Eram ambições diferentes, mas ambas relativas aos oitavos de final da Taça das Nações Africanas. Do lado dos Camarões, orientados pelo português António Conceição, garantir de vez o primeiro lugar do Grupo A. Já a lusófona equipa de Cabo Verde, que não dependia de si só para isto, queria alcançar um resultado que a colocasse também nos últimos 16 conjuntos da CAN já na fase a eliminar. Os tubarões azuis estavam dependentes do resultado do Burkina Faso, tinham sempre que fazer melhor resultado, mas caso não o conseguissem, tinham pelo menos de assegurar um marcador final e um conjunto de pontos que valesse a Cabo Verde um lugar nos quatro melhores terceiros (que também são apurados).

Nos leões indomáveis de Conceição, que mesmo já apurado manteve boa parte dos titulares (Choupo-Moting ficou de fora numa gestão que tem sido habitual), o primeiro lugar do grupo era essencial e faria com que o treinador conquistasse a terceira fase de grupos nos Camarões, depois da qualificação para a CAN e o acesso aos playoffs de acesso ao Mundial do Qatar, que se realiza no inverno deste ano. O português referiu na antevisão, segundo o jornal O Jogo, que queria uma equipa a sair “motivada e confiante com um triunfo”. “Sabemos que Cabo Verde joga pelo apuramento. Trata-se de uma equipa muito bem organizada, tem muita gente atrás da linha da bola, explora bem a transição da defesa para o ataque e com boa estratégia nas bolas paradas. É preciso estarmos preparados, mando a mesma ambição”, referiu.

A jogar em casa, a equipa dos Camarões tem sentido “carinho e apoio não só no estádio”. Também “nas ruas tem sido um mar de gente”. “É assim, com uma força extra, que os jogadores são incentivados e acicatados para ultrapassarmos as dificuldades”, acrescentou, falando ainda numa “caminhada dura”.

Em Yaoundé, os olhos dos adeptos da casa estavam postos sobretudo no capitão camaronês: Vincent Aboubakar. Com quatro golos em dois jogos na competição, o ex-FC Porto está a ser o MVP da CAN até agora, igualando recordes do presidente da federação do seu país. Um tal de Samuel Eto’o. O avançado de 29 anos do Al Nassr igualou Eto’o com golos em três jogos consecutivos na Taça das Nações Africanas e viria, durante o encontro desta segunda-feira, a igualar um outro: chegar aos cinco golos numa CAN, algo que o antigo avançado conseguiu em 2008.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Mesmo com apuramento no bolso, a equipa camaronesa queria assegurar mais uma vitória e foi a equipa mais pressionante durante a primeira parte, num jogo nem sempre bem jogado, mesmo que disputado. O ascendente era camaronês, Cabo Verde procurava sair na velocidade, mas com pouca definição, sendo que o tal golo recordista de Aboubakar, aos 39′, acabou por levar o jogo para o intervalo com um marcador de números justos. Além do remate certeiro, há que destacar o que Aboubakar faz pela sua equipa mesmo enquanto avançado de referência. Recua, dá-se ao jogo, puxa a equipa, faz de tudo por si e pelos seus.

E mesmo que no futebol não haja magia num sentido literal, como disse Roger Milla, o jogador mais velho de sempre a marcar num Mundial, aos 42 anos e 35 dias, foi a própria lenda Milla a presentear Aboubakar com uma espécie de vassoura mágica, numa tradição camaronesa que simboliza a vitória dos sábios, segundo a jornalista Juliet Bawuah. “O seu dever é marcar golos, mas fazer quatro golos em duas jornadas num torneio tão difícil como a CAN faz-lhe bem à moral”, referiu Milla.

A equipa de Cabo Verde quase que empatou aos 44′, apenas por milagre a bola não entrou na baliza de Onana, e António Conceição via a sua equipa ir para os balneários a vencer, mas não podia estar descansado. Tanto assim foi, que Cabo Verde assumiu o jogo na segunda parte, ainda que numa situação permitida pelos camaroneses, mas numa jogada rápida, um cruzamento da direita terminou com Garry Rodrigues, que entrou ao intervalo, a fazer o empate aos 53′.

A partir daí foi jogo praticamente de sentido único, com os Camarões a apertarem os cabo-verdianos (e com oportunidades de golo) que, com quatro pontos, ainda que virtuais durante essa altura, estavam bem classificados no mini campeonato das equipas a ocuparem os terceiros lugares de cada um dos grupos. O jogo acabou com os tubarões azuis a sofrerem muito, a despejarem bolas para onde não havia colegas de equipa, mas a conseguirem muito provavelmente um primeiro objetivo: estar mesmo na luta pela qualificação. Isto porque, no tal jogo que também contava, Burkina Faso e Etiópia empataram a um golo.

Do lado de António Conceição e os Camarões, tudo normal. O primeiro lugar do grupo e um apuramento tranquilo com sete pontos. E pelo que já mostrou temos candidato.