Com os resultados praticamente fechados, André Ventura mostrou-se disponível para viabilizar um orçamento retificativo sem a necessidade de acordo com o PSD, ao contrário do que antecipa para um Orçamento do Estado, em que mantém a intenção de chumbar caso a Aliança Democrática mantenha o “não é não” a conversações.

Com uma “amplíssima maioria parlamentar” entre PSD e Chega que André Ventura considera que “não pode nem deve ser desperdiçada”, o líder do partido conservador quis deixar a garantia de que tudo fez e fará para que se alcançar uma “plataforma de estabilidade que dê quatro anos de governabilidade em Portugal” — deixando claro que até ao momento não foi possível obter “nenhum acordo duradouro de estabilidade”.

E perante esta decisão de Montenegro, Ventura começou a antever as decisões dos próximos tempos, desde logo num possível orçamento retificativo apresentado pelo PSD: “Se o orçamento retificativo conseguir dar sinais nestas várias matérias o Chega está disponível para o trabalhar, avaliar e viabilizar.” E explicou que está disponível para avaliar o documento “se se cingir em matéria de correção ao Orçamento do PS a três ou quatro pontos o Chega está aberto a verificar a possibilidade de o avaliar” — com destaque para questões de polícias, professores, médicos, enfermeiros e diminuição de impostos.

Já o Orçamento do Estado “é muito diferente” e, nesse caso, o presidente do Chega reiterou em conferência de imprensa o que já tinha dito após as eleições legislativas, frisando que “não há nenhuma possibilidade de ser viabilizado um Orçamento do Estado sem haver um acordo”.

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Ainda que “nenhum acordo duradouro de estabilidade” tenha sido alcançado, André Ventura revelou que já deu indicação para que várias matérias possam avançar sem esse acordo: “A equiparação do suplemento de missão das forças de segurança, a recuperação do tempo de serviço dos professores, a recuperação urgente de impostos, sobretudo sobre as pessoas singulares, a reforma da justiça, com a consequente luta contra a corrupção e garantia de independência das polícias e magistrados podem avançar e terão luz verde no Parlamento mesmo sem um acordo de profundo em matéria de governação ou orçamental” são as prioridades que o partido estabeleceu e que podem ser aprovadas com o voto a favor do Chega, mesmo que não haja um entendimento geral.

E revelou ainda que no “momento zero” da legislatura, o Chega irá avançar com uma proposta para “equiparação do suplemento de missão a todas as forças de segurança, guardas prisionais e forças militares” e também uma proposta de “reforma no âmbito da luta contra a corrupção”.

Ventura considera que “está a haver uma aproximação entre PSD e PS” que “reforça o papel do Chega como líder da oposição” e destacou a eleição da “marca histórica” de 50 deputados, sublinhando que “ultrapassa largamente todos os partidos que na História de Portugal desde o 25 de Abril procuraram fazer frente a PS e PSD” e mostrando que este resultado “assinala o fim do bipartidarismo” e uma “nova era que deve combinar os três maiores partidos como forças dominantes”.

“O Chega terá vencido as eleições nos círculos da emigração obtendo dois deputados”, disse quando os resultados oficiais ainda não tinham sido oficializados, mas quando já se sabia que o partido elegeu dois deputados, a AD um e o PS um — “ficando em primeiro na Europa e segundo Fora da Europa”.

Dirigindo-se aos emigrantes, o líder do Chega realçou que “votaram pela mudança sinalizando os erros que PS e PSD cometeram” e descreveu-o como um “resultado histórico” com “um partido a vencer em número de votos” nos círculos estrangeiros. “Revoltaram-se com justiça e firmeza para dizer que querem um país diferente”, sublinhou, reconhecendo que “o resultado superou largamente as expectativas, mesmo as mais otimistas”.

Relativamente à não eleição de Augusto Santos Silva, cabeça de lista do PS pelo círculo Fora da Europa, o presidente do Chega destacou uma “vitória particularmente importante”: “É o símbolo da humildade sobre a arrogância, da democracia sobre a cegueira ideológica e institucional e a vitória do Chega sobre o sistema socialista que nos últimos anos, ancorado numa maioria absoluta, tinha aniquilado, censurado e atacado o Chega.”

“Eleitores deram-lhe uma mensagem clara: não o querem no Parlamento e muito menos a presidente”, reiterou, frisando que este resultado “livrou-nos de um ativo tóxico do socialismo dominante”.