“Confiar nos Bombeiros é confiar no guarda-redes”
(Tiago Oliveira, ISA – NovTec em 2010)

Não é novidade – foi por exemplo Vítor Baía com Mourinho ou, mais recentemente, Vlachodimos com Schmit, etc. – que volta e meia os guarda-redes se chateiam com os treinadores. Tivemos agora as declarações incendiárias de um guarda-redes (António Nunes, presidente da Liga de Bombeiros), a pedir ao Presidente do Clube (o Primeiro-Ministro Luís Montenegro) para acabar com o Treinador (a AGIF – Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais – presidida por Tiago Oliveira), conforme o Observador noticiou.

Um guarda-redes que quer ser, portanto, Jogador-Treinador, não se querendo submeter à hierarquia de uma agência criada com o propósito de definir a integração das diferentes componentes para a gestão de incêndios – o treinador que escala a equipa e define a estratégia – e que quer ser também guarda-redes-avançado, um todo o terreno polivalente que tão depressa está numa baliza a defender como na área contrária a marcar golos – fogos é com bombeiros e com mais ninguém, que essa coisa de nos compararmos com o Real Madrid ou com o Bayern Munique (EUA ou Chile), não faz qualquer sentido… Olé, Olé, o Cascalheira é que é… Não fossem essas modernices como a AGIF e seríamos os melhores do mundo, como aliás se viu em 2017 (a AGIF foi criada em 2018). Venha uma Bola de Ouro para o cromo nº1 da caderneta.

Alguém quereria isto para a sua equipa? Iria o Benfica a tempo de ganhar a Liga Europa se despedisse a equipa técnica, sentasse os 10 jogadores de campo na bancada e deixasse brilhar Anatoliy Trubin?

Não, claro que não. São precisos defesas para conter os avançados contrários, são precisos médios tanto para destruir como para construir, e são precisos avançados para meter a bola dentro da baliza. E é preciso um treinador para montar as peças e definir a estratégia, sendo que muitas vezes se ouve que a melhor defesa é… o ataque.

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Também as paisagens precisam de quem corte, queime ou coma (indiretamente comendo carne ou queijo dos animais que o pastem) o mato. E que o façam de forma estratégica, no espaço – onde melhor se podem tirar vantagens do trabalho feito – e no tempo – que não é o tempo dos incêndios problemáticos, é o resto do ano… Adicionalmente, que se monte corretamente uma equipa e que esta seja coesa – no caso, a AGIF como disse acima, nasceu para resolver um problema há muito identificado de que ICN a precaver, GNR a patrulhar e Bombeiros a apagar, podiam ser todos muito bons jogadores, mas individualistas… Não funcionavam como equipa.

Que a AGIF não o tenha conseguido? Bom, concordo e fui muitas vezes crítico (incluindo em artigos aqui publicados) do seu desempenho. Mas uma coisa é eu contestar o trabalho de Roger Schmit, outra muito diferente é dizer que o Benfica não precisa de um treinador. Precisa, e precisa ainda de um Presidente que não se deixe levar pelos desvarios e ingerências de um qualquer jogador que quer jogar sozinho, cortar a relva, fazer de segurança, de speaker, de roupeiro, etc. durante os jogos, com um segundo ofício – levar doentes ao hospital, salvar gatos de árvores, etc. – durante a restante semana, ainda que este seja o melhor guarda-redes do mundo.

Quero com tudo isto dizer que um guarda-redes não é importante? Não, claro que não. Um guarda-redes é fundamental, e quanto melhor ele for, melhor a equipa. É nele que depositamos esperanças quando todos os outros falham. Os bombeiros são fundamentais porque não poucas vezes, todo o trabalho a montante falhou, e é então com eles, e só com eles, que podemos contar para evitar maiores desgraças.

Mas sem os seus companheiros, sem espirito de equipa, sem boa orientação? O Benfica teve por cinco anos aquele que seria na altura (ou pelo menos era aos meus olhos de adepto tendencioso) o melhor guarda-redes do mundo, Michel Preud´Homme. E não ganhou nenhum desses cinco campeonatos. Salvou muitas vezes a equipa e ninguém o culpou a ele pelos desastres. Mas também ninguém o ouviu dizer que ganhava os jogos sozinho ou a pedir ao Presidente para dispensar o treinador…