Lewis Hamilton, mais do que um piloto, um atleta e um campeão do mundo, é um verdadeiro ativista. E tem passado os últimos anos da carreira a conciliar a temporada de Fórmula 1 com a luta contra o racismo, a luta contra a homofobia, a luta contra a discriminação e a luta contra as violações dos direitos humanos. O grande telhado de vidro de Lewis Hamilton, porém, é a própria Fórmula 1 — que tem poucos problemas em realizar corridas em países que não têm os quatro problemas acima como especial prioridade.

Nada que impeça o piloto, porém, de sublinhar isso mesmo. O Mundial 2022 de Fórmula 1 arranca no próximo domingo com o Grande Prémio do Bahrain, uma corrida que na época passada levou Hamilton a lembrar a própria modalidade de que já não pode ignorar os problemas sociais e estruturais dos países que visita. “Durante todos estes anos em que aqui vim, não tinha noção de todos os detalhes dos problemas relacionados com os direitos humanos. Passei algum tempo a falar com especialistas legais em direitos humanos, com organizações como a Amnistia Internacional. Visitei o embaixador do Reino Unido aqui no Bahrain e também falei com responsáveis do país. Neste momento, os passos que dei são privados e acho que essa é a melhor forma de prosseguir. Mas estou claramente comprometido com a tarefa de ajudar da forma que puder”, disse, na altura, o inglês.

Como Schumacher nos títulos, como Senna no impacto, único nas causas: Lewis Hamilton, um fenómeno à parte na Fórmula 1

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Cerca de um ano depois, as palavras de Lewis Hamilton continuam a inspirar aqueles que são diretamente afetados pelos problemas de que o piloto falou em março de 2021. Esta segunda-feira, de acordo com o The Guardian, o inglês recebeu uma carta de um preso político no Bahrain: Ali Alhajee explicou que os reclusos tinham deixado de assistir às corridas de Fórmula 1 em protesto, precisamente porque a modalidade insiste em visitar países que não respeitam os direitos humanos, mas que as declarações de Hamilton mudaram esse tipo de atitudes.

“A tua preocupação genuína com estes casos mudou a forma como os prisioneiros olham para este desporto. Para nós, és o nosso campeão. És não só o melhor piloto como também um ser humano que se preocupa com o sofrimento dos outros. O nosso apoio reflete-se num novo fenómeno que se espalhou na prisão: os reclusos começaram a escrever ou a desenhar ‘Sir 44’ e ‘Lewis 44’ nas roupas que depois vestem a ver as corridas”, pode ler-se na carta a que o The Guardian teve acesso através do Bahrain Institute for Rights and Democracy (Bird).

Lewis Hamilton vai mudar de nome e incluir o apelido de solteira da mãe

Ali Alhajee revela que foi condenado a 10 anos de prisão por ter organizado protestos pacíficos em Manama, a capital do Bahrain, e que foi sujeito a tortura durante o interrogatório. “Sou um homem livre apesar das minhas algemas e das paredes da cela. As paredes de cimento na minha cela não me travam quando tenho de expor os abusos que sofremos a partir de dentro. Os prisioneiros olham para ti não só como um campeão mundial mas também como alguém que está a defender os direitos deles. Eu, em conjunto com os meus companheiros de cela, desejo-te o melhor na corrida no Bahrain. Por favor, lembra-te de que tens apoiantes na prisão. Apoiantes que te seguem e que torcem por ti em todas as corridas”, acrescentou.

Recentemente, a Fórmula 1 assinou com os promotores do Bahrain aquele que é tido como o contrato mais longo da modalidade — até 2036, por mais 14 anos, o país vai receber uma corrida do Mundial. Atualmente, as Nações Unidas consideram que o Bahrain permite “egrégias violações da lei humanitária internacional e da lei internacional dos direitos humanos, incluindo ataques indiscriminados contra civis, desaparecimentos forçados e tortura”. Em reação a tudo isto, a Fórmula 1 limitou-se a dizer que leva as respetivas responsabilidades “muito a sério” e que tem “padrões éticos muito altos” em relação a todos os parceiros com quem trabalha.