A Evergrande convocou os detentores de obrigações para reunirem em assembleia a fim de tentar que aprovem um adiamento do reembolso da dívida.

A empresa chinesa de imobiliário vai pedir o adiamento, este fim de semana, do pagamento dos juros sobre um empréstimo de 4,5 mil milhões de yuans (cerca de 623 milhões de euros) de janeiro para julho, de acordo com o noticiado durante esta semana. A taxa deste empréstimo está em 6,98%. A maturidade do crédito está fixada em janeiro de 2023 e da responsabilidade da Hengda Real Estate Group, subsidiária não cotada da Evergrande. Com o pedido de adiamento de juros chega também a proposta de não poder haver pedidos de reembolso antecipados.

Isto depois de ter pedido a suspensão da negociação em bolsa logo na segunda-feira, 3 de janeiro, tendo sido retomada no dia seguinte, mas, então, sem dar explicações. Com as sessões desta semana, a valorização anual está nos 8%, mas num ano a perda de valor vai acima dos 87%.

A Evergrande foi um dos temas quentes de 2021. Levou as bolsas a quedas expressivas. Mas quando falhou o pagamento de um dos créditos — de 82,5 milhões de dólares –, levando a Fitch a declarar a imobiliária chinesa em incumprimento, os mercados não pestanejaram tanto.

À quarta, foi de vez. Chinesa Evergrande não pagou dívida e está oficialmente em incumprimento

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E acabou por não acontecer, então, o “momento Lehman” na China que muitos antecipavam, com repercussões para os mercados financeiros mundiais.

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A expectativa de uma reestruturação ordenada da dívida do gigante prendeu as quedas.

“Existem poucas situações de incumprimento (default) tão bem sinalizadas e amplamente esperadas quanto o da construtora e imobiliária chinesa Evergrande”, justifica ao Observador Bernardo Meyrelles do Souto, country manager da EFG Portugal, justificando, assim, que “quando a empresa começou a incumprir e a falhar os seus pagamentos, em 2021, o mercado conseguiu amortecer a situação uma vez  que a queda do império Evergrande estava já antecipada e integralmente descontada no preço”.

Também houve uma intervenção dos poderes públicos chineses, ainda que em menor grau do que aquilo que se previa por parte de Pequim.

“O que foi mais imprevisível em relação à Evergrande foi a resposta do governo chinês. Historicamente, intervém junto das empresas nacionais de forma a garantir um impacto limitado para o resto da economia”, realça Bernardo Meyrelles do Souto, salientando que, “embora o governo [chinês] tenha tomado, de facto, algumas medidas preventivas, assim como o banco central, notou-se que tem havido menos setor público envolvido do que alguns poderiam esperar”, o que “aumentou os temores sobre o setor imobiliário chinês de forma mais ampla, especialmente no que diz respeito à redução das expectativas quanto ao grau de apoio oficial ao setor”. Quando o Grupo Kaisa entrou em incumprimento em 2015, nessa altura, lembra o responsável da EFG Portugal, Pequim “interveio para ajudar os bancos e, mais importante, os grandes credores comerciais”.

Neste caso, e recentemente, o Banco Popular da China reduziu o Rácio de Reserva, libertando recursos, e anunciou planos para reiniciar seu programa de apoio com foco em pequenas empresas e às que estejam envolvidas em atividades ambientalmente amigáveis. Daí que o responsável da EFG Portugal não antecipe riscos de contágio para outras partes da economia ou para os bancos, estando “grande parte do risco já  descontado pelos mercados”. Por outro lado, a queda nos preços dos ativos chineses associados à Evergrande “significa que algumas oportunidades interessantes já estão a surgir nos mercados chineses”.

A Evergrande é a promotora imobiliária mais endividada a nível mundial, com um passivo de perto de 300 mil milhões de euros.

E esta quinta-feira outra imobiliária chinesa não pagou um empréstimo. A Shimao falhou o pagamento de um crédito de quase 100 milhões de euros, segundo noticiou a Reuters. E uma concorrente mais pequena, a Guangzhou R&F Properties, também comunicou não ter dinheiro suficiente para recomprar um pacote de obrigações de 700 milhões, porque falhou a venda de ativos que tinha planeado. É por isso que a Reuters escreve que os promotores chineses estão a enfrentar um problema sem precedentes de liquidez.