Falhou o encontro da Taça de Inglaterra em Old Trafford frente ao Aston Villa, falhou o jogo da Premier League diante do mesmo Aston Villa, estava em dúvida em mais um encontro do Campeonato. A presença de Cristiano Ronaldo era um dos grandes focos em torno da deslocação do Manchester United a Brentford, um jogo de especial importância depois de mais dois pontos perdidos na ronda anterior e de todo o ruído que tem existido em torno da equipa e também do português tendo como base comum o mal de todos os projetos desportivos no futebol: as más exibições e a escassez de resultados até com mudança técnica.

“Antes do último jogo também estava convencido de que o Cristiano estaria apto, e, no final, não estava. Aquilo que ele fez ao longo da carreira, até agora, é fantástico. 800 golos em jogos oficiais, ninguém alcançou essa marca nos últimos 80 ou 100 anos, e isso demonstra o tipo de jogador excecional que é. Não esteve disponível nos dois últimos jogos, já treinou ontem [segunda-feira], e, provavelmente, vai treinar novamente, hoje [terça-feira]. Depois, teremos de ver se será opção contra o Brentford. Mas mesmo com um fantástico Ronaldo, estamos a falar de um desporto coletivo”, explicara o alemão Ralf Rangnick.

O técnico sabia que o número 7 não tem propriamente uma varinha mágica para colocar a equipa a ganhar e a jogar bem de forma instantânea, alertando por isso para o facto de “não resolver jogos sozinhos”, mas a reentrada de Ronaldo na equipa depois dos problemas num músculo da anca seria pelo menos a garantia de maiores probabilidades de apresentar uma equipa com uma referência capaz de fazer a diferença na zona de finalização. Faltava o resto, a criação. E era aí que entroncava o principal problema apesar da boa primeira parte da equipa até ao colapso no último quarto da hora partida que deixou os red devils na sétima posição da Premier League tendo os londrinos West Ham, Arsenal e Tottenham na frente.

Voltando a apostar no 4x2x3x1 que apresentara em Birmingham com o Aston Villa, Rangnick fez apenas duas mexidas com a entrada de McTominay para o lugar de Matic e de Ronaldo para o eixo ofensivo em vez de Cavani, deixando Bruno Fernandes, marcador dos dois golos da equipa no último encontro, na posição teórica de quase segundo avançado no apoio ao compatriota mas que na prática se transformava quase num 8 pelo que tinha de descer até à zona de construção. E a primeira parte voltou a ser uma sombra do que a equipa seria capaz de fazer, antes de dois golos em sete minutos que resolveram a questão e colocaram o foco no descontentamento de Ronaldo ao ser substituído a 20 minutos do final.

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A aproveitar qualquer bola parada para colocar o perigo na área, o Brentford conseguiu sempre ser muito mais explícito nos lances no último terço e foi assim que criou a primeira grande oportunidade da partida, com Diogo Dalot a falhar um passe curto sob pressão dos avançados contrários até Jensen surgir isolado na área descaído sobre a direita a rematar para grande defesa de David de Gea (13′). O lateral português ainda criou perigo numa tentativa de meia distância que saiu ligeiramente ao lado da baliza de Lössl mas seriam de novo os visitantes a ficar perto do golo numa saída rápida após canto do Manchester United que acabou com mais uma chance flagrante de Jensen isolado travada com os pés por De Gea (33′). O intervalo chegava com o nulo mas de novo mostrando a pior versão dos red devils, incapazes de criarem perigo.

Mais 45 minutos desperdiçados, mais uma reentrada com efeitos práticos, agora com uma saída conforme o esperado: depois de um cabeceamento à trave de Ronaldo após cruzamento de Bruno Fernandes (47′), Elanga inaugurou o marcador na sequência de um grande passe de Fred (56′) e Greenwood ampliou pouco depois a vantagem numa fantástica jogada em que Ronaldo lançou Bruno Fernandes em velocidade com o peito e o médio deixou para o jovem avançado inglês encostar para a baliza deserta (62′).

O resultado estava feito, o “caso” ainda estava para chegar: depois de ser substituído aos 70′ por Maguire, Ronaldo fez questão de manifestar todo o seu descontentamento com a saída expressa primeiro por palavras e depois com o atirar de um casaco ao chão antes de Rangnick ir falar com o 7 enquanto Rashford fazia o terceiro (77′). Toney, a seis minutos do final, ainda fez o golo de honra dos visitados mas as câmaras estavam todas focadas no português que, apesar de tudo, mostrava uma cara diferente no final do encontro. O que o treinador alemão lhe disse, ninguém sabe. Mas que surtiu efeito, aparentemente sim.