O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, acusou esta quarta-feira os russos que não apoiam a invasão da Ucrânia de serem traidores e apelou a uma “auto-purificação” da sociedade russa. Num discurso errático transmitido pela televisão pública russa, Putin disparou em todas as direções e atacou especialmente todos aqueles que não estão mentalmente do lado de Moscovo — mesmo que vivam fora das fronteiras russas.

Os russos “serão sempre capazes de distinguir os verdadeiros patriotas da escória e traidores, e simplesmente os cuspirão, como um mosquito que acidentalmente voou para as suas bocas”, disse Putin. “Estou convencido de que uma auto purificação tão natural e necessária da sociedade só fortalecerá o nosso país”, acrescentou o líder russo.

Putin acusou o Ocidente de estar a usar uma “quinta coluna” de russos traidores para criar distúrbios civis. “E há apenas um objetivo, já falei sobre isso — a destruição da Rússia”, disse.

O Presidente russo atirou também conta “aqueles que fazem dinheiro aqui, no nosso país, mas vivem lá fora, e ‘vivem’ não apenas no sentido geográfico, mas nos seus pensamentos, na sua consciência, que está escravizada”. Putin continuou, depois, num discurso críptico: “Não condeno aqueles que vivem numa mansão em Miami ou na Riviera Francesa, que não conseguem viver sem foie gras, sem ostras ou sem as chamadas ‘liberdades de género’. Não é, de todo, esse o problema.

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“Mas, repito, o problema é que muitas destas pessoas estão mentalmente lá, e não aqui, não com o nosso povo, não com a Rússia. Isso é, na opinião deles, um sinal de pertença a uma casta superior, a uma raça superior”, afirmou Putin. “Estas pessoas estariam dispostas a vender a própria mãe só para poderem entrar nesta casta mais alta”, acrescentou. “Mas eles não percebem que esta chamada casta superior só precisa deles enquanto material dispensável para causar o máximo dano ao nosso povo.

No entender de Putin, “o Ocidente coletivo está a tentar dividir a nossa sociedade ao especular sobre perdas militares ou sobre as consequências socioeconómicas das sanções, para provocar confrontos civis na Rússia”. Com a ajuda dos tais “traidores”, o Ocidente busca “a destruição da Rússia”, insistiu Putin, apelando à purificação do país.

Após o discurso, a polícia russa anunciou os primeiros casos criminais sob uma nova lei que permite penas de prisão até 15 anos pela disseminação intencional daquilo que a Rússia considera ser informação falsa sobre a guerra na Ucrânia.

Entre os acusados está Veronika Belotserkovskaya, autora de livros de culinária em russo que mora no estrangeiro.

As autoridades russas têm denunciado várias vezes relatos de reveses militares russos ou mortes de civis na Ucrânia como “informação falsa” e os meios de comunicação estatais referem-se à invasão da Ucrânia pela Rússia como uma “operação militar especial” em vez de uma “guerra” ou “invasão”.

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