A menos de um mês das legislativas antecipadas — as terceiras em pandemia –, os partidos vão ultimando os pormenores quanto à campanha eleitoral que querem colocar na estrada. A Covid-19 já não é nova, faz parte da vida de todos e também dos planos dos próprios partidos na hora de desenhar as ações de campanha. Todos têm isso bem presente, uns mais do que outros, que apontam nunca ter feito campanha eleitoral com “grandes enchentes”.

O Partido Socialista anunciou na manhã desta segunda-feira que vai promover alterações na campanha eleitoral prevista para estas eleições legislativas por força da pandemia. Em declarações ao jornal Público, o diretor de campanha, Duarte Cordeiro, assegurou que “não estão programadas arruadas” como habitualmente conhecemos e também os habituais almoços e jantares comício ficam de fora.

O dirigente socialista não fecha, ainda assim, a porta a eventuais arruadas, como a tradicional descida do Chiado, mas em moldes diferentes. “Uma ação simbólica”, aponta ao jornal Público.

Já o PSD admite que as alterações não vão ser muitas, até porque já desenhou a campanha eleitoral a pensar nas medidas sanitárias. Ao Observador, o diretor de campanha e secretário-geral do partido, José Silvano, assegura que “neste momento, não há nenhuma mudança a fazer”. As ações de campanha já estão a ser ultimadas e “tudo estava programado para decorrer com meios relativamente parcos e poucas aglomerações” devido ao novo coronavírus, aponta o social-democrata.

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José Silvano esclarece que, à semelhança do que acontecerá com a caravana socialista, não estão previstos jantares nem almoços comício. “Já fizemos assim em 2019, tirando uma exceção ou outra”, diz o diretor de campanha do PSD. Exceções, ainda assim, haverá nos últimos dias da campanha social-democrata: “Temos apenas dois dias, que podem ser mudados se a pandemia se agravar, e que serão o penúltimo e o último dias de campanha, em que costuma haver uma concentração no Porto e em Lisboa.”

Partidos mais contidos no tipo de ações de campanha, mas sem abrir mão da “democracia”

Sobre o planeamento da campanha, o Bloco de Esquerda admite que não vai contar com almoços ou jantares de campanha e garante que “os candidatos do Bloco não deixarão de fazer campanha ao lado de quem puxa pelo país — dos trabalhadores precários aos cuidadores informais, dos professores aos profissionais de saúde”.

Numa nota enviada ao Observador, fonte oficial do partido assinala que “já deu provas de que é possível fazer campanhas eleitorais protegendo a saúde pública”. “Faremos as adaptações necessárias em função da pressão sobre o Serviço Nacional de Saúde, mas levamos a sério a democracia”, assegura o Bloco de Esquerda.

Na mesma linha está também o PCP, que afirma estarem “asseguradas as medidas de proteção sanitária” ao longo de toda a campanha da CDU, “privilegiando sempre que possível o contacto direto e o diálogo com o maior número de pessoas”, pode ler-se na nota enviada pelo partido ao Observador.

Do lado do CDS, fonte do partido adianta ao Observador que o modelo para a próxima campanha eleitoral ainda não está fechado, mas sabe-se que a campanha será feita “nas redes sociais e a na rua”. Haverá a tradicional volta nacional, a passar por todos os distritos do continente, sendo que Lisboa, Porto, Braga e Aveiro serão os quatro distritos que terão a presença do líder, Francisco Rodrigues dos Santos, mais do que uma vez em ações de campanha.

“A campanha será essencialmente de rua, em feiras e mercados”, aponta a mesma fonte. O CDS equaciona também organizar comícios em almoços e jantares, cumprindo “todas as regras” sanitárias e com limites de lotação, mas garante que a sua realização dependerá sempre da evolução da pandemia: “Se isto piorar, provavelmente teremos de desistir” dessas ações de campanha.

Também as arruadas estão previstas no programa dos centristas, não as “tradicionais arruadas a que estamos habituados”, mas momentos mais contidos, também dependentes da evolução epidemiológica.

Em sentido contrário, está o PAN, que descarta desde já a realização de arruadas. Ao Observador, a diretora de campanha, Paula Pérez, explica que a agenda já foi pensada à luz da atual realidade e revela que o foco estará sobretudo em ações em espaços abertos, evitando grandes concentrações de pessoas, mas também nas redes sociais.

