793kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Risco de incêndio é maior do que em 2017. Os gráficos que mostram a situação "explosiva" em que Portugal se encontra

Este artigo tem mais de 1 ano

O climatologista Carlos da Câmara, especialista na análise de risco de incêndio, explica ao Observador que a situação atual em Portugal é inédita e "explosiva" — e mostra os gráficos que o comprovam.

O ano de 2017 continua cravado na memória coletiva dos portugueses. Entre o fogo de Pedrógão Grande e os incêndios de outubro, morreram mais de 100 pessoas
i

O ano de 2017 continua cravado na memória coletiva dos portugueses. Entre o fogo de Pedrógão Grande e os incêndios de outubro, morreram mais de 100 pessoas

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

O ano de 2017 continua cravado na memória coletiva dos portugueses. Entre o fogo de Pedrógão Grande e os incêndios de outubro, morreram mais de 100 pessoas

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Portugal encontra-se por estes dias numa situação “explosiva” no que toca ao risco de incêndios florestais, com indicadores meteorológicos inéditos desde que há registos. Trata-se de uma situação mais grave e mais preocupante do que aquela que se vivia em 2017 — ano que continua cravado na memória coletiva dos portugueses devido aos incêndios de junho, em Pedrógão Grande, e de outubro, que no total causaram a morte a mais de uma centena de pessoas.

A análise é feita ao Observador pelo climatologista Carlos da Câmara, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, especialista em análise do risco de incêndios e um dos cientistas por trás do Ceasefire, uma inovadora ferramenta de análise e previsão de índices de risco de incêndio florestal em Portugal. Carlos da Câmara partilhou com o Observador um conjunto de gráficos que ajudam a ilustrar como o risco de incêndio em Portugal é hoje maior do que alguma vez foi desde que há registos.

Afinal, o que aconteceu na meteorologia portuguesa em 2017 e o que está a acontecer agora? Como podemos comparar o atual risco de incêndio com a situação de há cinco anos?

2017, o ano das muitas anomalias climáticas

Carlos da Câmara explica que para analisar a situação dramática que se viveu em 2017 é necessário distinguir o que se passou em 17 de junho e em 15 de outubro desse ano.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

No dia 17 de junho, em que deflagrou o incêndio de Pedrógão Grande, que causou pelo menos 64 mortos, mais de 250 feridos e cerca de 500 milhões de euros de prejuízos, “o que houve foi uma instabilidade atmosférica extrema, que levou a que duas ignições — que tiveram origem em cabos elétricos que tocaram no cume de umas árvores — eventualmente deflagrassem com uma rapidez extrema e que, por causa disso, originaram dois fogos de enormes proporções que acabaram por se juntar”.

O incêndio de Pedrógão Grande causou a morte a dezenas de pessoas

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

No caso do dia 15 de outubro, a situação foi mais interessante do ponto de vista da análise científica, explica Carlos da Câmara, salientando que os incêndios daqueles dias, que afetaram vários pontos da região Centro e causaram 49 mortes, resultaram da “conjunção de várias exceções“.

Em primeiro lugar, 2017 foi um ano de “seca enorme que se prolongou durante um verão muito severo”, o que significa que Portugal chegou a outubro com “a vegetação com índices de secura nunca vistos até à altura”. Em segundo lugar, a passagem do furacão Ophelia pela costa portuguesa “levou a ventos de sul extremamente intensos”, um ingrediente central na receita para o desastre. Em terceiro lugar, neste cenário de condições perfeitas para a propagação dos fogos, naqueles dias houve um “aumento nunca visto do número de ignições”, que se explica essencialmente por fatores humanos: “Sabia-se que depois vinha a chuva e que, por isso, era a última hipótese para algumas atividades agrícolas.”

Estas “três coisas anómalas levaram a que Portugal ardesse de forma anómala, nunca vista“.

E este ano, o que se está a passar?

De acordo com Carlos da Câmara, há hoje mais condições para a ocorrência de grandes incêndios em Portugal continental do que em 2017.

Novamente, repete-se o padrão da seca, que nos últimos meses afetou Portugal de modo particularmente grave e obrigou o Governo a adotar medidas excecionais de resposta à falta de água. Além dos impactos óbvios na agricultura e na economia, a seca reflete-se com grande intensidade na vegetação. “Temos, neste momento, a vegetação com índices de stress nunca vistos“, diz Carlos da Câmara.

