À quarta, foi de vez. A gigante imobiliária chinesa Evergrande falhou, oficialmente, o pagamento dos juros de uma dívida em dólares, levando ao corte de rating por parte da Fitch para um nível de incumprimento. Para já, porém, a notícia – há vários meses vista como inevitável – não está a causar o abalo nos mercados financeiros que alguns temiam.

A empresa já tinha avisado no final da semana passada que não havia garantia de que iria conseguir cumprir os próximos pagamentos de dívida. Esta segunda-feira terminou o período de carência de 30 dias para um pagamento de juros no valor de 82,5 milhões de dólares (o equivalente a 73 milhões de euros) e, desta vez, a chinesa não conseguiu cumprir o pagamento à última hora, como fez por três vezes nos últimos meses.

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Como assinala a agência Bloomberg, porém, a confirmação do colapso não está a ser o “momento Lehman” que muitos avisavam que poderia verificar-se na China, com eventuais repercussões para os mercados financeiros mundiais. Uma injeção de liquidez por parte do banco central chinês nos últimos dias e a expectativa de que haverá uma reestruturação ordenada da dívida são alguns dos fatores que estão a atenuar o impacto do default.

A reestruturação da dívida, que ascende a mais de 300 mil milhões de dólares (265 mil milhões de euros), foi admitida pela primeira vez pela Evergrande no comunicado emitido na sexta-feira. A empresa “está a avaliar a situação financeira global e, de acordo com os interesses de todos os stakeholders e no respeito dos princípios da justiça e legalidade, planeia negociar com os credores internacionais um plano de reestruturação viável da dívida que a empresa tem no exterior, para benefício de todos os stakeholders”, isto é, todos aqueles que têm ações, obrigações ou outras exposições à empresa.

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O presidente da Evergrande já foi chamado pelas autoridades chinesas no que poderá ser um passo no sentido de haver algum tipo de envolvimento estatal nessa reestruturação. O processo deverá significar o fim de um império criado por Hui Ka Yan, a certa altura um dos homens mais ricos da Ásia.

À medida que a Evergrande cresceu, e a dívida se acumulou, Hui Ka Yan recebeu o equivalente a 6,8 mil milhões de euros em dividendos extraídos da empresa, desde 2009. Apesar de nesse ano Hui Ka Yan ter aberto o capital da empresa na bolsa de Hong Kong, conservou para si próprio uma participação ultra-maioritária de 77% – e, ao longo de todos estes anos, mesmo com o endividamento da empresa a subir cada vez mais, até níveis estratosféricos, a Evergrande (quase) nunca deixou de pagar dividendos.

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