“Futuro Presidente da Colômbia e empresário, velho, mas gostoso”. É assim que Rodolfo Hernández, candidato às eleições presidenciais colombianas se apresenta no TikTok, ferramenta que utiliza para chegar aos cidadãos e onde conta com 557 mil seguidores.

A campanha do milionário nas redes sociais teve um sucesso inesperado junto dos eleitores e ajudou a garantir a sua presença na segunda volta das eleições. No dia 19 de junho, vai defrontar Gustavo Petro, que ganhou a primeira volta por uma larga margem, conquistando 40,33% dos votos.

Gustavo Petro vence 1.ª volta das presidenciais na Colômbia

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Rodolfo Hernández, de 77 anos, tem sido a surpresa destas presidenciais. Quando a campanha começou o empresário era pouco conhecido fora de Bucaramanga, onde foi autarca entre 2016 e 2019. Se inicialmente as sondagens lhe davam poucas hipóteses, a verdade é que o candidato conseguiu dar a volta à situação. Na primeira ida às urnas, Hernández conseguiu 28,14% dos votos, ultrapassando Federico Gutiérrez (23,90%), considerado o principal adversário de Petro.

De governador em Bucaramanga a “Trump” colombiano, como é que Hernández se tornou uma estrela do TikTok?

Foi na construção civil que Rodolfo Hernández começou a construir a sua riqueza, na década de 1990. O engenheiro só se envolveu na política em 2015, ao ganhar as eleições para governador de Bucaramanga. Durante o seu mandato abdicou do salário porque, segundo o próprio, já era rico – e planeia fazer o mesmo se for eleito Presidente.

Hernández é conhecido como o candidato antisistema e a sua campanha eleitoral está longe de ser tradicional. O El Mundo relata que preferiu não fazer alianças com outros partidos políticos, além de ter decidido não receber doações para financiar a campanha, que pagou do próprio bolso. Enquanto os restantes candidatos discutiam programas de governo em debates ou se dedicavam a comícios de rua, o milionário preferiu usar aquela que revelou ser a arma mais preciosa: o TikTok.

As mensagens simples e curtas nas redes sociais fazem parte da sua estratégia para chegar aos colombianos e parecem estar a dar resultado. Os seus seguidores estão a aumentar e a página de TikTok já conta com mais de quatro milhões de likes.

Conhecido entre os oponentes como um populista de direita, Hernández foi batizado pela impresa local como o “Trump colombiano”, pelas afirmações por vezes excêntricas e escandalosas.

Segundo a BBC, um fator que contribuiu para que ganhasse a simpatia da população foi uma rara aparição televisiva em que falou sobre a filha, raptada em 2004. Juliana Hernández tinha 23 anos quando foi levada pelo Exército de Libertação Nacional (ELN), uma das forças rebeldes do país. Casado e pai de quatro filhos, o milionário decidiu não pagar o resgate pedido, que diz ter sido de dois milhões, para não pôr em risco os outros membros da família. A estudante de direito nunca foi encontrada e pensa-se que estará morta. Apesar de tudo, o candidato afirma que, se for eleito, está disposto a incluir a ELN num acordo de paz com o governo colombiano, algo que falhou em tentativas de negociação passadas.

As acusações de corrupção, a agressão a um deputado e a admiração por Adolf Hitler

“Estamos a fazer história”, escreveu Hernández no Instagram em reação aos resultados da primeira volta das presidenciais.

 Hoje perdeu o país da politiquice e da corrupção. Hoje perderam aqueles que acreditavam ficar no governo eternamente. Hoje ganhou a cidadania, ganhou a Colômbia” defendeu na mesma rede social.

Combater a corrupção foi a bandeira do empresário durante toda a campanha eleitoral, uma ideia forte num país muito marcado pelos seus efeitos. No entanto, é o único candidato com um processo em curso precisamente por corrupção. Decorre atualmente uma investigação por alegadamente ter favorecido, quando ainda era governador, uma empresa a que o filho estava ligado. Segundo o G1, num levantamento de 2019, Hernández tinha 34 processos em aberto. O julgamento está marcado para julho, mas o milionário nega todas as acusações.

O tempo como governador de Bucaramanga foi também marcado pelo seu afastamento do cargo durante três meses e o pagamento de uma multa de cerca de 22 mil euros por  agressões a um vereador. O caso remonta a 2018, quando Hernández deu uma estalada a Jhon Claro, em frente às câmaras, considerando que este se comportava como numa “ditadura”. Apesar do mandato atribulado, Hernández saiu do cargo com 84% de popularidade, como refere o G1.

A candidatura às presidenciais trouxe de volta um outro episódio, de 2016, no qual, em entrevista à rádio RCN, Hernández se assumiu como “grande admirador de um pensador alemão”: Adolf Hitler. Queria, afinal, referir-se ao físico Albert Einstein, um “grande erro” da sua parte, garantiu já em 2021.

Apesar das polémicas que o rodeiam, Hernández já sonha com a eleição. Com a diminuição dos gastos públicos em mente, o candidato visiona uma cerimónia de posse simples, numa pequena cidade, apenas com a presença da família. Carros oficiais e conselheiros só os essenciais e salário nem ver.