Hoje é Sexta-feira. Santa.

Por tudo, quanto mais não seja pela história, é dia de morte.

Morte de todos quantos sucumbem à injustiça.

De todos quantos morrem por doença.

De todos quantos morrem por desemprego.

De todos quantos morrem pelo fim de uma amizade ou de uma relação.

De todos quantos morrem pela perda de um familiar ou amigo.

De todos quantos morrem por incompreensão.

De todos quantos morrem por pobreza.

Ou, também, de todos quantos morrem por falta de acesso à educação.

A cada “morte” que vivemos, se não for morte física, definitiva, teremos oportunidade de renascer mais sábios, mais fortes, mais humanos.

Estas ressurreições, embora normalmente dolorosas, são cruciais para o nosso desenvolvimento pessoal e para a compreensão de nós mesmos e do mundo que nos rodeia.

O dia serve, assim, também para refletir sobre as inúmeras perdas pela fatalidade natural da existência, vulneráveis que somos às mãos da injustiça, da indiferença, da crueldade, do desinteresse, do abandono. Dia de luto coletivo. E dia de histórias de dor que não se contam, histórias que permanecem escondidas, histórias anonimizadas.

Morremos, nas nossas próprias vidas, por variadíssimas razões. Mas está em nós o trabalho e a vontade para ressurgirmos e impormos a necessária mudança.

Se o dia é para reconhecer perdas não será menos, também, para calibrar a esperança da renovação, não só como indivíduos, mas como humanidade, unidos por todas as muitas mortes e ressurreições que compartilhamos ao longo da vida.

“Este é o dia. Esta é a hora, este o momento, isto é quem somos, e é tudo. Perene flui a interminável hora que nos confessa nulos. No mesmo hausto em que vivemos, morreremos. Colhe o dia, porque és ele.”

(Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa in “Odes”)

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