Em segundo lugar, as condições meteorológicas criam neste momento um contexto de grande perigo para a ocorrência de incêndios. “As temperaturas estão elevadíssimas, os níveis de humidade do ar estão extremamente baixos e os ventos extremamente fortes”, explica. “Ainda acresce que durante a noite têm estado ventos de leste e temperaturas acima dos 25ºC”, avisa o climatologista, sublinhando que esta realidade ameaça a “janela de oportunidade para combater incêndios” que ocorre durante a noite, quando a humidade noturna ajuda no combate às chamas.

“Os fogos que já começaram, os bombeiros não conseguem dar cabo deles à noite”, resume.

Isto significa que se verificam dois dos três lados do fenómeno a que os cientistas chamam o “triângulo do fogo” — o combustível e o comburente. Falta o terceiro lado: a ignição. “Para poder resultar numa situação catastrófica, faltam as ignições. E é isso que podemos controlar”, diz Carlos da Câmara. “Neste caso, não pode ser só uma diminuição das ignições. Tem de ser tolerância zero. Basta haver uma, duas ou três e está o caldo entornado. Todos os indicadores que tenho indicam que a situação está explosiva. A única hipótese é evitar as ignições, é evitar carregar no botão para explodir.”

Números nunca antes vistos

“No que respeita ao stress da vegetação e à predisposição para grandes incêndios, nunca vi nada parecido“, diz Carlos da Câmara, que há várias décadas estuda o risco de incêndios em Portugal. “Quando se diz é excecional, é mesmo excecional”, acrescenta, partilhando com o Observador dois gráficos produzidos com a ferramenta Ceasefire que, diz o cientista, ilustram perfeitamente a situação atual no país.

O primeiro gráfico mostra “a evolução entre os dias 1 e 15 de julho do índice de perigosidade meteorológica de incêndio”, segundo explica o climatologista. A curva a preto corresponde à evolução deste índice em 2022 (dados registados até dia 9 e projeção até dia 15).

As restantes linhas mostram o histórico dos registos que existem entre 1980 e 2021 — os diferentes percentis e, especialmente, a vermelho, os valores máximos registados em cada dia. Como é possível ver pela linha preta, a projeção é bastante clara: os cientistas estimam que a partir deste domingo os valores deste índice excedam os máximos históricos (com picos preocupantes previstos para as próximas terça, quarta e quinta-feiras). Este gráfico diz respeito a uma região que inclui o sul da costa alentejana e o sotavento algarvio — região que Carlos da Câmara diz ser representativa do estado da generalidade do país.

Projeções colocam a perigosidade meteorológica de incêndio em máximos históricos a partir de terça-feira

O segundo gráfico é ainda mais esclarecedor e mostra “a evolução desde 1 de junho até hoje de um índice que dá a predisposição de uma região para haver grandes incêndios”. Neste caso, o gráfico respeita ao nordeste transmontano, mas também aqui se trata de uma figura representativa da realidade do território nacional.

A azul surge a curva relativa a este ano, bastante acima da curva de 2017, que surge a violeta. Também no gráfico estão as curvas dos quatro anos com mais incêndios na região (a vermelho) e aquelas dos anos com menos incêndios (a verde). A cinza, é possível ver as curvas de todos os outros anos entre a década de 1980 e hoje. A conclusão é clara: neste momento, este indicador já está em máximos históricos.

Predisposição para grandes incêndios está em máximos históricos

Carlos da Câmara dá ainda um dado adicional que mostra como este ano o potencial de incêndios em Portugal está realmente acima de toda a realidade passada: os incêndios estão a desenvolver-se com uma rapidez muito maior.

O climatologista afirma-o com base nos dados recolhidos pela ferramenta Ceasefire, que cruza várias fontes de informação para detetar a localização dos incêndios, incluindo a informação oficial da Proteção Civil e também os dados recolhidos através de satélites — que os académicos Carlos da Câmara e Sílvia Nunes, da FCUL, têm monitorizado permanentemente.

“Um fogo, para ser detetado por satélite, tem de ter uma energia razoável. Por isso, nos outros anos, primeiro aparecia nos nossos mapas o alerta da Proteção Civil e só depois aparecia o nosso alerta por satélite. Agora, primeiro aparecem os fogos detetados por satélite e só depois os alertas da Proteção Civil“, diz o cientista.

“Isto significa que o fogo está a desenvolver-se mais rapidamente do que o habitual”, remata.

Assine o Observador a partir de 0,18€/ dia

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Vivemos tempos interessantes e importantes

Se 1% dos nossos leitores assinasse o Observador, conseguiríamos aumentar ainda mais o nosso investimento no escrutínio dos poderes públicos e na capacidade de explicarmos todas as crises – as nacionais e as internacionais. Hoje como nunca é essencial apoiar o jornalismo independente para estar bem informado. Torne-se assinante a partir de 0,18€/ dia.

Ver planos