O presidente do PSD, Rui Rio, recusou nesta segunda-feira tomar posição relativamente à proposta de inquérito parlamentar sobre o acolhimento de refugiados ucranianos em Setúbal por ter sido feita por um candidato à sua sucessão, Luís Montenegro.

“Eu até podia ter uma posição pública sobre isso, mas, a partir do momento que há um candidato do PSD que faz uma proposta concreta, eu acho que pura e simplesmente não a devo comentar. Mal fora se eu, como presidente do PSD, fosse comentar agora propostas que os candidatos ao meu lugar têm livremente vindo a fazer. Portanto, não vou comentar, por essa razão”, declarou Rui Rio, em resposta aos jornalistas, no Palácio de Belém, em Lisboa.

Quanto ao polémico envolvimento de russos no processo de acolhimento de refugiados ucranianos em Setúbal, Rui Rio referiu que na reunião de terça-feira da Comissão Política Nacional do PSD serão ouvidas as pessoas do partido “mais diretamente envolvidas” e os “protagonistas mais diretos” nesta autarquia, para se adotar “uma posição conjunta” sobre esta matéria.

O presidente do PSD defendeu, contudo, que “o tratamento dos refugiados e a forma como são questionados, que é também o que está em causa, e por quem são questionados é um problema de ordem nacional, não é um problema de ordem concelho“, embora tenha “uma componente local”.

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Interrogado se o primeiro-ministro, António Costa, deve ser ouvido no parlamento, Rui Rio respondeu: “Eu acho que poderemos não ter de ouvir o primeiro-ministro, se até lá as diversas audições clarificarem a situação. Se assim não for, acabará provavelmente com uma sessão no plenário, não numa comissão, no plenário, ouvindo o primeiro-ministro — desde que, lá está, o PS, que hoje tem maioria absoluta, permita que assim seja”.

“Não gosto de exagerar. Portanto, eu acho que as audições devem ser feitas. Vamos colhendo informação. Se, no limite, se viesse a verificar isso [que recebeu dados dos serviços de informações sobre esta matéria e não lhes deu seguimento], obviamente que era grave”, ressalvou.

Rui Rio acrescentou que “os serviços de informação existem para alguma coisa, para informar os detentores de cargos políticos, e eles por sua vez têm de atuar em função das informações que lhe dão”, e reiterou que, “portanto, se lhe tinham dado informação e nada tinha sido feito, obviamente que é grave”.

Questionado uma vez mais se os vereadores do PSD em Setúbal se devem demitir para fazer cair o executivo camarário, disse que tem “uma opinião clara sobre isso”, mas que não quer partilhá-la publicamente: “Direi na Comissão Política Nacional, ouviremos os outros e depois, no fim, teremos uma posição conjunta”.

Presidente do PSD desde janeiro de 2018, Rui Rio vai deixar daqui a menos de um mês a liderança deste partido, decisão que tomou na sequência da derrota nas legislativas de 30 de janeiro, que o PS venceu com maioria absoluta.

O seu sucessor será eleito em diretas pelos militantes em 28 de maio, às quais já se apresentaram como candidatos Luís Montenegro e Jorge Moreira da Silva. O Congresso do PSD está marcado para entre 1 e 3 de julho, no Porto.

No domingo, em declarações à agência Lusa, Luís Montenegro desafiou “a oposição parlamentar” a avaliar a constituição de uma comissão de inquérito parlamentar ao envolvimento de russos com alegadas ligações ao regime de Vladimir Putin no processo de acolhimento de refugiados ucranianos em Setúbal.

Por sua vez, Jorge Moreira da Silva defendeu que o primeiro-ministro tem de dar explicações de imediato sobre o Governo sabia sobre este assunto e o que fez com essas informações. Quanto a uma comissão de inquérito, considerou não ser adequada à urgência deste caso.

Rui Rio prestou declarações no Palácio de Belém após uma reunião com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que está nesta segunda-feira a receber os partidos com assento parlamentar.

Segundo o presidente do PSD, o tema desta audiência foi Orçamento do Estado para 2022, que está em discussão na especialidade. Rio repetiu as críticas que tem dirigido à proposta do Governo insistindo que marca claramente uma quebra das promessas que o PS fez de aumentos salariais e que, à conta da inflação, institui “austeridade”.

A Federação Russa lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia com invasão por forças terrestres e bombardeamentos.

Em 29 de abril, o jornal Expresso noticiou que refugiados ucranianos foram recebidos em Setúbal por russos ligados ao regime de Vladimir Putin.