Francisco Rodrigues dos Santos vai mesmo ser o candidato do CDS às próximas eleições legislativas. Ou não. Depois do Conselho Nacional desta noite, o partido pode entrar numa guerra jurídica sem precedentes e, no limite, ser obrigado a repetir todas as votações realizadas — incluindo, poderá ser obrigado a voltar a considerar o adiamento das eleições internas. Até ver, vale a decisão tomada pelos conselheiros: o partido só vai a votos depois das próximas eleições legislativas.

O psicodrama em que se viria a transformar a noite do CDS começou a desenhar-se bem cedo. Nuno Melo apresentou um pedido de impugnação para travar o Conselho Nacional Extraordinário convocado na véspera. O Conselho de Jurisdição Nacional do partido aceitou analisar o pedido e viria a dar razão a Nuno Melo.

Ou seja, e de acordo com a interpretação do tribunal do partido (contestada pelos apoiantes de Rodrigues dos Santos), aquela reunião do CDS estava ferida na sua legitimidade. Resultado: todas as decisões tomadas neste Conselho Nacional, órgão máximo do partido entre congressos, podem ser consideradas nulas.

Filipe Anacoreta Correia ignorou a decisão do tribunal do partido, sob o argumento de que não estava devidamente fundamentada, e decidiu levar em diante o Conselho Nacional. A partir daí, o desfecho está anunciado à partida: com a maioria dos conselheiros do seu lado, Rodrigues dos Santos acabou conseguir o adiamento das eleições internas.

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Nuno Melo nunca se conteve e chegou mesmo a acusar a direção do CDS de estar a ter um comportamento “profundamente obscuro e perverso”, falando mesmo em “ilegalidade profunda”. “A direção do CDS está a fazer o que Arnaldo Matos não conseguiu fazer ao PCTP/MRPP”, atirou.

Telmo Correia, líder parlamentar do CDS e apoiante de Melo, subscreveu todas as críticas à direção do CDS. “Ficou claro que não se respeita nada neste partido. Há um presidente do partido que há poucos dias convocou um congresso urgente. Entretanto viu que tinha adversário, que tinha apoios de Norte a Sul do país, e agora já não quer congresso. Tem medo do congresso.”

“Quem tem medo de ir a votos dentro do partido com que cara é que vai a votos? A não ser que a única solução estratégica seja meter-se no bolso do PSD”, afirma.

“Não tenho medo de vocês”

Francisco Rodrigues dos Santos não ficou atrás. “Sei bem do terrorismo que vocês conseguem criar na comunicação social. Da falta de vergonha que têm”, atacou o líder do CDS, dirigindo-se diretamente aos seus críticos internos.

“Tenham vergonha do que estão a fazer. Não vale tudo. Não vale colocarem os vossos interesses pessoais acima dos interesses do partido”, diz.

“Não admito que a minha legitimidade seja colocada em causa por de nenhum vós. Vocês querem ofensas diárias e calúnias. Querem voltar a ser deputados. Trocam de opinião com base nas vossas convicções. Tenham respeito pelos militantes.”

“Não tenho medo de vocês. Derrotei-vos no congresso e estou disponível para o voltar a fazer em qualquer congresso”, remata.

De resto, o líder do CDS mantém o mesmo argumento: o adiamento das eleições internas serve os interesses do partido uma vez que permite ao CDS organizar todo o processo eleitoral sem estar em clima de “guerrilha” interna.

Resta saber o que fará agora Nuno Melo. Ainda não é absolutamente claro se o eurodeputado mantém a sua candidatura à liderança do CDS ou se vai recorrer ao Tribunal Constitucional para anular esta decisão do Conselho Nacional.