O historiador Rui Tavares defendeu esta sexta-feira que “chega de uma direita a propor austeridade”, mas também de uma “esquerda que só reage em vez de propor modelos de futuro”, afirmando que o Livre pode fazer essa diferença.

Na última ação de campanha do Livre antes do fim da corrida eleitoral para as legislativas, Rui Tavares esteve no bairro da Graça, em Lisboa, para tentar convencer os últimos indecisos, numa entrega de panfletos.

“Chega de haver uma direita a propor ou austeridade, ou privatizações, mas depois uma esquerda que só reage em vez de propor modelos de futuro. O Livre trouxe a esta campanha assuntos de futuro e a partir do próximo dia 31 quer levá-los ao parlamento”, declarou.

Questionado sobre o que pode haver de diferente à esquerda depois de não ter havido um entendimento para aprovar o Orçamento do Estado para 2022, Tavares apontou o Livre como uma possível solução.

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“O que pode haver de diferente é efetivamente o Livre estar na Assembleia da República e isso não havia até agora”, respondeu Tavares, em declarações aos jornalistas.

O dirigente quer levar à Assembleia da República uma maneira de fazer política que “leva uma cultura de diálogo e compromisso” que, para já, “põe exigência à esquerda”.

“Porque não tenha dúvidas de quando PS, PCP e Bloco virem que o Livre com posições de convergência foi eleito, voltou à Assembleia da República o que é aparentemente, segundo as sondagens, o único partido à esquerda que cresce entre 2019 e 2022, eles entenderão a mensagem que é que o eleitorado de esquerda favorece essas convergências”, vincou.

O historiador sustentou que é preciso um “modelo de desenvolvimento de futuro para o país”, baseada numa “economia do conhecimento e da descarbonização”.

O dirigente do Livre insistiu na ideia de que um governo de bloco central, entre PS e PSD, “é indesejável” e alertou para eventuais “perigos” de uma revisão constitucional “sem a ter debatido”.

Rui Tavares apontou que, “entre os dois maiores partidos”, Rui Rio “desde sempre revelou uma quase obsessão pela revisão constitucional, por causa das magistraturas, por causa do poder judicial e agora tem no programa do PSD uma revisão por causa das alterações climáticas que é de facto um exemplo de total branqueamento e de total utilização das alterações climáticas para um assunto que nada tem a haver com elas”.

“Pior, é se PS e PSD estiverem a fazer um acordo de governação, evidentemente que Rio porá uma revisão constitucional em cima da mesa e, portanto, é preciso ter muita atenção”, advertiu Tavares, argumentando que “quem está indeciso em votar no PS ou no PAN” para não ter Rui Rio no governo pode estar a votar “de uma forma e ver o seu voto ser utilizado de outra”.

No bairro da Graça, Rui Tavares distribuiu folhetos

Na reta final da corrida eleitoral, Rui Tavares escolheu o bairro da Graça, onde já viveu, para distribuir folhetos e reencontrar algumas caras conhecidas, vincando que a eleição de apenas um deputado do Livre será “insuficiente”.

A comitiva do Livre juntou-se na zona de Sapadores, em Lisboa, pronta para descer toda a rua da Graça, rumo ao miradouro.

Por entre os passeios apertados da capital, Rui Tavares lembrou que estudou perto do bairro da Graça e mais tarde comprou casa nesse local, sendo que recentemente se mudou para Arroios.

O cabeça de lista por Lisboa, acompanhado da candidata número dois da capital pelo Livre, Isabel Mendes Lopes, e uma pequena comitiva de apoiantes — que de vez em quando gritavam “Vota Livre” — entrou em vários estabelecimentos rua abaixo, entre os quais papelarias, restaurantes ou cafés que costumava frequentar, reencontrando alguns “vizinhos”.

Já perto do miradouro da Graça, com vista para toda a cidade e com o rio Tejo como pano de fundo, Rui Tavares entrou na cervejaria “A Mourisca”, onde bebeu um café e ficou algum tempo a conversar com Carlos Silva, dono do estabelecimento desde 2011, mas que trabalha neste restaurante desde os anos de 1980.

Com a televisão a emitir a arruada do PS, no Chiado, e António Costa a falar ao fundo, Carlos Silva confessou que o negócio “está muito mau”, mas mostrou-se disposto a “resistir”, confessando que não teve que despedir ninguém na pandemia causada pela Covid-19, apenas teve que “tirar algumas coisitas” aos empregados que “compreenderam”.

“Esta zona aqui sem turismo… correram com os portugueses para fazer hostéis, agora não há ninguém para os hostéis, turistas também não há”, lamentou.

“Ainda há bocado ali no largo encontrei um amigo lojista que estava a dizer ‘a loja continua aqui, mas a renda da casa, não vou conseguir continuar na Graça’. Ao mesmo tempo aqui este bairro, que tinha uma coisa quase de aldeia, um espírito do pessoal que se conhecia há décadas, foi tudo saindo, saindo e depois fica preso consoante as flutuações do turismo: se há, há, se não há é uma desgraça”, respondeu Rui Tavares na conversa, aditando que neste contexto “a Graça perde a graça, no fundo”.

A comitiva seguiu caminho e continuou a entregar panfletos, naquele que foi o esforço final de campanha do Livre, rumo ao dia 30, antes de se deslocar para uma ação semelhante desde o Cais do Sodré até Santos.

Momentos antes, em declarações aos jornalistas, Tavares vincou que eleger um deputado no domingo — repetindo o resultado de 2019, quando o partido elegeu Joacine Katar Moreira, a quem acabou por retirar a confiança política — “é insuficiente”.

O dirigente lembrou as limitações que um deputado único tem na Assembleia da República , dando como exemplo o tempo de palavra, que é menor consoante a representatividade.

“Ficaríamos todos a perder com isso: nem tanto o Livre, mas toda a gente que espera que o Livre traga propostas à Assembleia da República. Para isso, é muito importante termos um grupo parlamentar. As sondagens dão-nos essa possibilidade com a eleição em Lisboa e no Porto e dentro da margem de erro em Setúbal também, embora seja importante votar no Livre em todos os círculos eleitorais”, apelou.

O cabeça de lista por Lisboa disse ainda que o partido pode ser uma “novidade na política”.

“Nós não podemos passar a vida a queixarmo-nos que a política não é suficiente, que a política em Portugal não é feita da maneira correta e depois quando chega a altura das eleições beneficiar os infratores e não premiar quem tenta trazer política com mais conteúdo, e mais elevação no debate à Assembleia da República”, defendeu.

Desta vez, o Livre quer regressar à Assembleia da República “para ficar”, insistiu.