Pelo menos 352 deslocados devido a novos ataques no norte de Moçambique, contra pontos recônditos do distrito de Ancuabe foram acolhidas na Escola Completa Salaué, na comunidade de Silva Macua, em Cabo Delgado, informou nesta quinta-feira a Helpo.

Todos referiam ter fome e foram atendidos nas suas necessidades, ao mesmo tempo que a comunidade estuda soluções de apoio mais duradouras, uma vez que a escola terá que seguir o seu funcionamento normal”, refere uma nota da organização não-governamental (ONG) portuguesa distribuída a quem a apoia.

Os ataques contra áreas recônditas do distrito de Ancuabe, onde raramente houve relatos de violência associada à insurgência, começaram no domingo, tendo provocado a morte de pelo menos quatro pessoas, segundo avançou à Lusa fonte da milícia local, além de centenas de deslocados e a destruição de várias casas (todas de construção tradicional).

O primeiro ataque foi registado no domingo na aldeia Nanduli, situada a cerca de 30 quilómetros da comunidade de Silva Macua, onde a Helpo trabalha desde 2009.

“As autoridades referem que a situação em Silva Macua está controlada, mas isso não impede que as famílias se desloquem para locais que sintam ser mais seguros. Por este motivo, acreditamos que o retorno às aulas depois de dois anos de grande disrupção devido à pandemia provocada pela Covid-19 está parcialmente comprometido“, acrescenta a organização, que lembra que o encerramento da instituição devido ao coronavírus provocou a desistência de 10% dos alunos em instituições apoiadas pela ONG em Moçambique.

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“Este episódio vem recordar-nos que, embora com menor mediatismo, o conflito armado no norte de Moçambique não findou e a profunda crise de deslocados e suas consequências continuam a merecer-nos atenção“, refere a Helpo.

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

Há 784 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.

Desde julho de 2021, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu recuperar zonas onde havia presença de rebeldes, mas a fuga destes tem provocado novos ataques noutros distritos usados como passagem ou refúgio temporário.