O PAN admite a organização de comícios em almoços ou jantares, mas com recurso à testagem de despiste à Covid-19 e com limites de lotação. “Apesar de tudo, a campanha já foi pensada sobretudo para limitar muito esse tipo de ações e com foco também no online, já tínhamos esse mindset desde o início”, aponta Paula Pérez.

Quanto à Iniciativa Liberal, o diretor de campanha e secretário-geral do partido, Miguel Rangel, revela que a agenda também já foi pensada tendo em conta o fator pandemia, mas lembra sobretudo que as ações de campanha do partido sempre foram diferentes do habitual.

“Sempre privilegiámos mais meios de comunicação dentro da campanha eleitoral. Todos esses eventos de grandes massas, e que eu diria que 99% das vezes são salas que se enchem de militantes, muitas vezes têm custos elevados de campanha”, explica o dirigente da Iniciativa Liberal.

Miguel Rangel garante que esse não é o método do partido e que “nunca foi nem nunca será”. “Teremos sempre momentos de campanha de acordo com o nosso estilo de ação e com muita responsabilidade. Agora obviamente que a pandemia não pode limitar os direitos democráticos nem prejudicar a transmissão da mensagem”, reforça o secretário-geral da IL.

Número de isolados por Covid-19 a 30 de janeiro preocupa partidos

Mais do que delinear uma campanha eleitoral em pandemia — e com números diários de infetados a bater novos máximos –, os partidos políticos mostram-se principalmente preocupados com o processo eleitoral no dia 30 de janeiro. As previsões apontam para milhares de isolados no final de janeiro, quer infetados, quer contactos de alto risco considerados pelas autoridades de saúde.

O problema tem sido discutido, com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a pedir um “esforço” adicional às autarquias para que todos possam votar. Do lado dos municípios, os autarcas dos concelhos com mais eleitores inscritos nos cadernos eleitorais começam a executar planos para facilitar o voto antecipado e aumentar a capacidade de recolha dos votos dos eleitores que estejam em confinamento.

Essa é uma preocupação liminarmente assumida pelo PSD, que defende que é preciso garantir que todos os portugueses exercem o seu direito de voto. “O nosso maior problema é saber quantos infetados ficam em casa e que não se inscrevem no processo de voto em mobilidade. Se forem muitas centenas de milhares, isso pode condicionar o resultado eleitoral”, explica José Silvano.

O secretário-geral do partido e diretor de campanha, que assegura que o PSD está “minimamente preparado para fazer campanha nas circunstâncias atuais”, considera que o voto em mobilidade pode ser uma hipótese para levar a que os isolados por Covid-19 possam votar no dia 30 de janeiro. “É precisa uma campanha preventiva de mobilização e de divulgação do voto em mobilidade para que todos os isolados saibam que podem votar em mobilidade, como é que o podem fazer, e se existe mobilização por parte das autarquias locais para recolher esses votos”.

José Silvano sugere que, numa segunda fase, as pessoas sejam informadas sobre “os dias da semana e horas a que os seus votos seriam recolhidos, para estarem prevenidas”. De recordar que o prazo para a inscrição para o voto em mobilidade termina no dia 20 de janeiro e a votação terá lugar a dia 23.

Já a Iniciativa Liberal deixa críticas à forma como o processo de votação de cidadãos em isolamento está a ser conduzido. Miguel Rangel, diretor de campanha do partido, aponta que a situação já devia estar salvaguardada, uma vez que estas não são as primeiras eleições a realizarem-se em contexto de pandemia e fala em “clara falha de planeamento”.

“Estamos muito preocupados com o voto dos confinados. É importante governar e governar com antecipação. Não podemos chegar a este ponto e dizer que temos um problema de que não estávamos a espera”, critica o dirigente. Miguel Rangel vai mais longe: “Estamos a dias das eleições e sabemos à data que centenas de milhares de pessoas não vão poder votar porque não se encontraram soluções e isso é altamente grave”.

Para evitar que milhares de portugueses fiquem impossibilitados de votar, o CDS, por seu turno, sugere até “pôr a polícia a ir buscar votos a casa”. Citada pela CNN Portugal, a centrista Filipa Correia Pinto alerta que se o Governo não agir, poderá ocorrer “a subversão do resultado do processo democrático”.