“Só os burros não mudam.” Foi num jantar-comício em Coimbra, no dia do arranque oficial de campanha, que Paulo Ralha — ex-militante do PS, ex-candidato do BE por Braga e antigo apoiante de Marisa Matias — trouxe a frase popularizada por Mário Soares para justificar a mudança da esquerda para a direita: “Como eu não sou burro, mudei.”

André Ventura subia ao palco logo de seguida, no mesmo sítio onde decorreu o penúltimo Congresso do Chega, para dar seguimento à ideia e para abrir as portas a todos: “As pessoas convertem-se e mudam, é possível mudar.” Ventura não se distancia e dá-se como exemplo. “Paulo Ralha disse aqui que acreditou na esquerda, como eu acreditei no PSD, que é de esquerda, na verdade”, começa por dizer, apontando tudo o que fez várias pessoas “mudar de campo”, com referências à corrupção, ao “clientelismo do Estado” e à “luta por um Portugal mais decente”.

A ideia que o líder do Chega quis passar ficava no ar: “Quem nunca esteve do lado errado?” André Ventura insistia numa ideia que há muito propaga, que “no Chega estão pessoas de todas as forças políticas, pessoas que estiveram no PSD, CDS, PCP, PS, Bloco de Esquerda”, o que é visto pelo partido como um “sinal” de que existe um “caminho alternativo”.

André Ventura continuava a dedicar minutos a quem se converteu ao Chega e, apesar de lhe “doer a alma”, até aceita quem tenha votado em José Sócrates. Depois de enunciar que na sala devia haver quem tinha votado em Sá Carneiro, Cavaco Silva ou Pedro Passos Coelho, falou do ex-líder do PS, ouviu um dos militantes presentes a dizer que fazia parte daqueles que tinham dado o voto ao socialista e atirou: “Errar é humano.”

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A cabeça de Ventura que (ainda) está nos debates

De ex-socialista para socialista, André Ventura aproveitava a presença de dezenas de militantes para contar um segredo (e mostrar onde anda a cabeça do líder do Chega): “O debate com António Costa soube tão bem, aquele minuto final, meu Deus. Às vezes sonho com aquele minuto e meio.”

Houve tempo para um rol de críticas ao primeiro-ministro e aos seus ministros, para sugerir que António Costa não tem lutado contra a corrupção.

O PS tinha, até aquele momento, tomado conta do discurso de Ventura antes do arranque oficial da campanha eleitoral, mas o líder do Chega tinha balas para distribuir por todos, a começar pelos partidos que deram apoio aos socialistas e questionando sobre o que “vai ser o país com uma maioria de esquerda, ainda por cima desavinda”.

“Catarina Martins diz não quer governar, mas aceita acordo escrito. Bloco de Esquerda mandou abaixo o Governo do PS e agora quer um governo com acordo escrito. O PCP defende que pode haver um novo acordo, mas não diz qual. Agora temos uma nova variante: o PAN diz que está disposto a governar”, começou por enumerar. Mas a “tristeza” de André Ventura é que Rui Rio não procure por “uma alternativa de Governo”.

O líder do Chega até admite “Rui Rio é o melhor para o Chega”, mas “é tão mau para o país”. “Rui Rio é como o melhoral, não faz bem, nem faz mal, é absolutamente igual”, atira entre risos. Ainda antes de frisar que a “falta de entusiasmo no PSD” apenas é “comparável” com “a do Chiquinho no CDS”. “A média de idades no CDS deve andar nos 13 anos”, atirou.

André Ventura recusou a ideia de que o Chega está “a perder gás”, assegurou que o partido vai mesmo conseguir consolidar-se como a terceira força política e apontou aos adversários à direita para dizer que “o problema não é o radicalismo”, mas o facto de o partido querer “cortar nos tachos e nas clientelas”. O líder do Chega queria passar a mensagem de que os outros partidos “vivem dos tachos e das clientelas”, o que os leva, na visão de Ventura, a ter um “enorme medo do resultado do dia 30 de janeiro.