Mikhail Mizintsev chegou ao conflito na Ucrânia com experiência de destruição: há seis anos terá sido responsável por orquestrar os bombardeamentos russos na Síria, que dizimaram Aleppo. E no conflito europeu, não demorou muito para ganhar a alcunha de “carniceiro de Mariupol”.

Agora, o governo do Reino Unido decidiu adicioná-lo à lista de sanções contra indivíduos russos, dizendo que o chefe do Controlo Central e Comando de Defesa Nacional, onde todas as operações militares russas são planeadas, usou “táticas condenáveis, incluindo o bombardeamento de centros de civis, tanto em Aleppo 2015-2016 como agora em Mariupol”. Na Síria, as forças russas usaram bombas de fragmentação e armas químicas contra alvos civis, resultando na morte de 1.700 pessoas.

Mas quem é este coronel-general? Mizintsev tem 59 anos e tem-lhe sido atribuída a responsabilidade pelos vários ataques que fustigaram a cidade portuária, incluindo a hospitais, escolas e, em particular, a um teatro que servia como abrigo de civis e onde estavam muitas crianças. O edifício estava assinalado como tal, tendo inclusive a palavra “crianças” escrita no exterior, em russo. Cerca de 300 pessoas terão morrido na sequência deste bombardeamento.

Ataque ao teatro de Mariupol terá feito 300 mortos, anuncia o município

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Terá sido também Mizintsev o responsável pelo bombardeamento da maternidade de um hospital pediátrico, um dos ataques que mais choque causaram desde que a guerra começou — tinha crianças e mulheres em trabalho de parto, e pelo menos três pessoas morreram.

Bombardeamento em maternidade de Mariupol faz três mortos, incluindo uma criança. Há mulheres em trabalho de parto nos escombros

Apesar de várias cidades ucranianas serem alvo de ataques e violentos confrontos, em Mariupol a situação atinge dimensões de verdadeira crise humanitária, com milhares de civis impedidos de sair porque, durante muito tempo, os cessar-fogo anunciados não foram cumpridos. Só recentemente é que foi possível estabelecer corredores humanitários que estão a permitir a saída organizada da população e entrada de ajuda humanitária.

Porque é que a orelha dele ainda não foi cortada?

Mizintsev, que foi o rosto de alguns comunicados à imprensa, chegou a apelidar os ucranianos de “bandidos” e “neo-nazis”. Não demorou muito até ser acusado de crimes de guerra pelos ucranianos. “Lembrem-se dele. Este é Mikhail Mizintsev. Está a liderar o cerco a Mariupol. Foi ele que ordenou o bombardeamento do hospital pediátrico, ao teatro, etc. Tem enorme experiência a destruir cidades na Síria. Vamos garantir que chega a Haia”, escreveu no Twitter a chefe do Centro para as Liberdades Civis da Ucrânia, Oleksandra Matviichuk, no dia 23 de março.

Matviichuk não foi a única a apontar o dedo a Mizintsev. O porta-voz do exército em Odesa, Sergei Bratchuk, garantiu que o coronel foi pessoalmente responsável pelo cerco a Mariupol. “Ordenou o bombardeamento da maternidade do hospital pediátrico, do teatro, das casas de civis”, escreveu no Facebook.

O jornal The Independent diz que a reputação de crueldade de Mizintsev é de tal ordem que abrange também a forma como trata os próprios soldados russos. De acordo com uma chamada telefónica intercetada, tornada pública pelo governo ucraniano, o coronel ameaçou agredir um jovem soldado que não estava a usar o uniforme de forma adequada, incluindo cortar-lhe uma orelha.

O telefonema começa com insultos: “Olhem para aquele traste ali, a franzir o sobrolho com os seus olhos bovinos, a mostrar-me a sua cara infeliz. Porque é que ele ainda está no exército? E porque é que eu tenho de perder o meu tempo com esta escumalha?” É então que se seguem as ameaças: “Se és chefe de uma unidade, assume as tuas responsabilidades. Porque é que ainda não lhe deram cabo da cara? Porque é que a orelha dele ainda não foi cortada? Porque é que ele não está a coxear, por esta altura?”