Com apenas 18 anos, é uma das promessas do ski freestyle em todo o mundo e promete fazer furor nestes Jogos Olímpicos de Inverno, podendo mesmo ganhar três medalhas de ouro. No entanto, o nome de Eileen Gu está no meio de uma guerra desportiva e geopolítica entre Estados Unidos e China. Filha de mãe chinesa e pai norte-americano, a jovem nasceu em São Francisco e cresceu nos EUA, mas decidiu juntar-se ao comité chinês e representar Pequim.

“Foi uma decisão muito difícil para mim”, escreveu em inglês Eileen Gu nas redes sociais, acrescentando que “está orgulhosa” da sua origem e “igualmente orgulhosa” da sua “educação americana”.

A “oportunidade para inspirar milhões de jovens onde a minha mãe nasceu [China], durante os Jogos Olímpicos em Pequim de 2022 é uma oportunidade de uma vida para ajudar a promover o desporto que eu amo”, justificou

O objetivo da jovem de 18 anos é conseguir “unir pessoas, promover o entendimento e criar amizades entre as nações” através do ski”. “Se eu puder ajudar uma menina a chegar mais longe, os meus sonhos tornar-se-ão realidade.”

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Tendo já representado os EUA em 2017 e 2018, Eileen Gu sempre sentiu que não havia figuras de destaque na área do ski na China e quis apresentar-se como um. Mas há outras razões que a levaram a representar a China. Numa entrevista à Forbes, a jovem conta que a mãe estudou bioquímica na Universidade Rockefeller em Nova Iorque e fez um MBA na Universidade de Stanford, na Califórnia, onde acabou por ficar a morar. A avó depois também veio para os EUA, apesar de nunca ter aprendido a falar inglês. 

“Vivíamos todos juntos e a minha avó não falava inglês, por isso falávamos chinês. Elas são as maiores influências da minha vida”, recorda, indicando ainda que passava os verões na China. Sobre a sua nacionalidade, Eileen Gu desmitifica o conceito e diz apenas que, desde que quando “era pequena”, sempre disse que “quando estava nos EUA era norte-americana, mas quando estava na China era chinesa”.

Ainda assim, a questão da sua nacionalidade permanece dúbia. Qualquer atleta que queira representar a China tem de ter nacionalidade chinesa — além de que, à luz da legislação de Pequim, é impossível obter dupla nacionalidade.

Esta questão não é, contudo, impeditiva de Eileen Gu usufruir de uma enorme popularidade na China, onde é considerada uma estrela em ascensão: é presença assídua em capas de revistas e cartazes, publicitando desde uma marca da leite à Victoria Secret. Em vídeos promocionais antes dos Jogos Olímpicos, a cara da jovem de 18

anos também é presença assídua. E até nas redes sociais o impacto é muito maior em Pequim; se no Instagram se fica pelos 785 mil, na Weibo — uma plataforma chinesa — chega quase aos dois milhões.

Pelo contrário, nos Estados Unidos, vários questionam a escolha da atleta, que recentemente tem recusado dar entrevistas, alegadamente por estar cansada de responder a perguntas sobre as alegadas violações de direitos humanos no campo de concentração de Xinjiang — assunto sobre o qual nunca partilhou publicamente a sua opinião.

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Recorde-se que os Estados Unidos boicotaram diplomaticamente esta edição dos Jogos Olímpicos de Inverno, devido à situação dos direitos humanos na China.