Catarina Martins, coordenadora nacional do Bloco de Esquerda, admitiu continuar à frente do partido mesmo caso este obtenha um mau resultado nas próximas legislativas. “Estou muito empenhada em fazer o meu trabalho”, sublinhou, acrescentando a esquerda tem um “projeto para o país”, ao contrário da direita que se discute “a si própria”. “A nossa escolha é lutar pelo país. Isso é o fundamental.”

Em entrevista à CNN Portugal, Catarina Martins acusou o PS de “não querer fazer nada com a esquerda”, preferindo sonhar com uma maioria absoluta. “Acho um erro.” Culpou ainda os socialistas por não querem negociar com o BE, encetando, em vez disso, conversações com o PCP, que também acabou por não viabilizar o Orçamento do Estado.

“Julgo que isso surpreendeu muito as pessoas, até porque o Partido Socialista tinha vindo a repetir que tinha ali um parceiro fiável [PCP] com quem queria negociar”, afirmou, dizendo que depois o PS “não quis negociar com ninguém, porque quis ir para eleições num momento em que o Governo estava muito desgastado”. Segundo a bloquista, a solução de António Costa foi “precipitar uma crise política e ir para eleições”.

Para Catarina Martins, as eleições antecipadas não foram um cenário que a agradassem, preferindo um “acordo à esquerda” e até não se importava de viabilizar o Orçamento — mas isto, ressalva, apenas se “respondesse às necessidades do país”. “O Governo não fez nada para fixar os profissionais no Serviço Nacional de Saúde”, apontou, deixando ainda uma farpa ao PS: “Sabemos também que arranjou um truque contabilístico para injetar dinheiro no Novo Banco contra aquilo que o Parlamento tinha votado”.

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Sobre a gerigonça, a coordenadora nacional do BE reiterou que terminou em 2019 e que foi “muito importante” para Portugal, explicando que envolveu um documento escrito, que teve “um horizonte para o país”. Não obstante, referiu que foi “difícil” trabalhar com António Costa.

“[O BE] foi força determinante para um dos governos que foi mais importante nos últimos anos. Afastou a direita, afastou os cortes, deu novo horizonte e perspetiva ao país”, disse, indicando que, ao mesmo tempo, tentava sempre ser a “oposição mais exigente”.

No que concerne à relação com o PCP, Catarina Martins descreveu que os dois partidos apresentam “enormes convergências”, mas também têm “divergências”.

Na entrevista, Catarina Martins assumiu-se ainda “marxista”, mas também pertencente a uma “esquerda feminista”, a “uma esquerda ecologista” e a “uma esquerda por todos os direitos e todas as liberdades que não se revia no conservadorismo do PCP”.