos jogadores fantásticos que admiro, por exemplo o Di María, o David Luiz… Coisas boas saem deste clube”, afirma, antes de explicar o cenário que se vive atualmente no Afeganistão. “Está definitivamente numa situação muito difícil. Infelizmente, as mulheres não têm os mesmos luxos que tinham antes. Não podem ir à escola, não podem praticar desporto. Este é um tempo muito difícil para elas. Estamos muito preocupados com o futuro do Afeganistão”.

Enquanto a equipa principal masculina treina no Seixal, é no Estádio da Tapadinha, em Alcântara, que se realizam os treinos da equipa feminina. A comitiva vai de autocarro até ao estádio com vista para a Ponte 25 de Abril, para onde seguem também os jornalistas que acompanham esta iniciativa. Pouco depois das dez da manhã começa o treino, que, entre pequenos exercícios e partidas, duraria até 12h30.

“Quero agradecer ao Benfica por esta fantástica oportunidade e por me receber”

“Bom dia, equipa. Muito bem-vinda, Farkhunda. Eu já disse isto lá fora, ela é uma pessoa muito forte, uma líder, um exemplo a seguir. Estamos juntos, a apoiar-te em tudo aquilo de que precises. Por isso, bem-vinda a esta sessão de treinos. As portas do clube estarão sempre abertas para ti”, discursa Fernando Tavares, vice-presidente do Benfica para as modalidades que tem também o pelouro do futebol feminino, enquanto toda a equipa faz uma roda no relvado. “Temos um presente para ti”, revela.

Farkhunda Muhtaj recebe uma camisola do Benfica, com o número 10 e o apelido nas costas. “Obrigada, muito obrigada! Quero agradecer ao Benfica por esta fantástica oportunidade e por me receber. Pessoas como vocês são a razão pela qual o povo do Afeganistão pode de alguma forma ficar seguro, a seleção nacional ficar segura, por isso agradeço muito. Obrigada, Benfica, obrigada, meninas e staff por me receberem.” Só faltaria mesmo ensinar o grito da equipa, antes de partir para os primeiros exercícios. “Raça, querer e ambição. Sport Lisboa e Benfica”, ouve-se entre aplausos.

Farkhunda Muhtaj recebeu uma t-shirt do Benfica com o seu nome nas costas

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Durante cerca de duas horas, houve pequenos treinos de aquecimento, peladinhas e um jogo de futebol que dividiu a equipa em dois. Quem visse de fora não adivinharia que entre a equipa encarnada haveria uma jovem jogadora afegã, pouco habituada às dinâmicas da casa. Farkhunda Muhtaj jogou, marcou e correspondeu ao que lhe foi pedido.

Quanto à integração e à língua, não seriam também problemas. O próprio plantel feminino do Benfica tem, além de portuguesas, jogadoras brasileiras, uma canadiana, uma nigeriana, uma espanhola e uma jovem luso-romena. Farkhunda Muhtaj quis mostrar o que vale, depois de ter sido convidada pelo Benfica a marcar presença num dos treinos da equipa. O futebol, esse, é o de sempre. “É a minha vida, significa tudo para mim, é a minha paixão. É o que me motiva todos os dias”, admite.

Uma iniciativa pelo Afeganistão “que dá um sinal [do Benfica] para o exterior”

Fernando Tavares, vice-presidente do Benfica, esteve presente em toda a iniciativa no Estádio da Tapadinha, onde a capitã da seleção nacional do Afeganistão foi integrada nos trabalhos da equipa. Deu as boas-vindas a Farkhunda Muhtaj e aproveitou também para retirar os capitais desta iniciativa para o Benfica. “O crescimento do futebol feminino é uma inevitabilidade. Seja no Afeganistão, seja fora do Afeganistão. É um prazer enorme ter aqui a Farkhunda connosco. Ela representa de certa forma a necessidade de mudança. Ela, como exemplo, e o Benfica, recebendo aqui a jogadora neste treino, dão um sinal solidário com o futebol feminino, mas também com a causa das mulheres no Afeganistão”.

