Uma sucessão de demissões, a culminar com a saída de vários altos cargos, com um propósito: fazer uma “autopurificação” na Ucrânia. Este domingo, na sequência dos decretos presidenciais que determinaram as demissões do Chefe do Serviço de Segurança interna e da procuradora-geral da Ucrânia, Volodymyr Zelensky deu mais detalhes sobre os processos que estão a ser iniciados contra “colaboracionistas” da Rússia ou suspeitos de “traição”.

Na declaração ao país desta noite, Zelensky revela que já foram abertos 651 procedimentos criminais por este tipo de suspeitas, em vários órgãos do Estado ucraniano. Em 198 desses casos, “pessoas relevantes” foram consideradas suspeitas e concluiu-se que mais de 60 funcionários do gabinete da procuradora e do Serviço de Segurança “continuaram em território ocupado e estão a trabalhar contra o Estado”, garante o Presidente ucraniano.

Estes crimes, prossegue, levantam “sérias questões” sobre as lideranças dos serviços, e cada uma delas terá “a correspondente resposta”, promete. É, de resto, assim que justifica as demissões da procuradora e do chefe do Serviço de Segurança.

Além disso, Zelensky fala mais pormenorizadamente do caso, conhecido ontem, da detenção por suspeitas de traição do responsável pelo Serviço de Segurança na região da Crimeia, que, acusa Zelensky, era “um criminoso a trabalhar para o inimigo”. Como o próprio Presidente recorda, Oleh Kulinich já tinha sido demitido por ele em março — “e como podemos ver, essa decisão está completamente justificada”, frisa.

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“Todas as atividades criminais dele estão documentadas. Todos os que com ele fizeram parte de um grupo de criminosos que trabalhava para os interesses da Rússia vão ser responsabilizados. Trata-se da transferência de informação secreta para o inimigo e outros factos relacionados com cooperação com os serviços especiais russos”, acusa.

Esta operação, garante, “pode verdadeiramente ser descrita como uma auto-purificação”.

Zelensky preocupado com órgãos anticorrupção

Depois, falta o passo seguinte: nomear responsáveis para alguns cargos relevantes — neste caso, e uma vez que são cargos em pastas relativas à luta contra a corrupção, ainda mais relevantes numa altura em que a Ucrânia conseguiu o estatuto formal de país candidato a membro da União Europeia e precisa de cumprir requisitos nessa área.

Nesta intervenção, Zelensky fala do “assunto extremamente sensível” que é nomear um novo líder para o gabinete da procuradoria especializado em anticorrupção, dizendo que é preciso indicar, tendo já decorrido o concurso, um responsável de “pleno direito”, já que sem ele o funcionamento em pleno do gabinete não é possível — um aviso que tem a ver com o tempo (mais de dois anos) que o gabinete está a demorar a encontrar um líder.

Além disso, acrescenta Zelensky, o mesmo deve ser aplicado ao Gabinete Nacional Anticorrupção, uma vez que o mandato anterior já terminou — o Presidente diz ter já dado ordens ao primeiro-ministro para “intensificar o processo” de lançar um concurso também neste caso. Apesar de elogiar o empenho dos funcionários nestas estruturas estatais, alerta: “O funcionamento em pleno de qualquer órgão do Estado só pode ser atingido quando existe um líder eficaz”.

A resposta a Medvedev e o outro dia do juízo final

Na intervenção deste domingo, Zelensky aproveita ainda para responder às polémicas declarações do ex-Presidente russo Dmitri Medvedev, que ameaçou as autoridades ucranianas com o “dia do juízo final”, que será “muito rápido e muito duro”, caso decidam atacar a região da Crimeia, anexada pela Rússia em 2014.

Medvedev ameaça Kiev com “dia do juízo final” em caso de ataque à Crimeia

Zelensky refere-se à “declaração pouco sóbria” de Medvedev como uma “intimidação cínica” no dia do aniversário da queda do Boeing da Malaysia Airlines em Donestk, em 2014, abatido por um míssil de origem russa. E diz que a Rússia, sim, será julgada pelo caminho de “estado terrorista” que decidiu seguir e esse será “o dia do juízo final” para o país de Vladimir Putin — “e não em sentido figurado, mas literalmente”.

No final da declaração, Zelensky volta ao princípio: argumenta que vai ser possível “apresentar todos os criminosos de guerra russos à justiça”, todos os “colaboracionistas” e todos os “responsáveis por terror”. E promete que isso vai ser feito.