Passou por várias fases nos últimos anos, todas elas ligadas à moda. Entre criar uma marca de biquínis, trabalhar apenas como modelo ou lançar a sua própria etiqueta de roupa, acabou por vingar a terceira opção, a partir de um “porto seguro”, “casa” e “identidade” chamado litoral alentejano, onde nasceu e se fixou nos últimos tempos. “Vivi quatro anos em Lisboa mas rapidamente percebi que tinha que voltar para as minhas raízes, para o lugar que me faz feliz. Não me identifico com a vida da cidade, preciso do silêncio do tempo e da paz que Porto Covo me dá.”, descreve Dina Silva, de 31 anos, licenciada em Relações Públicas e Comunicação Empresarial, curso que nunca chegou a exercer.

Foi à distância das “grandes cidades onde tudo acontece” que decidiu lançar a Vanilla, uma marca de “roupa que distingue, que enaltece, mas que ao mesmo tempo é versátil e prática”, motivada pelo sonho de infância, pelo “marco de fazer 30 anos” e pela inspiradora figura da avó materna. “Apesar dos poucos recursos financeiros, investiu o pouco que tinha para comprar uma máquina de tricotar e durante anos criou e vestiu avós, pais e netos. Foi uma autodidata e faz-me acreditar que é possível concretizar os nossos sonhos.”. Ciente do peso de arriscar um negócio de raiz longe dos centros mais concorridos, Dina contou ainda com o apoio de amigos e família para fazer nascer e crescer a Vanilla. “Há muito investimento inicial, e eu tive que poupar muito e fazer muitas contas sozinha, sem sabermos qual será o real retorno, mas é um risco que quero correr e que vou continuar a investir até quando me fizer sentido.”. Além do mais, acrescenta, a parte dos biquínis e o papel de modelo continuam de pé, portanto tudo se complementa nesta aventura.

Cores quentes e suaves, como o clima alentejano. Modelos leves, fluídos, como o ar que se respira na aldeia. Da escolha dos tons aos tecidos, modelos e conceito, tudo “respira Alentejo”, sublinha, com a pequena equipa da Vanilla a fazer-se de gentes, produtos e talentos locais, e com o vínculo de proximidade a afirmar-se como um dos pontos fortes do projeto. Depois, junte-lhe o ritmo bastante mais brando que o de uma urbe acelerada e as vantagens que essa gestão das horas comporta. “Pensem comigo: eu não apanho trânsito de uma hora, eu não chego atrasada a lado nenhum, eu não preciso de carro para a maior parte das minhas deslocações”. Relógio no pulso, só se o look assim o exigir, ri-se, e nada de internet ligada na hora de ir para a cama. O dia pode muito bem começar às 6h30 e incluir meditação, treino, e um pequeno-almoço digno da pausa de fim de semana. “Consigo ter uma vida no meu dia a dia que muitas pessoas só conseguem ter durante as férias, isto é um luxo”.

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A primeira coleção da Vanilla, que reflete esse tempo distendido, é composta por vestidos, saias e tops, criados a partir de dois tipos de fibra, algodão e tencel, com os preços a oscilar entre os 55 e os 130 euros. Todo o processo de criação é pensado, criado e desenhado por Dina, com a produção e conceção da marca totalmente asseguradas em Portugal, depois de um périplo pelas fábricas do norte do país em busca de tecidos e outras soluções, materializadas localmente. “Cada peça é costurada eticamente num pequeno atelier no Litoral Alentejano. Ser uma marca justa, humana e envolvida é um dos nossos princípios. Privilegiamos um consumo consciente e temos uma política de zero desperdício com uma produção de peças limitadas aos tecidos existentes.”, com o reduzido impacto a estender-se ao embalamento.

Quanto à premissa, assenta em três pilares: “exclusividade, design e qualidade”. O foco, explica, é desenvolver peças confortáveis, atemporais, femininas e sustentáveis; simples mas com detalhes pensados ao “ínfimo pormenor”. A versatilidade é outra das prioridades na confeção, dirigida a mulheres “cada vez mais conscientes das suas escolhas”. Mulheres que gostam de estar bem em qualquer ocasião, com peças  confortáveis e com qualidade, mas que não descuram preocupações extra, como o ambiente. “As mulheres Vanilla sabem o que querem e exigem-no, e nós respondemos a essas exigências.”

Ainda a dedicar-se ao projeto em regime de part time, um dos objetivos é estar a tempo inteiro de volta da Vanilla. Aumentar a visibilidade e notoriedade da marca e crescer no mercado nacional são outras das metas a curto prazo, através de pontos de venda e participação em mercados. Sobre os eventuais aspetos mais desafiantes associados a um negócio cultivado numa pequena localidade, Dina simplifica: “Pontos fracos? O e-commerce salvou o ponto fraco”.

100% português é uma rubrica dedicada a marcas nacionais que achamos que tem de conhecer.