O responsável pelas modalidades do Benfica, e também pelo futebol feminino, considera que o clube encarnado “é o clube em Portugal, e quiçá na Europa, que mais investe no desporto feminino”, liderando assim “pelo exemplo e, ao fazê-lo, está claramente a dar esse sinal a todo o mundo”. Questionado pelo Observador sobre se essa aposta no futebol feminino continuará a ser uma prioridade, numa altura em que o clube está prestes a ir a eleições (e em que Fernando Tavares está na lista de Rui Costa), o atual vice-presidente prefere falar apenas desta iniciativa e sublinhar que “todo o investimento que tem sido feito no futebol feminino e desporto feminino falam por si”.

Quem visse de fora não adivinharia que entre a equipa encarnada haveria uma jovem jogadora afegã

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Do lado das jogadoras do Benfica, Fernando Tavares garante a boa receção feita a Farkhunda Muhtaj e afirma que as atletas “têm consciência e são atentas ao que se passa em todo o mundo, como é o caso do Afeganistão”. Ter recebido a jovem afegã de 23 anos no Estádio da Luz e depois nos treinos da equipa feminina “obviamente reforça esses laços, essa consciência, e reforça esse estado de alma de que há coisas no mundo que ainda é necessário mudar”.

Quanto à passagem histórica do Benfica à fase de grupos da Liga dos Campeões – é a primeira equipa portuguesa a alcançar esse feito –, Fernando Tavares confessa estar “muito satisfeito” com a hipótese de participar numa competição “de excelência”, como “também receber a Farkhunda é um patamar de excelência”. “O Benfica move-se pela diferença e inovação e é isso que estamos aqui a fazer hoje. Tudo isto está ligado, há uma estratégia para o futebol feminino”, conclui.

“Além de futebolistas, somos pessoas. Temos de ter consciência do que está a acontecer no mundo”

No rescaldo do treino, a formação encarnada acredita que Farkhunda Muhtaj saiu muito satisfeita com a experiência. “Ela gostou. Hoje calhou um treino mais chato, com bolas paradas. Mas ela gostou também do primeiro exercício que fizemos, um joguito mais divertido”, conta Pauleta ao Observador. “Ela disse-nos que gosta muito dos portugueses, que somos muito agradáveis e que conseguimos integrar muito bem as pessoas.”

A jogadora espanhola, que alinha pela formação encarnada há seis épocas, desde 2016/2017 vai mais longe e acredita que o mundo lá fora e o futebol não se podem dissociar. “Além de futebolistas, somos pessoas. Temos de ter consciência do que está a acontecer no mundo e isto serve para percebermos que temos muita sorte por podermos fazer aquilo de que mais gostamos. Não só por trabalhar nisto, mas pelo simples prazer de jogar à bola. Há pessoas que não conseguem, mulheres que não conseguem fazê-lo no seu país. É importante nós mostrarmos que acolhemos estas pessoas, mas é importante também para nós percebermos que temos de aproveitar estes momentos, porque há pessoas que não o conseguem fazer”, acrescenta Pauleta.

Farkhunda Muhtaj agradeceu ao Benfica esta oportunidade e confessa que o Benfica é a sua "vida e paixão".

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Para este sábado à tarde, está marcado mais um treino que vai incluir também as 26 meninas afegãs das camadas jovens da seleção nacional do Afeganistão, nos campos sintéticos junto ao Estádio da Luz. Já na próxima terça-feira, o grupo (a quem, juntamente com as respetivas famílias, Portugal ofereceu asilo) vai assistir à partida a contar para a fase de grupos da Liga dos Campeões: o Benfica-Bayern de Munique, agendado para as 20h, no Seixal.

Quanto a Farkhunda Muhtaj, regressa na próxima semana ao Canadá, onde vive atualmente, mas espera que esta iniciativa – e o convite feito por parte do Benfica – possa ser vista também como um grito de alerta para a situação que se vive atualmente no Afeganistão, que desde meados de agosto é liderado pelo movimento extremista talibã.

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