“Lewis, não tenho palavras… Inacreditável…”. Max Verstappen tinha acabado de cruzar a linha de meta e sagrar-se campeão de Fórmula 1 quando Toto Wolff fez a primeira comunicação com Hamilton. O britânico estava desolado, como se viu bem quando parou o carro e por lá se manteve, de cabeça baixa, durante alguns momentos. O seu diretor, esse, nem sabia literalmente o que dizer, até porque mal o neerlandês conseguiu fazer a ultrapassagem que decidiria o título entrou em contacto com Michael Masi, diretor de corridas da Fórmula 1, e percebeu que não iria conseguir reverter a decisão da ordem de partida. Quis anular no seu presente um filme que fazia parte do passado e nem o formalizar de protestos lhe mudou o futuro.

Um final épico, uma volta para a história, a corrida que todos merecíamos: a primeira página de Verstappen apagou a oitava de Hamilton

“Parabéns ao Max e à equipa. Fizemos um grande trabalho. A equipa trabalhou tanto, foi o ano mais complicado. Estou muito orgulhoso e agradecido. Demos tudo, nesta última parte nunca desistimos e isso é o mais importante. Tenho-me sentido muito bem no carro, principalmente neste final de campeonato. Agora só quero que tenham cuidado com pandemia, tenham um bom Natal e para o ano logo se vê”, atirou Lewis Hamilton na primeira entrevista após a derrota, ao antigo campeão Jenson Button. Depois, iria dar os parabéns a Verstappen. E o próprio pai, Anthony, passou pela zona onde se encontrava o neerlandês para o cumprimentar e trocar um forte abraço com o também seu pai, Jos, antigo piloto da Fórmula 1.

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Horner pediu “um milagre”, o safety car entrou e Max foi campeão: “Finalmente, um pouco de sorte para mim…”

Hamilton não ganhou o título mas saiu como um campeão pela forma como aceitou o resultado. No entanto, como conta a BBC, a primeira reação ainda na corrida foi outra e mais na linha de Toto Wolff. “Meu, isto foi manipulado”, atirou o britânico para o responsável da equipa alemã depois de ter sido superado no momento que mudou por completo todas as contas, numa visão que não mais seria expressa a frio e em termos públicos. Toto Wolff, mesmo sem falar à imprensa, avançou de imediato para o protesto de duas infrações aos regulamentos, ambos refutados pela Federação Internacional de Automobilismo, estando ainda a ponderar nesta fase se avança com um novo recurso para o Tribunal de Grande Instância de Paris.

Como conta a publicação britânica, a Mercedes continua com a sensação de injustiça na cabeça, “não contra Max Verstappen ou a Red Bull mas sim contra a direção de corridas”. Hamilton nunca abordou o assunto nas entrevistas rápidas que foi fazendo aos canais televisivos que têm os direitos da prova e não se mostrou de seguida disponível para falar à imprensa escrita. Em relação aos outros pilotos, as posições também não foram propriamente muito elucidativas sobre o que se passou. “Isto foi montado para ser uma luta, claro que foi tudo para a TV, para o resultado. Se é justo ou não, não me compete decidir”, disse Lando Norris, da McLaren. “Honestamente, estou sem palavras. Nem sei o que dizer agora, preciso de ver como isto aconteceu”, referiu o companheiro Daniel Ricciardo. “Foi no mínimo estranho”, argumentou Leclerc.

No meio de toda a “confusão”, George Russell, piloto da Williams que teve um fim de semana discreto, colocou-se do lado da futura equipa, a Mercedes (por troca com Valtteri Bottas, que vai para a Alfa Romeo em 2022): “Isto é inaceitável. O Max é um piloto fantástico que fez uma época incrível e tenho grande respeito por ele, mas o que aconteceu é absolutamente inaceitável. Não acredito no que acabei de ver”.

A ameaça passou mesmo à prática: Mercedes apresentou protestos, FIA recusou e Max Verstappen está confirmado como campeão

“A FIA quebrou as suas próprias regras, o que é uma desgraça para  o nosso desporto. Seja como for, não obstante o sucedido, os Hamiltons foram humildes na derrota. O meu pai, o homem que nos criou, deu os parabéns ao Max e ao seu pai, Jos. Parabéns ao Max pela época fantástica que fez”, comentou também Nicholas Hamilton, irmão do piloto britânico que destacou a reação da família perante o sucedido mesmo visando a decisão tomada pelos comissários. Harry Kane, capitão da seleção inglesa de futebol, foi outra das muitas personalidades a assumirem posição contra a forma como Hamilton perdeu o título.

Em relação a Toto Wolff, que não mais voltou a ser visto nas horas que se seguiram ao final da corrida em Abu Dhabi, as informações de alguns meios especializados diziam que o diretor da Mercedes se fechou num gabinete e que quando Chris Horner, diretor da Red Bull, tentou entrar em contacto com o “rival”, não conseguiu. No entanto, alguns vídeos que não demoraram a espalhar-se pelas redes sociais mostram Wolff em clima de festa e a saltar para cima de vários elementos da equipa num espaço reservado em Abu Dhabi. A celebrar a conquista do oitavo título de construtores ou a descomprimir pela derrota no título de pilotos, só o próprio poderá explicar no dia em que voltar a falar à imprensa, algo que ainda não aconteceu.