Na antecâmara do Campeonato da Europa, num jogo de preparação, Inglaterra goleou os Países Baixos. Beth Mead marcou dois dos cinco golos, chegando a um total de 14 pela seleção inglesa em 2021/22 — um registo que é muito mais do que um simples número. Com 14 golos pelas inglesas numa única temporada, a avançada ultrapassou os 13 de Jimmy Greaves em 1960/61 e tornou-se a melhor marcadora pela seleção numa só época.

No Europeu, precisamente em Inglaterra, Beth Mead continua sem desiludir. A jogadora do Arsenal marcou o primeiro golo da competição, um extraordinário chapéu à guarda-redes Zinsberger que foi suficiente para vencer a Áustria na partida inaugural, e esta segunda-feira assinou um brutal hat-trick que ajudou a humilhar a Noruega. As inglesas golearam as norueguesas — onde se inclui Ada Hegerberg, antiga Bola de Ouro e hexacampeã europeia com o Lyon — por 8-0, garantiram o apuramento para os quartos de final e os três golos de Mead foram obviamente meio caminho andado para atingir o improvável resultado.

“Nem queríamos sair do balneário. Estávamos a cantar e precisamos de aproveitar estes momentos. A partir de amanhã voltamos ao foco total mas agora precisamos de aproveitar estes momentos. Ser a melhor marcadora do Europeu? Seria um bom bónus. Claro que adorava. Mas já fico feliz se voltar a marcar, simplesmente. Adoro jogar por esta equipa, por isso, fico feliz por conseguir ajudar, seja de que maneira for”, disse a inglesa de 27 anos depois da partida, ela que já leva 29 golos nas últimas 16 internacionalizações e que é agora a segunda melhor marcadora inglesa em Europeus, estando a apenas um golo dos cinco da recordista Jodie Taylor.

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A exibição de Beth Mead valeu-lhe um claro 10 na escala de avaliação do jornal The Guardian, algo muito raro, e tornou-a ainda mais um dos nomes a ter em conta no Europeu que está a decorrer desde a semana passada em Inglaterra. Nascida em maio de 1995 em Whitby, uma cidade portuária no norte inglês, cresceu em Hinderwell e foi parar ao futebol pelos mesmos motivos que tantos outros: para gastar a energia em excesso.

Beth tirou o chapéu em Old Trafford: foi bonita a festa, pá! (a crónica do jogo de abertura do Europeu feminino)

“Tinha muita energia quando era criança. A minha mãe queria que a gastasse, então, decidiu levar-me a um treino que acontecia num campo em Hinderwell, aos sábados de manhã, orientado por um rapaz que era voluntário. Apareci lá e ele disse à minha mãe que eu podia ficar mas que ia ser a única rapariga e que os rapazes podiam ser um pouco brutos, perguntou se eu ficava bem. A minha mãe disse que sim… Mas acho que foi só porque queria mesmo ver-se livre de mim. Quando ela voltou, uma hora depois, ele disse-lhe que eu era mais bruta que a maioria dos rapazes. Acabou por dizer que tinha talento e que tínhamos de procurar outro sítio qualquer para poder jogar com outras raparigas”, recordou a jogadora numa entrevista ao site da Federação inglesa.

Depois de um curto período no local California Girls FC, chegou à formação do Middlesbrough aos 10 anos e aos 16 já estava a saltar para o Sunderland, que atuava no segundo escalão feminino do país. Entre a chegada à equipa principal, a profissionalização e a promoção à Premier League, terminou a licenciatura em Desenvolvimento Desportivo e ainda apanhou um susto, sofrendo um violento acidente de viação em que capotou três vezes quando tentou desviar-se de um veado.

Em janeiro de 2017, depois de épocas consecutivas ao mais alto nível no Sunderland, assinou pelo Arsenal e iniciou uma parceria de luxo com a neerlandesa Vivianne Miedema. Conquistou a Taça da Liga em 2017/18, foi campeã inglesa na temporada seguinte e tornou-se naturalmente um dos elementos mais importantes dos gunners.

“Digo muitas vezes que se adoras e tiras prazer daquilo que fazes então podes acordar todas as manhãs sem pensar que tens de ir trabalhar. Bem, isso sou eu todos os dias! Nunca sinto que vou trabalhar. Sinto o mesmo que sentia todos os dias quando ia para o parque jogar à bola com os meus amigos. Por isso, para todos os jovens jogadores e jogadoras: tirem prazer do vosso futebol e estejam dispostos a trabalhar muito. O jogo está a tornar-se maior e está a ficar mais difícil ter sucesso. Mas, se estiverem dispostos a trabalhar, no fim vai tudo compensar”, referiu a avançada na mesma entrevista aos canais da Federação. E Beth Mead, pelo menos pela reação ao hat-trick de Ian Wright, antiga estrela do Arsenal, tem conseguido contagiar todos os outros com esse entusiasmo que ela própria sente quando entra em campo.