Os impactos da escalada da inflação nos salários são já visíveis nos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) referentes ao primeiro trimestre do ano: a remuneração bruta total média caiu 2% face ao mesmo período do ano anterior, em termos reais (isto é, descontando a inflação).

Já se tivermos em conta o salário base ou a componente regular (por exemplo, prémios e diuturnidades), a queda dos salários foi superior, de 2,5%. “Em termos reais, tendo como referência a variação do Índice de Preços do Consumidor, a remuneração bruta total média diminuiu 2,0% e tanto a regular como a base diminuíram 2,5%. Estes resultados abrangem 4,3 milhões de postos de trabalho, correspondentes a beneficiários da Segurança Social e a subscritores da Caixa Geral de Aposentações”, indica o INE, num destaque sobre salários divulgado esta quinta-feira.

Para chegar a estes cálculos, o INE tem em consideração uma inflação de 4,3% no trimestre terminado em março, um valor que deverá subir nos próximos meses (aliás, em relação a abril, o instituto confirmou uma aceleração da inflação para 7,2%).

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Se não se tiver esse impacto em conta, ou seja, em termos nominais, a remuneração bruta total mensal média subiu 2,2% (para 1.258 euros), enquanto a remuneração brutal regular mensal média, que exclui os subsídios de férias e de Natal e é mais sazonal, aumentou 1,7% (para 1.127 euros) e a remuneração bruta base mensal média cresceu 1,6% (para 1.058 euros). Tirando o primeiro caso, em que a variação é igual à observada no final do último trimestre de 2021, nos dois outros casos o ritmo de crescimento foi inferior.

Grandes empresas viram salários recuar

Segundo os dados do INE, a remuneração total variou entre 816 euros nas atividades da “agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca” e 2.715 euros nas “atividades financeiras e de seguros”. Em relação a março de 2021, o maior aumento da remuneração total deu-se nas “atividades imobiliárias” (mais 6,4%), seguido da agricultura (5,8%).

Já as diminuições mais significativas foram nos “transportes e armazenagem” (menos 0,6%) e “eletricidade, gás, vapor, água quente e fria e ar frio” (menos 16,3%). Quanto a este último setor, o INE explica que a evolução se deve ao facto de, em fevereiro de 2021, se ter observado “um pico de remunerações não regulares (como o subsídio de férias) que não se observou em 2022”.

A dimensão da empresa também é um fator importante no nível dos salários, que varia entre 865 euros nas empresas com um a quatro trabalhadores e 1.515 euros nas que têm entre 250 e 499 funcionários. Mas foram as empresas mais pequenas que mais viram os salários subir (6,2%, o que compara com 4,8% nas que têm entre 5 e 9 funcionários). Já as grandes empresas (com 500 e mais trabalhadores) viram mesmo a remuneração total recuar 0,6%.

Na função pública, a subida em termos nominais foi menor (0,8% para 1.667 euros) do que no privado (3% para 1.173 euros). “As diferenças nos níveis remuneratórios médios entre o setor das AP [administrações públicas] e o setor privado refletem, entre outras, diferenças no tipo de trabalho realizado e nas qualificações dos trabalhadores que os integram. Com efeito, verifica-se que os trabalhadores do setor das AP têm, em média, níveis de escolaridade mais elevados”, nota o INE.