O Centro Hospitalar de Setúbal tem um endividamento “insustentável” e os “recursos são escassos“, reconheceu o presidente do conselho de administração no parlamento esta quarta-feira. A operação do hospital é deficitária e o problema tem sido resolvido, “pelos vários governos”, com injeções públicas anuais – “o dinheiro acaba sempre por aparecer, como todos sabemos, mas aparece tarde“, afirmou Manuel Francisco Roque Santos.

O presidente do conselho de administração, que reconheceu a “fase conturbada” da vida daquele centro hospitalar, indicou que a operação gera um endividamento adicional de 2,5 milhões a 3 milhões por mês, o que significa que a cada ano são 36 milhões em prejuízo anual, aproximadamente.

É uma “situação insustentável” que tem sido “resolvida pelos vários governos com injeções financeiras anuais”. Assim, esta situação “não tem posto em causa” o funcionamento do hospital “porque o dinheiro acaba sempre por aparecer, como todos sabemos, mas aparece tarde”, o que provoca constrangimentos.

Esta foi uma audição pedida pelo PCP e, depois, pelo PSD, depois de um total de 87 médicos entre membros da direção clínica, membros da direção de serviço e departamentos, coordenadores de unidade e comissões e ainda chefes de equipa de urgência que trabalhavam no Centro Hospitalar de Setúbal se terem demitido em bloco.

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Demitiram-se em bloco 87 médicos do Hospital de Setúbal. Apenas três não assinaram carta de demissão

O responsável, que está a ser ouvido no parlamento esta quarta-feira, afirmou que o “estrangulamento que mais problemas tem criado ao hospital é a exiguidade do serviço de urgência“, daí que tenha pedido um novo serviço de urgência. Por outro lado, a administração sublinha que algo que seria importante (embora não fosse solução) seria a reclassificação deste Centro Hospitalar para o nível superior de prestação de cuidados, reconhecendo-se de forma mais justa a afluência que existe ao hospital.

O que perspetivamos é que isso representará um acréscimo de orçamentação de 7 ou 8 milhões de euros por ano, não é suficiente para cobrir o défice de exploração da nossa casa”, afirmou o responsável.

Sobre os recursos humanos, Manuel Roque Santos indicou que “entre 2005 e 2015 (esta administração iniciou funções em 2016) naquele hospital entraram 205 profissionais”. “Nos seis anos seguintes, até 2021, entraram 381 profissionais, dos quais 206 nos últimos dois anos também por força da pandemia”.

“Neste mesmo período (2015-2021) os custos com pessoal aumentaram 25 milhões de euros“, afirmou o responsável, notando que o orçamento médio anual é de 150 milhões de euros, aproximadamente. Manuel Roque Santos admitiu muitas “dificuldades” na contratação de pessoal médico, muito mais do que na contratação de enfermeiros e assistentes operacionais.

O mercado não funciona” quando se fala de contratação de pessoal médico, afirmou, acrescentando que as aposentações criam grandes dificuldades ao serviço. “A maioria das especialidades médicas no Hospital de Setúbal funciona com dois ou três médicos – se um se aposenta ou adoece, é fácil perceber os problemas que aí surgem”, afirmou Manuel Roque Santos.

O responsável assinalou que mesmo com majoração de 40% no vencimento enfrenta constantemente concursos “desertos” quando abre vagas para contratar novos médicos. E porquê? Parte da resposta poderá estar no que Manuel Roque Santos indicou no final da audição: o mercado da contratação de médicos está “fortemente distorcido em termos de concorrência”.