Começou com o jovem liberiano Joseph Fahnbulleh, quinto classificado da final dos Jogos de Tóquio, a ter um triunfo tranquilo na eliminatória 1. Prosseguiu com Jereem Richards, tobaguenho que foi também à corrida decisiva em Tóquio e que se sagrou campeão mundial de Pista Coberta este ano em Belgrado nos 400 metros, a vencer também a eliminatória 2 à frente do canadiano Aaron Brown. Teve depois Erriyon Knighton, detentor da quarta melhor marca de sempre na distância apesar de ter ainda idade de júnior, a ganhar a eliminatória 3. Seguiu com uma surpresa vinda da Rep. Dominicana, Alexander Ogando, que bateu o recorde nacional e superou o também qualificado vice-campeão olímpico Kenneth Bednarek na eliminatória 4. Avançou com Fred Kerley, vencedor dos 100 metros que foi o melhor na eliminatória 5. Acabou com o primeiro registo abaixo dos 20 segundos de Noah Lyles na eliminatória 7.

Por norma, as provas do hectómetro são aquelas que mais atenções reúnem, como se viu no imponente 1-2-3 dos EUA no setor masculino e da Jamaica no feminino. No entanto, e sobretudo nos homens, as corridas dos 200 metros têm gerado cada vez mais interesse pela competitividade existente e pelo aparecimento de novos nomes que se superam em todas as competições internacionais. Os Mundiais de Eugene não são exceção e, mesmo perante a ausência por lesão do campeão olímpico, o canadiano Andre De Grasse, esta promete ser a distância que vai prender todas as atenções como se percebeu já nas eliminatórias.

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Se Fred Kerley já conseguiu consumar um autêntico “milagre” com a passagem de sucesso dos 400 para os 100 metros, os 200 metros têm como principal foco outros dois norte-americanos que prometem trazer a grande rivalidade que o atletismo nacional e mundial aguardavam. De um lado está Noah Lyles, campeão mundial em título de 25 anos que acabou com a medalha de bronze nos Jogos de Tóquio; do outro encontra-se Erriyon Knighton, o mais rápido na distância na última década apesar de ter apenas 18 anos. Como escreve o The Orange County Register, é algo que já se sente, que já se comenta e que já se enraizou pelo que se viu nas reações de ambos após a vitória de Lyles sobre Knighton nas qualificações dos EUA.

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Apesar de tudo isso, as eliminatórias realizadas esta madrugada (hora portuguesa) mostraram as versões mais descontraídas de ambos, com Erriyon Knighton a ser apanhado a entrar na banheira de gelo após a vitória na sua eliminatória entre as habituais manifestações iniciais de quem quer tudo menos aquilo e com Noah Lyles a começar a festa pela qualificação para as meias-finais ainda antes de terminar a corrida. Não ficaria por aí. E, em dia de aniversário, deixou uma mensagem forte através das redes sociais.

“Correr com pessoas no estádio traz uma vibe completamente diferente. Que mais não seja, torna tudo mais divertido. Consegui chegar aqui e sentir que era ‘eu’ como não sentia há anos”, confidenciou após o triunfo na eliminatória 7 com 19,98, recordando as competições que teve de fazer com as bancadas vazias devido à pandemia a começar desde logo pelos Jogos Olímpicos onde acabou na terceira posição.

“Hoje cheguei aos 25 anos! É uma marca que, para os afro-americanos, é um grande êxito. Neste momento da vida de um homem negro, ou nos prendem para a vida, ou nos matam por coisas relacionadas com os gangues ou nos matam apenas pela cor da nossa pele. Por isso, quando digo que fico feliz por ter chegado aos 25 anos, digo-o mesmo a sério”, escreveu nas redes sociais, depois de já ter marcado uma posição em relação aos problemas de racismo em agosto de 2020, após os episódios de George Floyd e Jakob Blake.

“Sou negro. Sei isso não pela minha cor de pele mas sim pela forma como sou tratado pelos demais. Não peço que sejam daltónicos, peço que não se surpreendam quando conseguir superar os estereótipos que a sociedade colocou em mim e que entendam que as pessoas usam esses estereótipos como algo que faz parte do quotidiano. É difícil dizer, como atleta, que o meu país é um grande país porque necessita de fazer uma mudança. Isto é uma forma de demonstrar que é um país fantástico mas pode ser melhor”, referiu em agosto de 2020, após uma celebração simbólica de punho fechado no ar no meeting do Mónaco.